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ENTREVISTA
A ERNESTO RODRIGUES (Versão Integral)
Dicotomia do Improvisador como Compositor/Intérprete
Cada vez mais constato que é importante que exista uma maior consciencialização
da composição em tempo real, no que diz respeito à
Composição propriamente dita. Com isto quero dizer que existem
alguns músicos, eventualmente mais fracos sob o ponto de vista
técnico ou virtuosístico, mas que têm uma excelente
orientação em tempo real no que ao material rítmico,
melódico ou harmónico diz respeito . É o caso de
alguns músicos da nova escola inglesa, não tão robustos
quanto isso, mas muitíssimo consistentes ou conscientes da composição
em tempo real. Parece que isso se está a tornar num atributo cada
vez mais valorizado pela Nova Improvisação. Para mim, compor
ou improvisar, são dois actos que se complementam. São dois
métodos para se chegar ao mesmo fim. Ou se utiliza um ou outro,
é-me indiferente. Conheço músicos/compositores fabulosos
tanto de um lado como do outro. Eu, por exemplo, tenho propensão
para fazer as duas coisas e por isso não consigo valorizar uma
em detrimento da outra.
Percurso
Compositivo
Algumas das minhas peças foram totalmente escritas à mão,
depois passadas para o computador. Também faço improvisação,
que é um outro modo de compor. Podemos ter n métodos. Por
exemplo, tanto podemos improvisar com notas, como gestualmente num teclado
ou em qualquer outro suporte (até na partitura). Apesar de vir
dessa tradição, cada vez menos estruturo a improvisação.
Num passado recente era costume estruturar a improvisação,
mas hoje em dia é-o cada vez menos. Actualmente, o que é
mais comum, é receber um japonês, um alemão, ou um
americano, sem nunca o ter visto antes e passa-se imediatamente a tocar.
Nem sequer se conversa ou combina algo, visto cada um destes indivíduos
ter um glossário próprio, único. E é sobretudo
isso que se valoriza neste meio. Pelo menos assim o entendo. Muitas vezes,
só após o concerto se discutem ideias “musicais”
pela primeira vez. Curiosamente, é essa a linha de improvisação
que mais me interessa.
Não me estimula fazer o que já foi feito ou digerido. É
como se me pedissem para pintar um quadro à Van Gogh. Isso não
faz qualquer sentido. Penso que o Van Gogh é um dos maiores, sem
dúvida, mas vamos deixar o homem morto e em paz. Ele cumpriu (e
bem) a sua função, foi um vanguardista e uma figura única
na sua época. A evolução estética na pintura
é a mesma que na música ou em qualquer outra arte. Hoje
em dia requer-se outro tipo de atributos. Nós já passámos
por muita coisa. Vieram os surrealistas, os suprematistas, os monocromáticos,
etc, etc, etc. Tudo isso tem uma relação com a música
também, porque as coisas estão todas interligadas. Leia-se
a título de exemplo, a estreitra relação entre a
pintura de Mark Rothko e a música de Morton Feldman… o espaço,
a plenitude, a clarividente economia de elementos, enfim, uma visão
da música perfeitamente consentânea com o seu tempo.
A minha primeira peça foi toda escrita, mas o que se ouve é
uma peça electrónica. Tenho outras que foram totalmente
tocadas e outras ainda que foram primeiro tocadas e posteriormente passei
a eliminar ou a aproveitar alguns dos seus elementos. Isso é também
um trabalho de composição como qualquer outro. Até
hoje, nenhum dos meus discos foi editado (entenda-se cortado). Os três
primeiros, contêm sessões completas de estúdio, os
últimos já não, porque hoje em dia (dentro da Nova
Improvisação) já é um pouco “pesado”
fazer discos de 70 minutos. Nós costumamos estar cerca de uma hora,
70 ou 80 minutos no estúdio, e escolhemos o melhor, na eventualidade
de alguma coisa não correr bem. Mas normalmente corria sempre tudo
bem e conseguia aproveitar-se tudo. Por exemplo, o meu último disco
só tem 37 minutos e 40 segundos, e acho que não falta lá
nada. Não acho que seja curto nem comprido. Sinto que está
equilibrado. Cada peça tem a sua respiração propria.
À primeira vista, a Música Contemporânea escrita e
a Improvisação poderão não ter qualquer relação
entre si. Mas eu acho que é possível haver uma contaminação
entre esses dois mundos. Não tem nenhum mal, pelo contrário,
só vem enriquecer o léxico e os seus universos. Às
vezes eu gostaria que os meus discos tivessem menos expressividade. Eu
tento controlar isso mas depois percebo que não é tão
fácil quanto parece. Por exemplo, o I Treni Inerti, um grupo catalão
que eu editei há pouco tempo… tem um calculismo, uma frieza
racionalista e conceptual que me é dificil de conseguir. Embora
eu gostasse de ser mais “árido”, de conseguir que não
houvesse tanta consonanza e tanta harmonia em certo sentido, aquilo que
normalmente me caracteriza é o contrario. Não que considere
isso uma coisa negativa, mas às vezes… apetecia-me fazer
algo mais racional…
No trabalho – Diafon - onde manipulo unicamente o corpo de um violino
com piezzos e objectos, o Alfredo Costa Monteiro no acordeão e
o Barry Weisblat na electronica, penso que essa aridez foi integralmente
conseguida. Quando estivemos no estúdio eu não dei uma única
nota. Também gosto dessa ambiguidade, em que de vez em quando toco
uma nota, conseguir uma certa expressividade. Mas neste disco não
o fiz. Não o fiz… Pela primeira vez assumi isso. A carga
abstracta é tão acentuada que as referências desaparecem.
E isso agrada-me.
No que diz respeito à música contemporânea escrita,
estou neste momento a fazer algumas coisas que me interessam. Mas aqui
o problema é outro. Move-se com a questão dos intérpretes.
Se se compõe uma obra para orquestra de câmara, ou qualquer
outra formação, onde, quando e por quem é a obra
executada? Esse é um grande problema com o qual me debato. Por
outro lado, eu posso ser o meu próprio intérprete. Se me
apetecer escrever uma peça para tuba, electrónica e violino,
eu poderia tocar a parte de violino. Mas também não é
isso que mais me interessa. Teria muito mais prazer em ver a obra ser
interpretada por outra pessoa. Tenho a intenção de utilizar
electrónica ao vivo há muitos anos, mas nunca gostei de
trabalhar com sequenciadores. Nunca me fascinou. Reproduzir bases feitas
a priori e depois tocar por cima, isso não! Tive a oportunidade
de o fazer várias vezes mas nunca o fiz e isso não foi por
acaso… Nunca foi a minha paixão.
Influências
Desde os meus 15 ou 16 anos que me identifico com compositores de música
contemporânea de tradição escrita erudita, como por
exemplo o Xenakis, o Peixinho, o Boulez, Nono, Berio… tenho um enorme
fascínio por esses compositores. Mas sem sombra de dúvida
que o que mais me marcou foi o Ligeti. Cheguei ao Ligeti através
do Stanley Kubrick. Nessa altura ainda era bastante novo, mas quando vi
o 2001 Odisseia no Espaço, percebi que havia ali uma música
que me fascinava. Comecei então a investigar, a procurar umas coisas
na enciclopédia. Passados alguns meses já conhecia grande
parte daquilo que existia gravado e fiquei completamente fascinado com
o compositor húngaro naturalizado alemão (sobretudo com
o quarteto de cordas nš2). Também aprendi muito nos seminários
com o Emmanuel Nunes. Nesses seminários, não só analisávamos
as composições dele, mas também de todos os músicos
que os frequentavam. E o Emmanuel Nunes é uma pessoa fascinante,
com uma capacidade de discernimento assombrosa. É um dos maiores,
um compositor espantosamente enigmático.
Posicionamento
dentro da Nova Improvisação
Ultimamente, tenho vindo a corresponder-me por e-mail com o Dan Warburton,
que é crítico, violinista e pianista. Eu já conhecia
os discos dele, alguns achei mesmo fabulosos, mas não conhecia
bem a sua faceta de violinista. E nesse âmbito, passou a ser uma
das pessoas que mais me interessam dentro da Nova Improvisação.
É interessante a exploração que ele faz das técnicas
extensivas e de praticamente todas as práticas que estão
mais em voga hoje em dia dentro da improvisação mais avançada.
Dan Warburton suscitou-me exactamente o que eu já tinha em mente
há algum tempo: porque não fazer um disco de free jazz?
Porque não gravá-lo? É algo de que gosto realmente
e que está dentro de mim. Interessa-me não ter barreiras,
o “faço isto”, “não faço aquilo”,
“posso fazer isto”, “não posso fazer aquilo”.
Eu sei em que estética é que me devo mover. Sei o que posso
ou não fazer com o Costa Monteiro, por exemplo. Bem como se tocasse
com o Cecil Taylor, ou com outro músico dessa estirpe, quais os
elementos mais adequados ao músico em causa. Eles vêm dessa
tradição (que recusa a Academia) e eu tenho que me adaptar
de uma outra maneira. Mas, de facto, eu gosto das duas coisas e o que
me interessa é que seja boa Música. Mas embora ainda há
pouco tenha dito que poderia fazer um disco de Free Jazz, porque gosto,
isso não é muito provável. É muito mais provável
que dos meus próximos 10 discos, 9 sejam irmanados da Nova Improvisação
e 1 de Free Jazz. Mas há um aspecto na Nova Improvisação
que eu gostava de salientar que é o seguinte: aquela categoria
que o John Cage anunciou, perto dos anos 50 (ainda na primeira metade
do século XX), que é o Silêncio, acho muito mais assumida
pela Nova Improvisação do que pela música escrita
erudita.
Eu tive uma conversa com o Emmanuel Nunes àcerca desta minha impressão,
porque achava que o silêncio deveria ser cada vez mais requisitado
nas novas consciências, na Nova Música, na “música
viva” que se faz hoje em dia. E ele perguntou-me: “Então
mostra-me onde está…”, “quais são as obras
recentes em que isso se verifica?”, e constatei que de facto, nos
compositores de tradição escrita isso ainda não se
nota muito (para grande espanto meu!). Já se notou mais no Cage
ou no Feldman, há 50 anos atrás, do que hoje em dia com
os Gérard Grisey, etc, etc, e em todos esses compositores desta
nova geração. Neste tipo de música, o silêncio
não é uma prioridade tão requisitada como na Nova
Improvisação, em que é quase obrigatória hoje
em dia. Um primeiro ponto é que o silêncio pode ser ruído
(e vice-versa), mas no fundo o ruído e o silêncio “mostram-se”
de uma forma natural. É natural que isso aconteça. Uma coisa
implica a outra. Todos os improvisadores desde o Parker ao Bailey foram,
ao longo do tempo, incluindo esses elementos na sua música. O Bailey
de 1995 usa mais ruído que o Bailey de 1960. A respiração
também se torna mais esparsa… Tudo isso é progressivo
e natural.
Os
paradigmas estéticos e as concepções de vanguarda
na Nova Improvisação
Embora saibamos que o Off Site de Tóquio é mais uma determinação
do que propriamente uma orientação, e mais do que uma estética,
ele tem muito mais a ver com uma necessidade circunstancial do que com
uma necessidade conceptual. Toda a história da estética
do Homem, não só na música, foi sempre determinada
pelo poder. Como sabemos, no século XI os ritmos utilizados eram
os pés gregos, ternários devido à sua relação
com a igreja (o Pai, o Filho e o Espírito Santo). A evolução
musical estava relacionada com a série de harmónicos porque
a Igreja achava que a série de harmónicos era consonante
com a perfeição (fruto da concepção divina).
Harmonicamente começa por utilizar-se a oitava, depois a quinta,
depois a quarta, a terceira… etc, no fundo os intervalos que nos
surgem na escala de harmónicos – o que era também
considerado Natural. E tudo isto com imensa gente a ir para a fogueira
caso não se obedecesse a estas regras (impostas através
da força). Hoje em dia, em relação à estética
Onkyo (praticada no Off Site), não me interessa se a sua existência
é circunstancial ou não, mas o facto é que nasceu,
existe e assume-se como tal! Em todo o mundo muitas pessoas estão
a seguir essa linha.
Penso que a Nova Improvisação parte muito daí. Parte
de espaços, de não se ter medo de assumir o silêncio.
Fazendo o paralelo com o Cinema, há alguns anos atrás as
pessoas diziam “Olha que dois segundos de silêncio é
muito! Três segundos num plano é demasiado! Tem cuidado na
montagem!”, depois veio o Syberberg, o Tarkovsky, o Jean-Marie Straub…
O próprio Orson Welles no filme Touch of Evil fez uma coisa extraordinária…
o filme começa com um imenso plano de sequência que foi detentor
do recorde de duração temporal durante uma série
de anos. Também o Tarkovsky, por exemplo, tem um plano de oito
minutos e veio subverter todas essas regras. Tudo isto era proibitivo
porque o silêncio é muito incomodativo e pode ter um peso
aterrador sobre as pessoas. Agora a assunção do silêncio,
voluntária e de forma assumidamente conceptualizada, é algo
de que podemos tirar imenso partido - e estamos apenas no início
de tudo isso…
O caso do Eddie Prévost é um bom exemplo do que acabo de
dizer. É um dos poucos improvisadores desta geração
que partilha abertamente um espaço semanal em Londres com as novas
gerações (entre os 15 e os 40 anos). Aparecem alguns jovens
com novas concepções. E um dos dias do festival Freedom
of the City em Londres é destinado por Eddie a essas formações.
Nunca o ouvi a improvisar “à antiga”. Acho que os AMM
estão um pouco mais à frente (desde os anos 60). Parece-me
que a improvisação de um Schlippenbach ou de um Kowald é
mais rudimentar, mais fácil de codificar que a dos AMM. Estes já
apontam para uma nova concepção, ou pelo menos partilham
diversas experiências musicais não muito comuns às
anteriores gerações.
No entanto, tenho o maior respeito pelos improvisadores mais ortodoxos,
como por exemplo o Evan Parker e toda essa gente, mas também é
verdade que sinto cada vez mais uma certa dificuldade em ouvir esse género
de improvisação. Não sei se essas práticas
serão alguma vez reabilitadas. Parece-me que não. Nos seus
tempos áureos foram importantíssimas, desempenharam um papel
primordial dentro da evolução da improvisação,
chegando mesmo a influenciar alguns compositores de música escrita
contemporânea. Penso que não se irá voltar ao exibicionismo
e ao tecnicismo. Em termos técnicos uma coisa é óbvia:
a forma de explorar os instrumentos nesta Nova Improvisação
abrange novas concepções e novos experimentalismos no que
concerne o instrumento em causa. São as chamadas extended techniques.
Até aqui nunca os instrumentos foram explorados desta forma, tal
como acontece na música escrita.
Por exemplo, no Gran Torso, que é um quarteto de cordas extraordinário
do Lachenmann, os instrumentos são tocados de forma não
convencional. Ele “pede” aos músicos que toquem em
locais do violino, viola ou violoncelo, que normalmente não são
explorados. Hoje em dia pode fazer-se um excelente concerto só
com duas notas, entre dois meios-tons, por exemplo - já há
um universo tão vasto (microtonal), contrapondo-se ao excesso de
informação, utilizado pelos compositores românticos,
que eu também adoro, como por exemplo Schumann ou Wagner –
mas que viveram há 100 ou 150 anos! Mas tudo isso faz parte de
uma época. Acho que a emergência de fazer qualquer coisa
tem a ver com o mundo circundante da época. Na altura eram requisitadas
muitas notas. 100 anos antes, nós vemos por exemplo no filme Amadeus
do Milos Forman, que o imperador critica Mozart e lhe diz: “Too
many notes, too many notes…” Muitas notas, demasiadas notas.
50 anos depois, poderia estar a dizer precisamente o contrário…
Portanto são coisas que vão e vêem. Acho que agora
estamos nesta fase, mas daqui a 200 anos podemos estar numa outra em que
são requisitadas mais notas, menos silêncio, mais ruído,
etc.
A
Perfeição na Arte
Por exemplo, no cinema aquilo de que eu gosto é precisamente o
que não é considerado cinema para a maior parte das pessoas.
Os realizadores que mais admiro são o Jean-Marie Straub, o Syberberg,
o Tarkovsky, o Sokurov (fundamentalmente no Mãe e Filho ou n’A
Arca Russa) e também gosto muito do Bergman. Tal como diz o Straub,
estou farto de ver contar histórias, acho que o Cinema deveria
ser outra coisa. E foi por essa razão que a minha música
deixou de ser narrativa. Embora recentemente tivéssemos vivido
um momento de crise, que coincide com o pós-modernismo, o qual
gerou depois uma certa confusão em que toda a arte narrativa ganhou
algum terreno sobre tudo o que estava a ser desenvolvido (e bem) até
essa época, há alguns arquétipos que se mantiveram,
que perduraram. Eu no fundo gosto de coisas “pesadas”. Gosto
de sentir o peso na Arte.
Tenho muitos discos em que o silêncio desempenha um papel preponderante,
e eles têm uma enorme densidade… Gosto do Thomas Mann, do
Dostoievsky… No fundo gosto daquilo que o Milan Kundera veio despoletar
no final do século XX com A Insustentável Leveza do Ser,
mesmo que as coisas aparentem ser o contrário. Porque para mim,
o mais difícil de atingir é a Simplicidade. Gosto de uma
certa ambiguidade nas coisas, mas também não consigo ver
isso sob o ponto de vista maniqueísta. Se é bom ou se é
mau. Apenas é o que é, e assumo isso em relação
a n músicos. O que me fascina no Mangelsdorff, no Brötzmann,
no Xenakis, no Ligeti é exactamente a personalidade do indivíduo
ao serviço da sua expressividade naquele campo. Ninguém
pode pensar que se o Ligeti quizesse, podia compor a la Berio, porque
isso é falso. É falso porque cada um tem a sua personalidade,
as suas próprias impressões digitais.
Depois, podemos ir ainda mais longe, e dar como exemplo Jean-Marie Straub
de quem falei à pouco. Quando filma com um magazin de 20 minutos
ele filma-o sem quaisquer interrupções. Depois filma um
outro, a mesma cena e não edita nem corta nada. Ele escolhe o melhor
dos dois e não faz quaisquer cortes. Escolhe o melhor com os seus
erros e as suas virtudes. Ele não diz “Olha esta parte é
boa”, “Gostei desta parte e vou juntá-la à outra”.
Ele vê os dois e opta por um. Decide. E é assim que eu gosto
de trabalhar, porque há mais verdade nisso. Há pessoas que
me dizem exactamente o contrário, mas eu não concordo porque
se está a adulterar um conceito de unidade a favor de uma rigidez
racional/conceptual que acaba por desvirtuar a coisa em si.
Eu percebo que se diga: se temos dois suportes em que no primeiro, os
10 minutos iniciais estão bons, e no segundo são os últimos
10 minutos a estar bons, porque não cortar e editar, colar? Mas
às tantas as coisas não são perfeitas. Não
existe perfeição na arte. Toda a gente diz que o Velásquez
era perfeito, mas é falso. Ele tinha a sua perfeição.
Mas o que é a Perfeição? O que é a Coisa perfeita?
O que somos nós? Será que temos a consciência divina
para dizer que algo é perfeito? Aquele quadro é genial.
É muito bom… mas se calhar se o Dürer se levantasse
agora, alterava lá qualquer coisa. Não gosto, nem acredito
em coisas perfeitas.
Entrevista
Videográfica (Mini DV)
Realizador
- Perseu Mandillo, 10/08/2003 |