Ernesto Rodrigues texts

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Lautari” designa, na terminologia dos ciganos da Roménia, “aquele que improvisa”, o músico ambulante que aprende escutando os mestres. É também a designação escolhida por este trio de Lisboa, que escolheu, entre todas as formas musicais disponíveis, aquela que, pelo menos em Portugal, se afigura como a de maiores dificuldades, tanto em termos de prática como de aceitação junto do grande público. Formado no ano de 1994, em Lisboa, o grupo encontra-se neste momento na fase de procura de plataformas de trabalho viáveis e que se coadunem com as respectivas personalidades, necessariamente diferentes e, por vezes, contraditórias entre si. Num campo de manobra cheio de minas e na mira de não poucos preconceitos auditivos, os Lautari conseguiram para já assegurar a sua subsistência como grupo, não abdicando das suas convicções a favor de um impacte mais imediato no consumidor médio. Escolheram a improvisação, “pelo risco” e “por uma necessidade de comunicação”, como acontece com José Oliveira, que afirma “não ter tempo, nem jeito, nem pachorra, para dizer alguma coisa enquanto na simples posição de intérprete”. José Oliveira, que, no passado, já tocou com o trompetista Sei Miguel e com Celso de Carvalho, faz suas as palavras do percussionista inglês Roger Turner, quando este diz que a música é “uma forma de guerrilha”, embora faça questão de frisar que, “já na música barroca, se incluía uma margem significativa de improvisação”. A audição de nomes como Evan Parker, Barry Guy, Paul Lytton, Paul Lovens, Derek Bailey, representantes da free music inglesa dos anos 60 e 70, mas também Archie Shepp, Ornette Coleman ou Eric Dolphy, foram determinantes na génese da estética perfilhada pelos Lautari. “A persistência em fazer este género de música”, diz Carlos Bechegas, que, entre outros, já tocou com Carlos Zíngaro e numa das derradeiras formações do Plexus, “deve-se a uma certa impaciência de alguns músicos para se relacionarem com as partituras”, a par da exigência de “uma criatividade específica”, que dá para conseguir “uma certa dinâmica de resultados, impossível de obter por outros meios”: “Se se faz uma improvisação que a seguir é escrita, mesmo se os “virtuosos” forem tocar aquilo – que são as mesmas notas -, não resulta da mesma maneira do ponto de vista dinâmico. Quando se improvisa, tem-se a sensação de encontrar uma coisa pela primeira vez”. Uma opção que acarreta uma enorme dose de responsabilidade e de entrega total à música, já que a espontaneidade absoluta e a sintonia perfeita entre os instrumentistas nem sempre acontecem quando se quer e nos locais programados. Ernesto Rodrigues fala nos ensaios como “ateliers de improvisação, ideais para desenvolver a linguagem colectiva e os métodos de execução instrumentais do grupo. Depois, no palco, o que é preciso é esquecer tudo isso e entregar-se por inteiro à inspiração do momento. Em nome de uma certa virgindade, como se cada nova apresentação fosse sempre uma primeira vez”. “O que define, entre outras coisas um bom improvisador”, conclui José Oliveira, “é a sua capacidade de reacção, em tempo real, no instante, e de forma adequada e criativa, aos estímulos que recebe de outrem. E isto é uma forma de composição, composição instantânea”. Fernando Magalhães
 
Os registos discográficos de Ernesto Rodrigues têm uma importância superlativa pelo facto de juntar músicos da segunda de quatro gerações de improvisadores portugueses, como são o próprio Ernesto Rodrigues e José Oliveira. “Formados” pelo free-jazz, estas duas figuras consagradas da nossa improvisação souberam evoluir com os tempos e adaptar-se à realidade circundante. Deflagração do fraseado convencional até este desaparecer, acomodamento do ruído, estruturas “em suspensão” indirectamente bebidas no minimalismo e directamente no jazz modal, apurado sentido colectivista, integração engenhosa de silêncios, execuções pausadas e baseadas na escuta, jogos entre serenidade e inquietação, atonalismo, politonalismo: estão lá todos os ingredientes. Rui Eduardo Paes
 
Ernesto Rodrigues’ music results of two of his personal passions: free jazz and contemporary "classical" music with a specific focusing on post-serialism. And it bursts out of a cause embraced in an almost militant way: improvisation. This may assume various shapes and, as such theorist of this family of the Art of Sounds as Derek Bailey once stated, doesn't necessarily have to be experimental. In fact it actually isn't in most occasions.
Such is not the case with this violinist who's also devoted to instruments such as viola and soprano saxophone and is now developing skills on India's Sarangi. His approach depicts each improvisation as an experiment, an adventure ruled only by the casualty of circumstances and spontaneous creativity. Add to this the way his musical studies, (classical) formation and background and also his "audio memories" (Portuguese popular music, rock, both areas of former activity) melt with his musical taste and his aesthetic and expressive universes (which meet British and German schools of "New Improvised Music") and you'll be closer to his world.
Ernesto Rodrigues assumes all radicality inherent to this openness to the "becoming" of improvised speech quite naturally, and leading to an obvious consequence: His music is atonal, polytonal, microtonal, and non-idiomatic.  Little is any trace of free jazz and "chamberistic" classicism is but a far away reference. Yet, such queues are present since no breakthrough or innovation is obliged to cut off with all history(ies). In fact, Ernesto Rodrigues still applies Cage's concepts as to the use of noise and silence, which is a direct consequence of the acceptance of the fact that neither of these are non-musical - an idea that still to this day is not unruffled, decades after John Cage's formulation. All of his production stands for this, from «IK*Zs(3)» with Carlos Bechegas on flutes and electronics, to «Assemblage» a CD with Manuel Mota on electric guitar.
Being aware that noise recycling is an attribute of electric and electronic instruments, one has to acknowledge that Ernesto Rodrigues’ option towards the principles of "noise" patent in such examples as «Self Eater and Drinker» with Jorge Valente in the synthesiser and computer, «Multiples» with Guilherme Rodrigues on cello, «Sudden Music» with António Chaparreiro on electric guitar, «23 Exposures» with Marco Franco on soprano saxophone and «Ficta» (with excellent Argentinean pianist Gabriel Paiuk) is most clear and obvious mostly on acoustic contexts. Interesting to notice is that Ernesto Rodrigues "bruitage" (to which - it is only fair to point out - percussionist José Oliveira contributes the most) co-exists with vast "spacings" and a sound production and progression at "near-silence" level, similar in some way to what you can listen to in Radu Malfatti, or Rhodri Davies, Mark Wastell and Burkhard Beins’ Sealed Knot.  This is a Music shaped by restlessness and intensity, but at the same time holding such a delicacy, sense of detail and even mildness which read out as total paradox.
Paradox is also present in the way Ernesto Rodrigues articulates an intuitive musical production - whose source is to be found only on the domain of "praxis" - with unmissable conceptualism. «Self Eater and Drinker»’s main idea is the autophagy of acoustic sounds by electronics. «Multiples» is a work of almost miniatures, inspired by Anton Webern, which understands every part as a metonymy of the all, in such a way that each next improvisation is but another aspect of what's already been enunciated. «Sudden Music» celebrates the ephemeral character of music even when a static structure, which like olds everything under suspension, is present. «23 Exposures» plays with the idea of exposing film to light: Depending on the degree of that exposure the revealed photo offers a greater or lesser image sharpness. Extreme situations where all figuration becomes impossible is in fact what this work is all about.
«Ficta» is an allusion to a time in history - baroque - where improvising meant to embellish with ornaments. In fact, "Musica Ficta", Fictional Music, in those days was but a way to invent, to create in a complementing fashion, what wasn't set on the score. Music Improvisation today is quite a different story, but still is - even to greater extent since there is no score - an enhancer of imagination, and namely of new ways to combine sounds and even of the making of entirely new sounds. Rui Eduardo Paes
 
L’histoire de l’improvisation au Portugal rencontre chez Ernesto Rodrigues et José Oliveira, deux de ses figures les plus consacrées, apartenant tous les deux à la deuxième de quatre générations de musiciens. Cela ne les a pas empéchés, ensemble avec António Chaparreiro, guitarriste venu récemment du Rock, d’adhérer aux nouvelles pratiques qui transforment actuellement le scénario de ce que l’on appelle “free music”. Longues durées, minimalisme dans la géstion du matériau sonore, fréquente utilisation de l’espace et de la respiration, focus en l’elaboration de textures, déconstructionisme, eclatement du phrasé conventionnel, application de concepts venus du “noise” à l’esthétique du “near silence”, adhésion aux paramètres audio de l’eléctronique, bien que dans une musique foncièrement acoustique: ce sont bien là les caractéristiques de leur CD «Sudden Music», tout comme de leur travail sur scène. Cette capacité d’adaptation n’a rien d’étonnant quand on connait le travail de ces deux défricheurs de contrées: Ernesto Rodrigues est un violoniste/altoiste d’intérêts divers qui englobent sa passion pour les compositeurs “classiques” contemporains et le passage par plusieures formations de musique populaire, en particulier sa colaboration avec les chanteurs-compositeurs Fausto et Jorge Palma; José Oliveira, en plus de percussioniste avec une abordage des instruments qui le place dans la lignée de Paul Lytton, Paul Lovens ou Roger Turner, est aussi artiste plastique et poète, aux liaisons étroites avec le mouvement Fluxus. Depuis toujours, furent leurs objectifs, la permanente inovation et la diversification, et  celles-ci, precisemment, ont attiré António Chaparreiro, las des lieux-communs du Rock, à ces domaines de la musique créative de nos jours. Dans ses mains, l’énergie de ce genre d’expréssion cesse de se presenter sous sa forme la plus évidente pour gagner en subtilité et en opportunité. Ensemble, ils peuvent faire en sorte qu’une tempête paraisse paisible. Rui Eduardo Paes

Creative Sources (www.geocities.com/creativesources_rec)
È l’etichetta che fa capo al violinista Ernesto Rodrigues, al violoncellista Guilherme Rodrigues e al percussionista / chitarrista José Oliveira, musicisti dediti ad un tipo d’improvvisazione piuttosto classica, che potremmo definire alla AMM. Finora ha pubblicato una decina di titoli, fra i quali ci sono dei lavori a cui partecipano anche Manuel Mota e Margarida Garcia. L’etichetta si sta allargando verso una produzione sempre meno legata ai nomi dei tre musicisti e sempre più di tipo internazionale, come dimostra il recente “No Furniture” del trio Boris Baltschun / Axel Dörner / Kai Fagaschinski. Nel sito dell’etichetta è già annunciata una serie interessante di prossime uscite - in una di esse c’è di nuovo la partecipazione di Manuel Mota e in un’altra quella di Alessandro Bosetti - fra cui anche un CD in solitudine del fisarmonicista Alfredo Costa Monteiro. Etero Genio
 
A música livre de Ernesto Rodrigues é uma estrela no galático movimento da nova música improvisada a qual surgiu em meados dos anos 60; sucedâneo do free jazz, do experimentalismo e da obra aberta; intuição do instante, constelação de compositores-intérpretes; passarela de instrumentistas excepcionais, construtores do bizarro, virtuosos do epigrama; emancipou-se como música/performarte, concebeu um espaço autónomo e atípico da vertente solística e/ou colectiva, com técnicas audaciosas e conceptualizações esquisitas; no âmbito da criação portuguesa de hoje, cadáver esquisito, a arte intimista do seu violino é um discurso singular, uma formidável formulação da pós modernidade. Jorge Lima Barreto
 
Um facto histórico respeitante à música improvisada nacional, aconteceu na acolhedora sala da Associação Cultural Abril em Maio (Lisboa). E se é difícil sobreviver ao exaltar uma forma de expressão pouco acarinhada, mais aventurado se torna conseguir reunir 12 músicos e formar uma Orquestra onde improvisação e liberdade assumem o papel principal. Tendo em conta o exímio trabalho que Ernesto Rodrigues tem desenvolvido ao longo destes anos, acrescentando a concepção e condução deste magnífico projecto. É chegada a hora de reconhecer a solidez, não só enquanto músico, como também valorizar a sua postura, que o torna uma "figura" fulcral da livre expressividade nacional.
Predominada por elementos de sopro, esta Orquestra de Geometria Variável apresentou-se em duas partes distintas. Apreciando e qualificando a primeira parte de alto nível, todos os instrumentistas se apresentaram de forma considerável detonando uma plena sintonia com o desígnio deste projecto. Destacando o saxofone soprano de Marco Franco (possuidor de um sopro forte e conciso) e a delicada sonoridade proveniente da guitarra de António Chaparreiro, edificaram-se como essenciais suportes para que Ernesto Rodrigues adoptasse uma postura mais solta para o necessário trabalho de condução. Aguarda-se com expectativa a gravação deste empreendimento bem como uma actuação para um público mais abrangente. Ficamos à espera. Carlos Lourenço
 
The violinist/violist Ernesto Rodrigues upsets the surface of silence once again with a new cd in which free-improvisation is once again associated to a concept: in this case, that of assemblage/assembly, the construction is made up of varied elements in which unity results precisely from diversity. A condition which does not alter his search for a discoursive and expressive state based on almost nothing, even if such an effort is constantly belied by the unrest and engagement of the performers - Guilherme Rodrigues, on cello and pocket trumpet; José Oliveira, on percussion, prepared acoustic guitar and inside piano; and Manuel Mota on flat electric guitar. The game proposed by «Assemblage» consists in this very struggle between will and praxis and in the contradictions arising from such a conflict. Few times has the practice of improvisation been so transparent. Rui Eduardo Paes
 
Para os mais distraídos, e para aqueles que gostam mas  crêem que a música improvisada não tem qualquer tipo de expressão no nosso país, deveriam por certo estar mais atentos à agenda da Associação Cultural Abril em Maio. Utilizando o seu palco para combater a apatia, a ignorância e inércia, cada vez mais fortemente instaladas, Ernesto Rodrigues tem desenvolvido inúmeras actuações e performances dignas de louvor e reconhecimento. Desfrutando da estada de Gianni Gebbia (saxofone alto); Ernesto Rodrigues (violino, viola, electrónica), Nuno Rebelo (guitarra eléctrica) e José Oliveira (percussão, guitarra acústica preparada), beneficiaram da melhor maneira a compleição improvisativa, contagiada pelo saxofonista italiano, onde a capacidade e o conhecimento individual de cada músico, veio ao de cima de uma configuração tão natural, que fez emergir toda a sala a uma condição magnetizadora e hipnótica. Subtileza - arte - talento - Cérbero - belo - soberbo - celsitude - aplauso, são palavras que podem descrever uma actuação distinta. Na memória não ficam palavras, ficam sim imagens abstractas, onde a contemplação irá residir eternamente. Carlos Lourenço
 
Sexta feira, o magnífico espaço da Abril em Maio, acolheu um espectáculo da Variable Geometry Orchestra, o terceiro da sua curta vida. Vou tentar explicá-lo: Durante uma hora e picos, a VGO apresentou aos parcos presentes (cerca de 20 e tal) um programa de improvisação completa, destilado pelo colectivo de 11 elementos (eram para ser 12, mas alguém ficou pelo caminho), com porções de improviso colectivo dirigido ou não, e com peças improvisadas "au moment" por quartetos de sopros, trios de cordas, ou conjugações entre os dois, por vezes acompanhadas da guitarra eléctrica, noutros pelo contrabaixo, ou pela bateria, ou pelas percussões de mil e um objectos aparentemente inofensivos. Foi bastante interessante, com momentos muito bons e sinceramente gostei. Gostei principalmente de Marco Franco, do Ernesto Rodrigues, do Chaparreiro, do baterista e até do percussionista, mas sobretudo do colectivo. Do colectivo porque, as improvisações foram-se revelando, desenrolando, com indicações do Ernesto Rodrigues para o assumir de papéis, e depois iam-se encaixando, iam brotando, quase sempre de forma agridoce, sem nunca explodir, eram sussurros, espasmos, ventos, completados por mil e um sons de que o olhar procurava a origem. Nalguns momentos pareceram-me pouco decididos, como que procurando-se a si próprios, concerteza fruto do pouco tempo que tocaram juntos, o que por outro lado deixa antever, com uma maior rodagem, uma interligação empática mais forte na improvisação.Tudo isto durou cerca de uma hora e tal. Seguiu-se depois a projecção de parte de um video com a gravação de um anterior espactáculo de Ernesto Rodrigues & co, com uma diferente formação. O video não era o mero registo de imagem, era sobretudo a transformação videoplástica da música, da improvisação. Uma espécie de improvisação plástica em suporte video ao som que se ouvia. Zooms gigantes, blurs, saturações, pormenores, etc, etc. Por esta altura uns meros 10 resistentes ainda por lá se encontravam. A pedido de muitas famílias todo o elenco subiu ao palco para uns 20 minutos de pura desgarrada freeimprov. Delírio e caos em doses maciças, os onze elementos entregaram-se à improvisação total sem regras, numa cacofonia que teve momentos absurdos e momentos de puro deleite, tal era a desgarrada ... só visto! Há-de haver mais! A Abril em Maio prometeu. Ah! E já têm a novel Bock preta, bem boa por sinal. Hasta! Stay free. Nuno Martins
 
Ulrichsberger Kaleidophon 2003
[...] Atemberaubend war das in sich gekehrte portugiesische Quartet Assemblage. Ein feiner Belag aus Geräuschkies, der Streich-, Blas- und Schlaginstrumenten nichts von ihrer Charakteristik belässt, dessen Duktus aber nur mit diesem Instrumentarium ziseliert werden kann: Weg von der instrumentalen Kenntlichtkeit zu einer zarten Zeichmung, die den Zuschauer mit Beschlag belegt und Staunen lässt. [...] Michael Frank (Süddeutsche Zeitung)
 

Ernesto Rodrigues, com Guilherme Rodrigues, Manuel Mota, José Oliveira e Margarida Garcia, são outras presenças portuguesas no Co-Lab (dia 24 às 12h30).
[Ernesto Rodrigues], partiu para os limites mais radicais da música improvisada até chegar à chamada “micromúsica” ou “near silence”, apropriação das directivas de John Cage, mestre escultor do silêncio ou, melhor dizendo, poeta-cientista munido de microscópio sonoro de alta potência. Fernando Magalhães (Público)
 
O clube de Jazz lisboeta Hot Clube, acolheu nesta noite um dos projectos mais elevados de Ernesto Rodrigues - FICTA.
Agregando o guitarrista Manuel Mota à formação base do trabalho gravado em 2002, a este quinteto nada faltou para que a subtileza sonora invadisse o mítico espaço da Praça da Alegria.
O meu destaque vai sem dúvida para a astúcia demonstrada pelo pianista Gabriel Paiuk, desenvolvendo técnicas menos convencionais, no que respeita à forma de preparar o instrumento. Paiuk conseguiu tirar do piano amplas possibilidades tímbricas e sonoras.
Evidenciando-se o local não ser o espaço ideal para o género musical em questão. Foi gratificante sentir que a coesão e maturidade deste magnífico colectivo não se tivesse deixado abalar pelas conversas e ambiente mais calorosos inerentes aos clubes de jazz.
Espero contudo que a engrandecedora mensagem - FICTA - tenha deixado marcas fortes e contemplativas aos intitulados adeptos do “som da surpresa”. Carlos Lourenço

A linguagem é fonte de mal entendidos, mesmo quando a formulação se rege de acordo com a sintaxe, e segundo os preceitos gramaticais correctamente as grelhas de interpretação são subjectivas e sujeitas a variáveis de interpretação. A linguagem dos sons ainda mais, pois rege-se por métricas e lógicas que lhe aumentam exponencialmente as potenciais capacidades receptoras.
Fui assistir a um concerto do Ernesto Rodrigues e da Orquestra de Geometria Variável. Logo no nome temos um programa, de facto estamos face a um quadro de hipóteses flutuante consoante as disponibilidades da sonoridade, e as capacidades do espaço acústico. O local Abril em Maio lembra outros locais, esconsos e clandestinos, para iniciados e amantes. A música, o alinhamento das estranhas sonoridades, enche os interstícios e ocupa a possibilidade de recepção acústica. Por ela passam memórias e afectos com os instrumentos e a vocalização. Os metais atiram-nos para o free  jazz e as cordas trazem-nos para uma decomposição da sonoridade em que a melodia é uma improbabilidade mágica.
Uma abertura de espírito gera-se enquanto a polifonia desarmónica de ruídos nos enche o cérebro. Ficamos atordoados e despertos, como quando experimentamos cogumelos mágicos.
Parece não haver princípio, parece não haver fim num tempo que parou e fica flutuante nos sons e na sua hipérbole.
Momentos como este valem um êxtase. Divino como o que se concentra e prolonga. Um som que se ouve no silêncio do conhecimento. António Eloy

Imagine a blank surface. Now think how it would look if you cut with a knife some traces and little holes on it. You have a visual texture now, something to see but at the same time something that reminds you of the nothingness of the surface. That's exactly that what Ernesto Rodrigues, Alfredo Costa Monteiro, Guilherme Rodrigues and Margarida Garcia do with silence. Their knives are sounds - the "incognito" sounds that a conventional musical instrument can produce, even if it's impossible to notate them - and what they do is textures. Maybe you don't want to call painting a texture made with a knife (or maybe you do), and this quartet is indifferent to the doubt if this is or isn't music. The question isn't really important, and you must know by now that there's an imense artistic territory to explore before music and after music - music is only one way to do... well, let's call it music. Ernesto says, amused, that «Cesura» (one of the Portuguese words to say "cut") is his less musical work. Amused, certainly, but with the subversive feeling of someone carrying a knife in the hand. Rui Eduardo Paes

The violinist Ernesto Rodrigues is a major improviser from Portugal on his own, but combined with his son Guilherme Rodrigues on cello he is part of one of a deeply expressive example of family bonding through creative music. Anyone would agree who has seen a live or filmed performance of the two in action onstage, the father crouching over his son somewhat akwardly in the throes of spontaneous composition but looking a bit like he is trying to smell the kid's breath for alchohol—not that a Portugese father would do such a thing. The senior Rodrigues has been active in avant garde music for several decades, aligning himself with many revolutionary forms of expression including micro-tonal tunings and the art of "preparing" stringed instruments by actually altering their physical structure. The violinist has performed with many groups on the Lisbon avant garde scene, most notably the ensembles Assemblage and Ficta. In the latter trio, the Rodrigues father and son work together with percussionist José Oliviera. The senior Rodrigues started in the direction of free improvisation groups such as this when he came in contact with the type of avant garde classical scores that are often described as "indeterminate," meaning quite a few of the details of the actual performance are left up to interpretation and/or serendipity. Rodrigues was also influenced by electronic music, like many improvisers on traditional instruments relishing the challenge of utilizing their axes to match, sound for sound, the noise coming out of plugged-in equipment. The violinist has performed for films, dance, performance-art projects and video as well as in concerts and on recordings. In 1999 he started up his own label, Creative Sources. Eugene Chadbourne

Introduce. The days of liner notes that merely provide a description of the music an album contains are long gone – we no longer need to be told how to listen, nor what to listen for – but when it comes to titles, hmm, maybe those words are important after all.. Ernesto Rodrigues – whose Creative Sources imprint is fast becoming one of Europe's essential labels in the domain of improvised music – could easily have chosen some gloriously rugged Portuguese sonorities and had us scurrying to our dictionaries in search of clarification, but instead has borrowed a French noun from the world of photography – "contre-plongée" translates as "low-angle shot", and the associated expression "en contre-plongée" means "from below" – and, to describe the six pieces on offer, the venerable English word "cut". Discuss. Elaborate. In the past ten years, practitioners of improvised music, finally severing the putrescent umbilical cord that attached the genre to its distant transatlantic parent, free jazz, have pushed the technique envelope of traditional acoustic instruments beyond all recognition – as if the instruments themselves have been approached from another angle altogether, as if seen from below.. Illustrate. One need merely draw up a list (woefully incomplete, at that) of standard instruments and namecheck the musicians whose furious innovation has taken them to another level altogether: trumpet (Axel Dörner, Greg Kelley, Franz Hautzinger and Matt Davis – to name but four!), trombone (Thierry Madiot..), tuba (Robin Hayward..), flute (Jim Denley..), oboe (Kyle Bruckmann..), clarinet (Kai Fagaschinski, Isabelle Duthoit..), soprano saxophone (Bhob Rainey, Alessandro Bosetti, Stéphane Rives..), violin (Mathieu Werchowski, Angharad Davies, Kazushige Kinoshita..), viola (Charlotte Hug..), cello (Martine Altenburger, Nikos Veliotis, Mark Wastell..), double bass (David Chiesa, Mike Bullock..), piano (Frédéric Blondy, Sophie Agnel, Andrea Neumann..), not to mention harp (Rhodri Davies..) and accordion (Alfredo Costa Monteiro..). And, en contre-plongée, let's add the names of Ernesto Rodrigues (violin and viola), Gerhard Uebele (violin), Guilherme Rodrigues (cello) and José Oliveira (bowed acoustic guitar and inside piano). Extend. "String quartet" needs some explanation too, then; the classical string quartet consists of two violins, viola and cello, but as Ernesto Rodrigues plays both violin and viola (though presumably not at the same time..) one could argue that the line-up here is a classical string quartet compressed into a trio. There's a wild card though, in the form of Oliveira – guitar passes as a stringed instrument, sure, but the piano is a percussion instrument, right? Conclude. Which takes us to "cut" – as in surgical intervention, or – to pursue the cinematic analogy – stop shooting: break, rethink, start again, remake, remodel. Why should the piano be a percussion instrument (one can, after all, bow those strings) and why should a violin not be a percussion instrument (it's about time we dispensed with "percussion" altogether – friction would be more appropriate..)? Cut, yes, time to take the scissors to the map, prepare a landing strip for the string quartet of the 21st century. Listen. Dan Warburton (www.paristransatlantic.com)

Portugal’s Creative Sources has quickly become a must listen label. Focusing on music that sits in the cracks between European free improvisation and “lowercase sound” or “eai” music, label head and ace improviser Ernesto Rodrigues has kept up an active release schedule and built up an impressive catalogue of provocative improvisations. Jason Bivins (Signal to Noise)

Ernesto utilizando todas y cada una de las partes del arco para sacar sonoridad a la viola, con apenas algún pasaje melódico, ha sabido estrujar su instrumento hasta el límite de hacerlo sonar con una balleta de esas de metal, las que tan bien rascan los restos de las sartenes, y que en sus manos han rascado todos los restos posibles sonoros que puede haber en un instrumento de cuerda-madera, optando por mostrar una faceta totalmente expresiva más que musical. Sadhu, Septiembre 2004, Madrid (España)

Creative Sources Recordings was founded by Ernesto Rodrigues in 1999, but the first record was released in 2001. In the beginning the label's task seem to record its owner's activity (he appears on half of the cds). It's intelligible because Ernesto, active for twenty years musician (violinist, improviser, composer) wasn't favoured to release records as a leader. It has to be accentuated that increasing amount of records didn't decrease the quality of music. Ernesto Rodrigues hasn't forget about other musicians. Soon, in cd catologue (14 records so far) appeared records by new artists (not only form Portugal). Rodrigues focused on music from the space between improvisation, electroacoustic and so called "new music" (mostly specific comprehended chamber music). Tadeusz Kosiek (http://www.diapazon.pl/)

About a year ago, I first reviewed a Creative Sources disc for Dusted and noted that improvised music would be nothing without local scenes and the labels dedicated to documenting them. That’s still true. But when people start to take notice, the next level is the formation of links with other scenes. The Lisbon-based label – run by Ernesto Rodrigues, an excellent improviser who plays on some of the label’s releases – has made that next step. Along with labels like Erstwhile, For4Ears, Confront, Meniscus, and Potlatch, this imprint is documenting some of the finest “lowercase” improvisation around and has become a label with a strong track record and a global focus. Their release schedule has really picked up of late too. In fact, they’ve just dropped a quintet of recordings featuring a fairly broad array of European improvisers. Many readers won’t be too familiar with the majority of the players. That deserves to change. […] Taken as a whole, this quintet of discs is pretty satisfying. While some clearly work better than others, they give improv freaks some insight into what’s happening in some lesser-known European scenes. They also confirm the strength and identity of this excellent label. Jason Bivins (Dusted)

Três dos melhores improvisadores nacionais reencontram-se para abordar um programa de música composta no momento em que é executada. Micro-climas sonoros criados em tempo real, que permitem investigar novas formas de combinação e organização sonora. O concerto de Ernesto Rodrigues, Manuel Mota e José Oliveira, ontem à noite na Trem Azul – a que assisti apenas parcialmente – naquilo que me foi dado ver e ouvir, cumpriu plenamente as expectativas. O som do trio é muito coeso e a sala da Trem Azul possui boas condições acústicas para a prática musical, em particular para este tipo de contextos, pequenas formações de improvisação livre, que induzem e facilitam uma relação de grande proximidade - de intimidade até - entre artistas e público. Musicalmente, o trio atingiu um elevado nível de maturação e desenvolvimento, evidenciando a prática de tocarem juntos, cujos resultados são conhecidos das gravações para a Creative Sources, editora portuguesa criada por Ernesto Rodrigues. Os músicos interagiram bem, construindo um discurso atravessado por uma poética que vai do silêncio à brusca explosão, numa linha estética que se filia na livre-improvisação europeia - em particular da escola de Londres, pós Spontaneous Music Ensemble (SME), profusamente documentada pela editora EMANEM - com referências à música de câmara contemporânea. Manuel Mota afagou, percutiu e esfregou as cordas, transformando a guitarra num instrumento cujo primeiro resultado é a produção de texturas, ora rugosas e ásperas, ora suaves e aveludadas, com enorme variação de cor e forma, que se misturam com a manta de percussão que José Oliveira estendeu, encolheu e voltou a estender. Estruturas flexíveis sobre as quais a liquidez sonora do violino de Ernesto Rodrigues teceu malhas recortadas a partir de uma imensa variedade de técnicas de execução do instrumento. A electrónica, usada com parcimónia e integrada na paisagem, contribuiu menos para a alteração ou modificação sonora, que para adicionar novos significados e um certo efeito de transparência sobre os procedimentos em curso. Música fragmentária e descontínua, mas assinalavelmente coesa e estruturada em regime de construção em tempo real, cheia de incidentes e surpresas a cada volta. Na música de Rodrigues, Mota e Oliveira, todos os sons e silêncios são válidos, pertinentes e fazem sentido, na sua totalidade como no mais ínfimo detalhe. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores – à sombra de Ra)

Violinista e manipulador de electrónica, Ernesto Rodrigues tem-se afirmado nos últimos anos como uma das figuras de proa da actual cena improvisada portuguesa. Não obstante a robusta discografia de que é senhor, na sua maioria disponibilizada pela creative sources recordings, a editora que dirige desde 1999, Rodrigues ainda está longe do reconhecimento que há muito vem justificando. Na sessão às escuras que lhe propusemos, e cujo grau de dificuldade poucos deixarão de reconhecer como (pelo menos!) distante do acessível, tentámos cobrir as suas principais áreas de interesse: Jazz, Livre Improvisação, Electrónica e Clássica Contemporânea. Aqui ficam então os principais momentos. […] João Aleluia (Jazz.pt)


I'm continually surprised at the rate with which Ernesto Rodrigues releases discs on his superb Creative Sources imprint. As most folks reading this know, the excellent viola/violin/electronics improviser began to document Portuguese and Spanish improvisation several years back and has quickly developed his label into one of the premier outlets for improvisation at the intersection of European free music, electroacoustics, and new music. I recently opened up my mailbox to find a package stuffed with seven of the label's latest goodies. All told, it's a strong batch. […]Taken together, this septet of discs is worthy not just for their quality but also for their documentation of this music (and some of its lesser known players). Rodrigues already has a new batch out. In the meantime, however, don't miss out on some of these gems. Jason Bivins (Bagatellen)

As últimas edições da portuguesa Creative Sources testemunham que algo se está a passar no sector da criatividade sonora a que demasiado apressadamente (percebemos agora) se chamou "reducionismo". Já se discutia se esta frente da improvisação reduzia, de facto, os materiais da sua produção musical até às proximidades do silêncio, ou se, pelo contrário, o que se pretendia era somar algo ao zero. Pois o que nos oferece a maior parte destes discos - e creiam que a editora de Ernesto Rodrigues se tornou mesmo no barómetro das evoluções ocorridas nesta família - comprova que os tais "reducionistas" são cada vez mais "acrescentacionistas". Com uma tónica mais electroacústica do que alguma vez esperaríamos de um catálogo que parecia apostar nos novos improvisadores acústicos, é a toda uma mudança de parâmetros que assistimos. Se antes o trabalho das texturas era uma característica genérica, agora verifica-se já uma acentuação no labor tímbrico e no plano harmónico, o que, se aproxima mais estas práticas das correntes preocupações da música escrita contemporânea, liberta-as também do que parecia estar a converter-se numa cartilha. A recusa do fraseado e da nota convencional e o microtonalismo mantêm-se, mas o estado presente desta prática deixou de lembrar a "action painting" de Pollock para nos remeter às manchas pictóricas de Rothko, com a rarefacção dos sons a ser contrariada, muitas vezes, pela disposição de "drones" e até pela sobreposição de camadas de elementos, tão transparentes quanto aguarelas, decerto, mas valorizando a densidade. O próprio volume auditivo subiu, o que até era previsível face ao crescente desejo de evidenciar os mais pequenos pormenores do mundo microscópico em que esta música tem vivido, por meio de microfones de proximidade e de contacto no que aos instrumentos tradicionais diz respeito. […] Rui Eduardo Paes (Ananana Newsletter)

[…] If the gallery works for the aformentioned groups as a new place for both creative relief and inspiration, for 45 year old violinist Ernesto Rodrigues it’s been the one concert space in town where his shows have regularly taken place. A militant label owner, promoter and generous curator of collaborations, Rodrigues is now more than used to having to find his own solutions to present his work. He set up the Creative Sources label to put out his own music, and since the label’s first release (2001’s Multiples), he has established himself as one of the most accomplished improvisors in the lowercase/near silence circuit.
With Creative Sources, he has been constantly putting out releases by several groupings and solo artists, including Tetuzi Akiyama, Axel Dörner, Raymond Strid and Taku Unami, as well as by regular collaborators Manuel Mota, Margarida Garcia, Barry Weisblat, Alfredo Costa Monteiro, José Oliveira or his cellist son Guilherme, who he has been working with since the age of 11.
Rodrigues’s path through extreme music precedesPortugal 1974 revolurion, prior to which he became acquainted with American free jazz. He was inspired by Cage’s Zen-influenced (non-)musical strategies in silence and sound, Feldman’s microtonalism, an upbringing surrounded by Ligeti and Stockhausen, as well as a strong connection with the first generation of English improvisors of the late 60s/early 70s. Pedro Gomes (The Wire)

The unflaggingly energetic Portuguese label continues its chronicle of new areas of free improvisation, as Jason Bivins attempts to keep up.
Since writing about Creative Sources earlier in 2005, over a dozen new recordings have been released on Ernesto Rodrigues’ fine imprint. Still concentrating, roughly speaking, on micro-improv and electroacoustics, the label has developed several specific areas of concentration: solos, duos, and group improvisations. Jason Bivins (Dusted Magazine)

Violinista / violista de formação clássica e interesses que vão da música contemporânea (é um habitual frequentador dos seminários de Emmanuel Nunes) ao free jazz e à livre-improvisação, Ernesto Rodrigues tem protagonizado uma abordagem reducionista e de "near silence" em que a nota é substituída pelo som puro (ou pelo ruído) e a estrutura pelas texturas, com deflagração dos fraseados em elementos atomizados, quase total desaparição dos três factores essenciais da musicalidade convencional (melodia, harmonia e ritmo) e utilização de microtons ou total atonalidade. Rui Eduardo Paes

[…] A música é também isso, um sentido para os sons e silêncios, a harmonia desses resultante, ou a desarmonia.
A criação, recriação dos sons, das linhas melódicas ou das rupturas, do fluído ou do corte, pelo silêncio ou de outro ruído, que o silêncio também é.
A arte, como o exercício do palato é essa descoberta, e a sua conjugação articulada ou desarticulada no seu sentido.
Gosto dos sons.
Com o Pedro Caldeira, meu velho amigo, apesar, e por isso mesmo, de todas as divergências "ideológicas", escrevi sobre, ouvi jazz, e também me enamorei desse som como sexo.
Com o irmão, o Zé Ernesto Rodrigues, e o Guilherme, e os amigos colaboradores, e ontem com o Manuel Mota, no CCB, numa organização do meu velho amigo e camarada REP e da Granular, ouvi uns sons "marados".
Que dão como referi uma grande pedra, no "bom" sentido, pois são as desarmonias que contróiem uma vitalidade, a vitalidade, o som onde se descobre sentir, sentido.
No carro vim a ouvir o cd “Dorsal”.
Cheguei nas nuvens.
Este som que se perde na perdição é uma nova energia.
Que ilustrará, a seu tempo um filme suave, sobre essas. António Eloy

Ernesto Rodrigues and Manuel Mota may be standing on top of a very strong tradition in what concerns the relations between an arco string instrument and a guitar: the one introduced before the Second World War in improvisation by Stephane Grapelli and Django Reinhardt with the Quintet of the Hot Club de France. They certainly come from that heritage, even if aesthetically we can’t find any other common point besides the same naturalness in terms of sound and interaction. Like what happened with those two great figures, the extraordinary thing is that Rodrigues and Mota backgrounds couldn’t be more different. The violist had classical training and went through free jazz before arriving to the non-idiomatic music he now embraces, and the guitarrist learned to pluck his ax by himself, moving his path from a minimalist-like drone work and re-discovered fingerstyle in the Delta blues based music.
And that’s what characterizes this duo: even if free in form, even if inovative in terms of vocabulary and the technical procedures used, the music they play has a strong sense of history. Elements of post-serialism and of the trademark conceptions of Xenakis and Lachenmann melt in some way with echoes of Robert Johnson’s playing, and jazz stylings connects with references coming from the written European music of the two last centuries. This meeting of cultures could seem bizarre, but it’s so interiorized by both Ernesto Rodrigues and Manuel Mota that it’s not a matter of fusion or collage. It’s like this music always existed, ready to be performed, as something that is only the result of a continuity and a simultaneity of musical data. Hybrids are the natural cultural objects in this beginning of the 21st century... Rui Eduardo Paes

Ernesto Rodrigues essaie de présenter l’éventail le plus large et le plus remarquable de cette scène qui a étendu ses ramifications un peu partout de Londres à Oslo et de Tokyo à Paris. Il privilégie l’ouverture le plus large possible dans cet univers sonore où les choix musicaux sont fondés sur la restriction et la volonté d’étendre la palette en se limitant à un aspect bien précis du jeu instrumental. Parfois tellement restrictif et limité que cela peut déboucher sur l’ennui. Mais l’ouverture à ces nouveaux sons chez Rodrigues est très éloignée de toute forme de dogmatisme et de complaisance. Il suffit de mesurer la diversité des disques Creative Sources pour s’en convaincre. Jean-Michel van Schouwburg

A Trem Azul, prosseguindo a bem-aventurada série de concertos que tem vindo a promover ao fim da tarde (19h30) na sua Jazz Store, em Lisboa, acolheu desta vez a estreia mundial do Sexteto de Cordas, dirigido por Ernesto Rodrigues. Além do violista e director, a formação inclui Manuel Mota, guitarra acústica; Pedro Costa, violino; Hernâni Faustino, contrabaixo; Eduardo Raon, harpa; e Guilherme Rodrigues, violoncelo.
Durante pouco mais de meia hora, o Sexteto executou duas peças de música delicadamente pontilhística, livremente improvisada, expressas num idioma que, se não totalmente familiar a todos os executantes, se apresentou de modo a fazer com que as diferentes partes se integrassem plenamente na progressão colectiva. Contrastes, dinâmicas vivas e boa gestão de intensidades, criaram uma interessante tapeçaria sonora de tonalidades escuras, como um drone que ia perdendo e adquirindo carga na sua sinuosa e elegante evolução.
Todavia, o mais cativante da performance foi a forma gentil e graciosa como se entrelaçaram as texturas criadas pelos diferentes cordofones, seguindo uma pulsão rítmica interna, irregular e assimétrica, tecida por uma infinidade de fragmentos melódicos, poalha recolhida e reposta em jogo pelo trabalho de sustentação da harpa e do contrabaixo. O resto foi o extravasar da enorme riqueza tímbrica das cordas, num set de música de câmara com muitas arestas, oscilações e inflexões de guitarra, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, ligados entre si por uma corrente de energia criativa, para a qual contribuiram os protagonistas com o que têm: ideias próprias para o colectivo e instantâneo desenvolvimento musical.
Apesar da boa qualidade artística, vezes houve em que se notou algum desinvestimento na direcção musical, com os músicos ocasionalmente “aos papéis”, facto que é, simultaneamente, o mais difícil e o mais fácil de acontecer na improvisação livre – um género em que não há “papéis” e em que “andar aos papéis” é um dos riscos inerentes à prática musical sem rede –, controlo imediatamente retomado no ciclo seguinte, muito porque estes músicos souberam fazer uso do sentido de oportunidade, ouviram-se entre si e comunicaram quando sentiram que o momento era propício.
Pena é que o público do jazz não se interesse, despreze ou não esteja preparado para dar ouvidos a esta música, que é de muito boa vizinhança e interpenetração com aquele género, do qual não é, seguramente, nem degeneração nem abastardamento. Diferentes entre si, têm convivido pacificamente ao longo de décadas, com benefício estético para ambas as linguagens. Mas essas são contas de outro rosário. O que para aqui releva é que o Sexteto de Cordas apresentou ao público uma boa proposta musical, eloquente nos detalhes e delicada nas intersecções espontaneamente geradas. Ideal para apurar o ouvido e despertar a fantasia. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Assentem este nome: Creative Sources Recordings. É uma editora discográfica portuguesa, dirige-a um músico e não um comerciante, Ernesto Rodrigues, e tornou-se no "pivot" das novas tendências internacionais da improvisação acústica e electroacústica, do chamado reducionismo (tocado a um nível muito próximo do silêncio ou integrando mesmo este nas suas construções) ao "noise" que não confunde a utilização de sons declaradamente não-musicais com descargas de adrenalina e testosterona. Possuidora de um longo catálogo de lançamentos que inclui nomes de três continentes, Europa, América e Ásia, esta etiqueta funciona mesmo como o termómetro que assinala o que vai mudando estética e tecnicamente nestas áreas. E com isso está a fazer história, pois nada de semelhante aconteceu antes com um empreendimento português do género. E o curioso é que outras "labels" nacionais seguem já o mesmo caminho, a Clean Feed no que respeita ao novo jazz e a sirr no domínio da electrónica. Não obstante tudo o que de mau tem havido por cá, Portugal está a dar cartas, com o reconhecimento, a atenção e o entusiasmo até da imprensa musical, dos canais de distribuição e dos melómanos de outros países. Os nossos parabéns. Rui Eduardo Paes (Ananana Newsletter)

[…] The first group, assembled by violist Ernesto Rodrigues, were very quiet, with sounds from prepared strings, mouthpiece-less soprano sax and trumpeter Masafumi Ezaki, who at one point drags his instrument across a drum head to make little noises. When Ezaki plays a sustained note, it seems almost perverse. There are beautiful sounds and ugly ones. […] John L Walters (The Guardian)

Enquanto atravessava o Bairro Alto a caminho da ZDB para assistir ao concerto da Variable Geometry Orchestra, dizia para os meus botões esperar uma sessão de livre-improvisação clássica, em passo lento e muito jogo a meio-campo. Surpresa! Adianto já que foi um dos melhores concertos a que assisti este ano.
Na realidade, deparei-me com um magnífico trabalho orquestral, feliz na exploração tímbrica, na difícil administração de 16 egos, autogestão dos tempos de entrada e saída, no saber ouvir, reagir e estar parado – papel fundamental! Notei uma incontável sucessão de pontos de interesse, de que destacaria os momentos de vigorosa progressão com acentuadas subidas e descidas de intensidade, a que só faltou os metais terem correspondido em grito às invectivas rítmicas disparadas de vários pontos da panorâmica, a um passo da explosão total, catarse de uma música que produz e se alimenta de fortes campos magnéticos. Neste aspecto, fez falta um pouco mais de brass, um trombone ou dois (Fala Mariam ou Eduardo Lála teriam sido duas excelentes hipóteses), trompete e outro saxofone, além do tenor de Abdul Moimême e do alto de Nuno Torres, para aumentar a expressividade do colectivo e, sobretudo, servir os momentos mais trepidantes, em que o fogo se torna abrasador, no limite do suportável.
Em acção, a Variable Geometry Orchestra surgiu espontaneamente montada em duas duplas: Manuel Mota (guitara eléctrica, na posição de primeiro violino da orquestra clássica) e Ernestro Rodrigues (viola), à frente, estabelecendo as coordenadas para a atonalidade geral; e lá atrás, José Oliveira (bateria, percussão, excelente uso do bombo e pratos), e Hernâni Faustino (contrabaixo), a ligação perfeita no trabalho de propulsão rítmica a uma só respiração, qual «Faustino & Oliveira, materiais de construção, ilimitada». A eles se ficou a dever parte substancial da coerência e da dinâmica imparável da orquestra. No meio, a ponte entre as duas margens, Sei Miguel, a soltar o risco e o brilho do trompete de bolso, outro dos heróis da noite. Nesta dupla triangulação se apoiou o resto da VGO, informalmente organizada por naipes, na permanente troca de posições, de forma a tornar imprevisível o passo seguinte. Bom trabalho dos cordofones e dos ruidistas (laptop, field recordings, tape, sortido de percussões...), que encheram a panorâmica com pertinência, propósito e leveza. As texturas de fritadeira e gratinado de guitarra preparada e laptop, de impressionante bom gosto, somaram-se às gravações de campo de João Silva e trouxeram um tempero especial ao conjunto, transportanto para o interior de uma música que é tida como música de câmara, sinais sonoros da rua, contrastando urbanidade com bucolismo. Deste modo, a ilusão foi perfeita e enorme o valor acrescentado em matéria de cor e movimento.
O que esta inspirada versão da VGO provou é que há outro jazz emergente, que desponta e se ergue das cinzas do género, apoiado no melhor que a livre-improvisação tem para dar, espécie de tertium genus diferente do que se conhece no panorama das orquestras de free jazz ou de free improv, europeias ou americanas, do passado e da actualidade. Com uma vivência musical muito para além das pré-formatadas regras de organização sonora. Há algo de novo que se conjuga com o que é comum a outras linguagens. O resultado prático foi uma espantosa e empolgante sucessão de quadros musicais expostos com grande convicção, mérito de todos os participantes e em especial de Ernesto Rodrigues, diligente congregador de vontades e organizador sonoro de gabarito.
O espanto foi ainda maior quando fiquei a saber que diante de mim se desenrolara e voltara a enrolar o novelo durante hora e meia, sem que jamais tivesse tido a consciência da passagem do tempo, de tal modo me encontrava em estado de transe e graça musical. Por mim, teria ficado para outro tanto e com muito prazer. Os músicos também, estou em crer. A sessão foi gravada. Para a edição, já!
Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

A Orquestra de Geometria Variável é um projecto liderado por Ernesto Rodrigues, incansável dinamizador na cena da música improvisada nacional. A par com a coordenação da editora Creative Sources (a desenvolver um trabalho cada vez mais notório), mantém uma série de projectos em simultâneo. Há um par de semanas Ernesto estreou o Sexteto de Cordas (notável ensemble acústico onde se destaca a inclusão de uma harpa) e no sábado foi a vez de levar a Orquestra VGO à Zé dos Bois.
Estava inicialmente previsto que se juntassem dezanove músicos em palco, mas a ausência de alguns reduziu o número de elementos para dezasseis – nada de mal, uma vez que, como o nome indica, nesta orquestra a geometria é variável. O propósito anunciado deste grupo era, a partir de livre improvisação combinada acústica e electrónica, conseguir criar uma unidade de som e abrir espaços para o silêncio – “o som rompe do silêncio para nele voltar a mergulhar”, prometia o press-release. E assim aconteceu.
Conduzido pela viola de Ernesto Rodrigues, o grupo seguiu numa extensa viagem musical bem estruturada, numa alternância entre quietude e crescendos desenfreados. Manuel Mota, regressado à guitarra eléctrica depois da experiência acústica no Sexteto de Cordas, foi a segunda voz, sem exageros mas com uma presença forte, envolvente na construção de texturas. Logo depois evidenciou-se a importância da percussão: José Oliveira na bateria (kit personalizadíssimo) e César Burago em simples cowbell (melhor instrumento de sempre, como dizem agora os putos) foram determinantes na caminhada. Sei Miguel, apesar das esparsas aparições, fez o pocket-trumpet (com surdina) brilhar e introduziu novos elementos.
O papel das restantes cordas foi determinante: Guilherme Rodrigues, filho de Ernesto, mostrou-se sempre atento no violoncelo; Pedro Costa (violino) teve pormenores de interesse; Hernâni Faustino balançou no contrabaixo. A dupla de saxofones (Nuno Torres no alto, Rui Horta Santos no tenor) esteve discreta, mas ainda se fez notar nas partes crescentes. Tornava-se difícil identificar propriamente os sons provindos da secção electrónica (field recordings, gira-discos, electrónica, tape), mas o quarteto ia fornecendo ambientes inspirados. E a maior surpresa da noite terá sido a presença do didgeridoo.
Entrando pela emissão de sons inesperados e próximos do sussurro, a música foi crescendo progressivamente, culminando em momentos de grande intensidade de convulsão colectiva. Há uma semana atrás o histórico Telectu fez prova de vida, agora foi tempo da geração presente dar sinais de grande vitalidade na mesma Galeria Zé dos Bois. Num raro momento em que fervilham ideias e projectos na improvisação portuguesa, aguardam-se com curiosidade futuros desenvolvimentos relativamente a este large ensemble nacional, talvez a “nossa” mais imponente formação. Nuno Catarino
(Bodyspace)

Se há coisa que mais distingue as novas práticas da improvisação das “mainstream”, sem ser a utilização do silêncio e o abandono da narratividade nas execuções instrumentais, é o facto de os seus protagonistas preferirem deixar-se levar pelo fluxo dos eventos sonoros em vez de os dirigirem – aliás, a preocupação da “velha” música improvisada com a conclusão das peças chega a ter dimensões algo neuróticas, dada a necessidade sentida de conduzir as situações a todo o custo, seja segundo o modelo estático herdado do free jazz coltraneano, no qual o fim é sempre implicado, ou segundo o padrão desenvolvimentista, cujas mudanças de direcção e de intensidade (as tão irritantes subidas e descidas) justificam o uso do termo “composição imediata” e que, parecendo deixar o final “para depois” no ziguezaguear ou no subir e descer das suas estruturações, não fazem mais do que o anunciar. Pois os chamados “reducionistas”, de que a portuguesa Creative Sources Recordings se tornou no principal porta-voz, não compõem, limitando-se a tocar o que ouvem e a ouvir o que tocam, de tal modo que o tocar é a extensão do acto de ouvir. Os mais recentes lançamentos da editora são exemplos muito concretos desta perspectiva a-linear da música, e se em muitos casos é mesmo de supor um alheamento relativamente a tudo aquilo que define a música enquanto tal, ainda que encarada apenas como “organização de sons” (quase total ausência de dinâmicas, inexistência de repetições, opção pelas parasitagens sonoras e pelo ruído, ou seja, pelos sons não-musicais), a musicalidade surge como uma citação e uma lembrança, na forma de um tom, um breve fragmento de melodia, um harmónico ou uma pulsação, a música remanescente no interior de uma invocação directa (porque não mediatizada musicalmente) do Som, chamada a intervir não para definir ainda estas práticas como coisa musical, mas precisamente para salientar por contraste esse outro estatuto. […] Rui Eduardo Paes

Concerto na Trem Azul Jazz Store. Programado para as 19h30 de 16 de Dezembro, estava o sexteto de Ernesto Rodrigues, passado circunstancialmente a quinteto por impossibilidade prática de participação de Sei Miguel. Com Ernesto Rodrigues (viola, violino) alinharam Manuel Mota (guitarra eléctrica); Alípio Carvalho Neto (saxofone tenor); Guilherme Rodrigues (violoncelo, trompete de bolso) e Elsa Vandeweyer (vibrafone, percussão). Músicos que colocaram cá fora todo o seu potencial, no puro prazer da alma que é dar e receber – tudo aquilo que o diferencia do “negócio” corrente, o deve e haver da hodierna mediocridade contabilística. Sons mil correram de um lado para o outro em aparente auto-gestão. Difícil é tornar isto num sistema, uma linguagem articulada e compreensível. Mais ainda, quando o verbo nasce, projecta-se e interage com os outros, tudo no mesmo momento, que já é passado ainda mal se esboçou. O quinteto soube fazê-lo com sagacidade, dando ao som um corpo, sangue, ossos, músculos, pele e vida própria. O todo, sinergeticamente, foi superior à soma das partes, numa alegoria de sociedade em rede, na qual a comunicação multipolar circula em todos os sentidos, sem um centro tonal ou difusor para além da direcção e das vozes que lhe atribuem o sentido de ente organizado. É a auto-regulação que põe ordem na comunidade específica de discursos e registos, diferentes na sua singularidade, os quais, para se entenderem entre si e fazerem-se entender pelo público, têm que falar um dialecto comum. E falaram.
Free jazz, entendido como outro jazz, tocado hoje por músicos versados em vários léxicos, poliglotas musicais que se inspiram em todo o material sonoro que transportam em si, no momento e na memória. Memória do jazz, tal qual ele se praticou sobretudo desde a década de 60 para cá, da improvisação liberta dos acordes ou inspirada na New Thing, que já não tem a ver com esse processo histórico, mas que dele herdou a liberdade de escolha de métodos, formas, conteúdos, práticas e caminhos, que ajudam à sua compreensão, na medida em que todos os sons são válidos, desde que cageanamente integrados coerentemente no discurso principal. Esta é pois uma prática musical que assenta 100% no imediato, a arte em movimento à procura de algo diferente do que já existe.
Assistir em directo ao desenvolvimento desta música é um desafio que poucos querem permitir-se a si próprios: o de tentar compreender e apreender como é que uma forma de arte evolui de dia para dia, ver o filme (imagens em movimento) em vez da fotografia (imagem estática), que apenas capta o momento único e irrepetível. Sentir a entrega generosa dos artistas, o quanto eles nos querem dar sem nada receber em troca, excluindo a nossa atenção concentrada e o aplauso final. É o desígnio destes mprovisadores que trabalham para manter a chama acesa, convocando-nos para participar activamente no processo criativo, parte do incessante devir que é a vida e a criação artística.
Neste sentido, por tudo isto e pelo mais que é indizível, foi um privilégio assistir à actuação do quinteto liderado por Ernesto Rodrigues, com Manuel Mota, Alípio Carvalho Neto, Guilherme Rodrigues e Elsa Vandeweyer. Espantosa interacção das cordas (Mota a tocar mais alto do lhe costumo ouvir, com um som sólido, potente e granulado, que contrasta bem com a macieza das cordas da viola de Ernesto Rodrigues); Alípio e meter-se bem pelo meio, driblando com o sax tenor potente e volumoso de sempre, na pele de hábil promotor das dinâmicas do grupo. Do outro lado, na ponta esquerda, Vanderweyer alternava entre ataques de percussão marcial e maviosas sonoridades do vibrafone, até encontrar um ponto de equilíbrio entre os dois polos. Guilherme Rodrigues, jovem talentoso possuidor duma rodagem muito considerável, primou nas cordas do violoncelo (que belo som!). Em pocket trumpet lançou clarões de luz para o meio da refrega, picando Alípio C. Neto para um mano-a-mano que atingiu proporções de cuja possibilidade não suspeitaria. Em muito reforçaram essa misteriosa relação entre o que é da dimensão humana e o que pertence à outra, a cósmica, numa predisposição espiritual de intemporalidade que celebra o gosto de criar e de estar vivo em toda a parte.
Música inquietante, expressionista, doce e agressiva, absurdamente grotesca por vezes, angélica noutras – a mesma matéria-prima inerente à condição humana – que não pretende empatizar à superfície, mas causar incómodo bastante para desinquietar e desinstalar as consciências, algumas delas adormecidas por 100 anos de Jazz.
Numa segunda parte, um jantar e três horas depois, na intimidade dos poucos e resistentes circunstantes, tocaram Ernesto Rodrigues, viola e violino; Inês Almeida, violino e viola; Pedro Costa, violino, violoncelo e guitarra eléctrica; Manuel Mota, guitarra eléctrica e viola; Hernâni Faustino, violoncelo; Abdul Moimême, pocket trumpet e guitarra; Travassos, crackle box; e, perdoe-se-me a imodéstia, as grandes revelações da madrugada: Lizuarte “Li Cherry” Borges, magnífico em trompete de bolso; e, para grande surpresa minha, Eduardo Chagas, em crackle box e violino. Sem palavras, mas com muito amor à música. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Ontem foi dia para a comunidade "improv" nacional mostrar a sua vitalidade. A loja Trem Azul recebeu um quinteto liderado por Ernesto Rodrigues, que para além dos habituais acompanhantes Guilherme Rodrigues e Manuel Mota, incluiu dois elementos roubados ao grupo jazz IMI Kollektief: Alípio Neto e Elsa Vanderweyer. Ao contrário do que é habitual nas formações de Rodrigues, desta vez as propostas de aproximação ao silêncio foram abandonadas, em vez disso o grupo deu uma sessão de música free potentíssima. O princípio de noite de sexta-feira observou um espectáculo de música livre intensa, onde os sopros (Alípio no tenor, Guilherme no trompete de bolso) foram determinantes. Nuno Catarino (A Forma do Jazz)

Na terça-feira, o violista Ernesto Rodrigues - acompanhado por Guilherme Rodrigues (violoncelo), Masafumi Ezaki (trompete), Alessandro Bosetti (saxofone) e Angharad Davies (violino preparado) - comandou um barco cuja música parece, muitas vezes, um navio de madeira no alto-mar. As madeiras que rangem, incham, chocam, estalam, o vento e o mar ali perto, a eminência de uma tempestade que não chega a acontecer. António Pires (Blitz)

Over all, Creative Sources is an average label, releasing primarily experimental jazz, improv, indie, and experimental music. However, the downside to this, is alot of the stuff is similar in sound due to the label owner Ernesto Rodrigues participating in alot of the releases. So, to the new-comer to this label, it may come off as a bit tedious. However, apart from that only 'flaw', the label has managed to release alot of excellent and unique music over the years. (Discogs)

[...] Ao lado de gente como Carlos Zíngaro ou Carlos Bechegas fez a história da música improvisada em Portugal. Actualmente gere a editora Creative Sources Recordings, que apesar da reduzida dimensão já editou alguns dos mais importantes músicos europeus e já se tornou uma referência da música improvisada mundial – apesar de em Portugal ser quase desconhecida. Já tocou com músicos de renome internacional como Tetuzi Akyiama ou Hans Koch e actua regularmente em Lisboa apresentando uma variedade imensa de projectos onde a música é concentrada à sua essência e surge livre como necessidade vital. Se neste momento podemos dizer que há uma certa visibilidade para a música improvisada em Portugal, muita da responsabilidade é devida a este homem, improvisador e impulsionador, Ernesto Rodrigues. Nuno Catarino (Bodyspace)

Ernesto Rodrigues’ fine—and very productive—Creative Sources imprint has rocketed into the forefront of improv imprints specializing in various strains of electroacoustic and “lowercase” musics (the labels are oft-debated, so insert asterisks as you please). The latest batch of releases isn’t as consistent as one might hope for, but there are still many rewarding discs, some exceptional moments, and a much-appreciated opportunity to hear new musicians at work. Jason Bivins (One Final Note)

Neste passado sábado a loja Trem Azul foi palco de um espectáculo de música improvisada que reuniu músicos de Madrid e Lisboa. Sob a designação AA Tigre & Free Improvisors, juntaram-se no palco sete músicos que desenvolveram uma notável sessão de improvisação centrada em aproximações ao silêncio, onde a concentração colectiva foi impressionante – ainda mais admirável porque foi a primeira vez que tocaram juntos. A orientação era dada pelos sopros (Andres Velazquez em sax tenor/flugelhorn e Jesus Ramirez na tuba) ao lado de Ernesto Rodrigues (viola/violino), seguindo-se as sugestões oportunas do violoncelo de Guilherme; o clarinete juntava-se às sugestões dos sopros, formando um trio que quase não tocou notas, apenas efeitos; as guitarras (eléctrica e acústica preparada) acrescentavam outros efeitos, por vezes quase imperceptíveis. Depois de dois primeiros temas extremamente sossegados, houve espaço para descomprimir no tema final, com crescendos um pouco mais abrasivos. Inesperadamente, uma união ibérica em improvisação reconfortante. Nuno Catarino (A Forma do Jazz)

O violinista e improvisador português Ernesto Rodrigues anda numa roda viva. Depois dos concertos em Lisboa que fará nos próximos dias (ver detalhes), a 22 de Janeiro inicia uma estada em Berlim (Ausland), onde realizará concertos até 1 de Fevereiro, com o guitarrista luso Manuel Mota.
A 7 de Fevereiro partem ambos em digressão para os EUA, até 4 de Março. Vão arrasar o afamado Seattle Improvised Music Festival, entre 8 e 12 de Fevereiro; dali dão um salto à canadiana Vancouver e depois descem até S. Diego, na Califórnia, com passagem por toda a West Coast. Partirão depois rumo à East Coast, terminando o périplo em Nova Iorque, quase um mês depois. Em cheio! Excelentes notícias da internacionalização da moderna música improvisada portuguesa. E mais, o número de Fevereiro da revista Down Beat traz um artigo inteiramente dedicado ao trabalho de Ernesto Rodrigues. Parabéns, Ernesto! Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

O grupo constituído pelo norte-americano Wade Matthews, por Bechir Saade e pela dupla Rodrigues (Ernesto e Guilherme) forjou uma sessão de extrema de lowercase, sustentada na concentração do quarteto que optou por seguir numa estrada permanente de baixa latitude, sem medo do silêncio - acima de tudo, notou-se uma permanente consciência colectiva. Nuno Catarino (A Forma do Jazz)

A música que os portugueses Ernesto Rodrigues e Guilherme Rodrigues (viola e violoncelo, respectivamente), o norte-americano Wade Matthews (flauta alto, clarinete baixo e laptop) e o libanês Bechir Saade (clarinete baixo, nay) tocaram na primeira parte do duplo concerto dia 17 de Janeiro, na Trem Azul, aproxima-se esteticamente de algumas correntes da composição contemporânea. Explorações musicais em que cada fragmento sonoro encerra conjuntos maiores ou menores de outros sons, harmónicos insinuados pelas cordas contra e a favor dos sopros, contrastando altas e baixas frequências em movimento. Música que em grande medida explora a gestão do silêncio como ausência de som (que não é o mesmo que ausência de música), a frase que se começa a desenhar mas que se deixa propositadamente inacabada, encaixa noutra de imprevisível origem, duração e direcção, que instiga a formação de contrastes e aproximações, matizes diversos de sombra e luz, cambiantes que se mesclam e complementam, notas soltas para quem as quiser apanhar e passar a outro. Ruídos cageanamente integrados na paisagem sonora, construção, ruptura, inflexão, acervo de assimetrias discursivas que se estabelecem propositadamente ao acaso, indeterminadas e instantâneas.
[…] Nada está escrito no papel, como na linguagem, em que a fala precede a escrita. No mesmo sentido, a improvisação serve finalidades de comunicação entre os músicos, e entre estes e o público, resultando na revelação de mundos sonoros complexos e misteriosos, que se posicionam para lá das convenções do tonalismo, atonalismo, reducionismo ou minimalismo, free jazz e livre-improvisação, fruto da interacção consciente entre músicos com diferentes backgrounds, formações, origens culturais e geográficas, irmanados no propósito de criação sonora em comum, em busca de qualquer coisa: outras formas de produção e de escuta musical. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

O Hot Clube é o local sagrado onde religiosamente se reúne e convive a comunidade do jazz português - de um certo jazz, melhor dizendo, já que o HCP tem preferência por artistas e sonoridades mais clássicas e regulares e por norma desdenha quem se aventure em liberdades maiores. Apostado numa programação canónica, são raras as vezes que vemos a cave da Praça da Alegria arriscar projectos free. Foi por isso que nesta passada quarta-feira assistimos com muito prazer à apresentação do auto-denominado “Free Nonet”.
Inicialmente agendado como sexteto, no dia do concerto o grupo estendeu-se num invulgar noneto – uma formação grande, demasiado grande para o minúsculo palco. Ainda assim couberam lá todos, nove músicos portugueses (ou residentes por estas bandas). Alinhados numa dinâmica de free jazz exemplar, os sopros tomaram a dianteira e conduziram a noite. O tenor do brasileiro Alípio Carvalho Neto transbordou energia, o trompete (Ricardo Pinto) procurou espaços para brilhar individualmente (embora descurando o grupo) e o trombone de Eduardo Lala esteve soberbo, tanto a como a interagir com os colegas como a solar sobre o colectivo. Peter Bastiaan dedicou pouca atenção ao saxofone alto, preferindo ocupar-se da percussão, mas teve inspiração para o momento spoken word da noite (Alípio imitou-o, mas sem o mesmo fulgor).
Ernesto Rodrigues surgiu afastado da habitual estética de livre improvisação lowercase e, apesar da agitação tirânica dos sopros, conseguiu impor a voz do seu violino - tarefa difícil mas conseguida com arte. Na guitarra apareceu Luís Lopes, substituto do inicialmente previsto Manuel Mota. Optando por um fraseado guitarra-jazz de pendor tradicionalista, tratou de seguir a direcção do grupo e cumpriu (mas, em todo o caso, seria preferível uma abordagem menos ortodoxa, mais liberta). Rodrigo Pinheiro, um jovem que há poucos meses integrou o projecto “Cobra” de John Zorn, encarregou-se do piano e manteve o bom nível, particularmente intenso nos diálogos com as cordas – o duo com o contrabaixo (Hernâni Faustino) foi do melhor da noite. Na bateria, Rui Gonçalves foi responsável por alguns dos momentos mais fortes e por algumas mudanças de direcção.
O templo foi invadido e os nove conquistadores não se acanharam a impor o seu estardalhaço free. Entre subidas, acalmias, turbulências, paragens, provocações, respostas, sugestões, convergências, dispersões, união e individualidade, foi uma noite de grande música: intensa, cheia, reconfortante. A festa ousou prolongar-se por horas impróprias para gente honesta e trabalhadora, mas ninguém se ralou. Afinal de contas, são sempre de aproveitar as oportunidades em que o Hot se transforma, pleno de liberdade, num verdadeiro Clube. Nuno Catarino (Bodyspace)

Acaba de ser editado o mais recente trabalho do violinista Ernesto Rodrigues. Esta edição é um duo com o alemão Hans W Koch, editado pela netlabel CtrAltCanc. "Nostalgia" é o resultado da combinação de ideias de uma dupla que gera um evoluir constante de texturas que se alimentam progressivamente. Hans W Koch manipula a lógica electrónica, pela intromissão de bips e blips numa cadência marcadamente irregular. Ernesto Rodrigues introduz outros elementos, por vezes registos suaves, outras vezes arrancando à força da viola rangidos da madeira. Seguindo a clássica estética lowercase, raramente a música sobe o volume – uma das raras ocasiões em que tal acontece é no crescendo final da primeira peça. Entre as quatro faixas que preenchem esta edição, "Nostalgia" prende pela atenção microscópica que é dada ao detalhe, a cada instante sonoro, a cada ínfimo pormenor. E, apesar de se tratar de uma parceria, o produto final soa coerente e coeso. Nuno Catarino (A Forma do Jazz)

Ernesto Rodrigues has, of all players in the field of non-idiomatic improv, been the most manifest on the internet, with what is now already his third net-label release (also having his music out on ctrl-alt-canc and Stasisfield). Within this present constellation (together with Libanese avantists Christine & Sharif Sehnaoui) a musical universe is conjured which, lacking any figurative tendencies, can be characterised as a very hylic affair - dealing as it does with the 'lowest' portion of musical matter, letting for no instance of sublimation. The grittiness, the very elemental quality of the sonorities are something of a very coarse-definition blow-up of the respective instrument's material properties (being violin, guitar & saxophone), a white-noise produced by solely analogue mechanics. Under the stress & strain of several extended techniques the acoustic possibilities that these instruments intrinsically possess are elicited from the marrow of their material structure, which is not a pretty picture. It is, in fact, not a picture at all, but rather an instance of the deconstruction of Maya. Mark Pauwen

Somam-se as novidades da portuguesa Creative Sources Recordings, uma das mais dinâmicas editoras independentes do mundo e arredores. E cada vez com maior presença de instrumentos eléctricos e electrónicos, comprovando que as novas tendências da improvisação já não privilegiam o instrumentário acústico convencional, aplicando-lhe técnicas extensivas ou alternativas. Rui Eduardo Paes (Ananana Newsletter)

O concerto da Variable Geometry Orchestra de ontem à noite na ZDB foi um acontecimento altamente estimulante, tanto para quem tocou, como para quem assistiu. Uma hora inteira de música livremente improvisadada, em formato de big band, com um mínimo de organização da parte de Ernesto Rodrigues, que optou por conceder ampla liberdade aos vinte e muitos improvisadores, para fazerem fermentar o som e dar largas ao desenvolvimento da linguagem musical que já é própria desta orquestra. Uma vez mais, Hernâni Faustino e José Oliveira protagonizaram o papel da dupla de propulsionadores rítmicos do melhor que em Portugal existe no género. Souberam impulsionar o colectivo alargado para uma das suas mais interessantes e enérgicas prestações, que encontra referências tanto do jazz como da livre-improvisção. O que faz desta orquestra um caso único, felizmente repetível. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Congregando músicos das mais diversas proveniências, da electrónica à livre improvisação e sem esquecer o jazz, a Variable Geometry Orchestra (VGO), liderada pelo violinista Ernesto Rodrigues, é uma formação de características únicas no panorama das músicas improvisadas em Portugal.
No passado dia 1 de Abril, a Galeria Zé dos Bois proporcionou-nos uma das raras ocasiões para assistir a uma actuação ao vivo deste agrupamento de alargadas dimensões.
Uma das novidades deste concerto, fazendo jus à própria designação da orquestra, foi o assinalável incremento do número de músicos participantes, que agora quase chegou aos trinta. Este engrossar das fileiras da VGO, que na actuação anterior havia “apenas” contado com dezasseis elementos, consistiu essencialmente no reforço do naipe dos sopros, secção menos bem representada face à crescente preponderância da instrumentação electrónica na estratégia da orquestra.
Destaque, assim, para os regressos de músicos como Rodrigo Amado e Eduardo Lalá, e para a estreia de um saxofonista que muitas cartas tem dado ultimamente – Alípio Carvalho Neto. No entanto, ao equilíbrio instrumental que Ernesto Rodrigues procurou conferir ao conjunto contrapunha-se um risco acrescido – a susceptibilidade de tanto as madeiras como os metais se sobreporem sem grandes dificuldades aos demais instrumentos. Se a isto somarmos as dificuldades inerentes às condições acústicas da sala, um espaço manifestamente exíguo para a dimensão da orquestra, o que obrigava os músicos a disporem-se muito perto uns dos outros, não havia dúvidas que estávamos perante uma performance de elevado risco.
A verdade é que ao longo da quase hora de música que nos foi proporcionada, todos os intervenientes demostraram estar à altura dos desafios que a priori se colocavam. Pese o facto de alguns destes músicos nunca antes terem tocado entre si, o tutti funcionou sempre como uma unidade consistente e equilibrada, prevalecendo entre os elementos da orquestra o espírito de interacção e comunicação sem o qual um projecto desta natureza dificilmente poderia vingar. E atestando isso mesmo, Ernesto, como coordenador de esfoços e sensibilidades, apenas pontualmente foi obrigado a interferir no rumo dos acontecimentos, mas sem que com isso constrangesse em demasia a liberdade criativa dos músicos.
Em linha com outras actuações, um aspecto a louvar neste concerto foi o facto de a VGO ter evitado seguir de forma declarada e previsível os ensinamentos de predecessores emblemáticos neste género de experimentações (Sun Ra, Globe Unity ou London Improvisors Orchestra). Por exemplo, se as notas de apresentação do concerto deixavam antever uma aposta assumida numa estratégia de alternância entre irrupções expressionistas e períodos de serenidade e acalmia, sentiu-se, bem pelo contrário, que as situações fluíram com naturalidade e ao sabor da inspiração e intuição conjuntas.
De referir também que raras vezes um ego sobressaíu. Aliás, duas foram as excepções em que tal aconteceu. Primeiro foi Eduardo Lalá, um músico que se sente à vontade tanto em contextos de música escrita como improvisada, que sobreluziu num poderoso e pujante solo. Depois, e já perto do final, Peter Baastian irrompeu da assistência para, numa entoação grave e sibilina, declamar densas e inspiradas galimatias, naquela que acabou por ser uma das maiores supresas da noite.
Volvida mais uma importante etapa de maturação da VGO, os próximos concertos, que se espera virem a ocorrer com mais frequência do que os anteriores, virão certamente confirmar que este é um projecto com amplo potencial de evolução. E, no seguimento do que nos tem sido dado a apreciar, é provável que as suas preocupações assentem no aprofundamento de dois vectores essenciais – a exploração das inúmeras possibilidades de desdobramento das várias secções orquestrais, e a efectiva e eficiente explanação de texturas e nuances instrumentais.
Ficamos então a aguardar por novos desenvolvimentos. João Aleluia (Jazz.pt)

A cada concerto, a VGO / Variable Geometry Orchestra renova-se em graus que se assinalam e registam entre o ínfimo e quase imperceptível, e o passo de gigante entre a formulação precedente e aquela que já fica próxima no horizonte dos nossos desejos de liberdade, movida por um motor potente que ruge nas suas expressões mais variadas, criando jogos intermodais de abstracção profunda – utopia de liberdade plena, reflectida num corpo orquestral com personalidade em construção, mas em que habitam sinais identitários próprios.
Neste melting pot da comunidade improvisadora de Lisboa, sucedem-se os quadros e os momentos de beleza massiva e extravagante. Entre o momento inicial e o estertor final, evocam-se sons próximos e longínquos, novas e antigas imagens visuais projectam-se num espaço de grandes porporções, onde se desenha o nascente e o poente, e em que a energia explode numa tridimensionalidade espectral que nos sacode corpo e espírito.
O que fica na memória é uma catedral em que habitam sentimentos que perduram na partilha da experiência radical, entre a catarse e o êxtase abrasador. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Foi um Acontecimento! A VGO é um acontecimento!
Foi a primeira vez que a vi. Terei estado no mar ou em Marrocos mas sempre em lua nova, com certeza...
Foi cataclítico! Uma catarse! Uma Big Ban(g)d!
(Quando dei por mim estava debaixo dum umbral de porta, agarrado a um beiral, não fosse a casa vir abaixo...).
Para mim, mais do que isto só o Sun Ra em Vilar de Mouros em 1982. Parecia-me impossivel poder-se chegar tão perto... engano meu, com a VGO tudo há-de ser possível!!!
Continuemos!
Sempre!
Obrigado. Rui Portugal (Jazz e Arredores)

Foram boas as propostas apresentadas em série pelo trio que agrupou Alípio Carvalho Neto, Luciano Vaz e Ernesto Rodrigues para uma sessão de improvisação livre ao cair da tarde, intramuros da Jazz Store da Trem Azul, à Rua do Alecrim, em Lisboa.
Aliciante era, à partida, poder assistir em directo à maneira como os três músicos, com backgrounds diferentes e estilos muito diversos, iriam suscitar e resolver os problemas postos por esta especial forma de comunicação e criação musical, potencialmente reforçada pelo facto de os três nunca antes terem tocado juntos.
Percursos e discursos pessoais diferentes e no entanto três músicos com uma característica comum: a vontade de se questionar e de procurar outras formas de expressão individual e colectiva, enquanto extensões do trabalho anteriormente produzido, ou como rupturas com métodos e fórmulas habitualmente praticadas, mercê das novas possibilidades sonoras que só podem nascer do compromisso que os músicos estabelecem entre si, tacitamente. O processo é o da comunicação via improvisação total; o fim, assume uma face dupla: o da criação musical estimulada pelo ambiente de ampla liberdade e simplicidade formal; e a entrega ao público, instantaneamente, dos resultados assim obtidos.
Alípio Carvalho Neto investiu em novas soluções harmónicas no saxofone tenor, explorando com eficácia técnicas e enunciados caros a um estilo híbrido de jazz e de improvisação livre, a caminho de se transfigurar através do enriquecimento da sua própria linguagem. Luciano Vaz, violoncelista de orquestra sinfónica (Rio de Janeiro), de passagem por Lisboa, lançou-se por caminhos de pesquisa sonora que remetem para um universo próximo da composição contemporânea. Bom improvisador (tive a oportunidade de assistir a três das suas apresentações ao vivo em Lisboa, em diferentes contextos e formações), subtil, delicado e atento aos detalhes do ambiente sonoro geral, que instigava e ao qual reagia, Luciano Vaz soube gerir com parcimónia esse poder que está na mão do músico improvisador: o de intervir e o de saber escutar, para de novo entrar no discurso.
Ernesto Rodrigues, dos três porventura o músico mais familiarizado com a “teoria” e a prática da improvisação livre, deu uma importante contribuição para a solidez da proposta global, introduzindo as nuances e os matizes de cor e textura que o desenvolvimento das operações pedia, problematizando a direcção e orientando o fluxo colectivo da improvisação em trio.
Para a despedida de Luciano Vaz, fechando o ciclo da sua estadia entre nós, está em curso a preparação de um concerto final de improvisação livre, com violoncelo, saxofone tenor, violino, trombone e percussão, a ter lugar esta semana, em Lisboa. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

[...] Para o fim do festival ficou guardada a actuação da Variable Geometry Orchestra. Esta orquestra, dirigida por Ernesto Rodrigues, apinhou o palco da loja Trem Azul com duas dezenas de elementos. Partindo da improvisação livre, a música segue através das múltiplas sugestões individuais, quebrando-se nas indicações (breves, sóbrias mas marcantes) do maestro Rodrigues. A estrutura da instrumentação deste grupo começa por sugerir uma aproximação ao free jazz (pela utilização de inúmeros sopros), mas acaba por enveredar por estéticas variadas – o que é derivado também da utilização de instrumentos menos usuais (tapes, acordeão, electrónicas). Se a multiplicidade de sugestões é enorme, a sua exposição acaba por ser reduzida, ficando comprometida pela sobreposição constante das vozes. Ainda assim há espaço para alguns momentos individuais - Alípio C. Neto, Sei Miguel, Peter Bastiaan ou Ernesto Rodrigues, por exemplo. Nas diversas formas de música que ali surgiram sobrepostas, a aposta VGO valeu enquanto laboratório de experimentação total. Foi um final de risco para um festival que conciliou músicos consagrados com outros ainda em crescimento, entre o jazz e a improvisação. Nuno Catarino (Jazz.pt)

Trio de trombone, guitarra acústica e viola. Mathias Forge (trombone) e Cyril Epinat (guitarra acústica) músicos franceses de Lyon, em curta digressão pela Europa (segue-se Barcelona), encontraram-se com o violinista português Ernesto Rodrigues para uma sessão musical descontraída que compreendeu dois temas compostos e executados em directo. Assumida a iconoclastia face às várias tradições musicais que assentam no uso da melodia e das regras rítmicas e harmónicas da música ocidental – característica das novas correntes da improvisação livre – o trio, refractário ao uso do fraseado convencional, empreendeu a sua jornada musical tocando os instrumentos em toda a extensão, mais enquanto artefactos geradores de som, que na sua utilização tradicional. Tal abordagem incluiu os aspectos periféricos da execução, remeniscente da musique concrète (sons fragmentados que se aglutinam para formar um contínuo coerente) ou no granulado digital dos laptops, transposta, reformulada e adaptada para um ambiente acústico de baixo volume, a exigir do ouvinte total concentração para melhor apreciar os interessantes jogos de interacção tímbrica. Aconteceu terça-feira passada, 30 de Maio, na Trem Azul Jazz Store, em Lisboa. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

A sexta sessão do ciclo “Der Gelbe Klang (O Som Amarelo)” recebeu a denominação “Contraposições” e agregou um quinteto de cordas. Foi uma ocasião rara para assistir ao encontro entre dois dos maiores improvisadores portugueses contemporâneos, ambos violinistas: Carlos Zíngaro e Ernesto Rodrigues. A estes dois, juntou-se um trio multinacional: Noid (violoncelo, austríaco), Ulrich Mitzlaff (violoncelo, alemão) e Miguel Leiria Pereira (contrabaixo, português).
Ao contrário do que aconteceu nas anteriores, esta sessão foi completamente acústica - e também despida de complementos (vídeo/multimédia) - concentrando a atenção toda na composição sonora. Os músicos participantes neste quinteto, formado propositadamente para a ocasião, não deixaram os créditos por mãos alheias, forjando uma sessão de improvisação de nível superior. Começando por utilizar uma panóplia de métodos e recursos recrutados à livre improvisação, a música seguiu por formas surpreendentemente harmonizadas.
Com os maiores pontos de interesse situados entre a viola de Ernesto e o violino de Zíngaro, a dupla de violoncelos (Mitzlaff/Noid) expandiu as camadas sonoras, respeitando as ideias dos colegas mas introduzindo elementos próprios. O contrabaixo acabou por ser, até pela própria natureza, o menos interventivo, actuando na sombra em nome da conciliação colectiva. Trabalhando quase sempre com arco, os cinco elementos do quinteto foram desenvolvendo as suas ideias assentes numa lógica colectiva.
Como se guiados por uma estrutura invisível, os músicos seguiram pelas variações e picos, alcançando um intenso grau de musicalidade exclusiva. Com uma manifesta consciência histórica, o quinteto “Contraposições” foi recolhendo inspirações de épocas e estilos diversos, elaborando elevados níveis de melodia em organização instantânea. Das várias sessões promovidas por este ciclo da associação Granular esta terá sido, sem grandes dúvidas, a mais compensadora. Nuno Catarino (BodySpace)

Perante um público interessado e entusiasta, a Variable Geometry Orchestra, em formato de média dimensão (14 elementos) actuou ontem, 12 de Junho, à noite (22h00) ao ar livre numa praça do Centro Histórico de Abrantes, no âmbito das festas populares que ali decorrem de 9 a 14 de Junho, comemorativas dos 90 anos da elevação de Abrantes a cidade.
Foram executadas duas peças de composição instantânea, uma de exposição mais demorada e outra muito curta, breve epílogo a rematar a actuação de cerca de uma hora, preenchida com longos drones sucessivamente sobrepostos, ricos em tonalidades quentes. Sons de cordas, saxofones, acordeão, melódica e clarinete, combinados com as asperezas dos metais e o anguloso da electrónica (digital e analógica) e da percussão, elevaram a música a momentos de tamanha intensidade, fervor e clímax sonoro, alternando com ambientes mais suaves, impressionistas e quase melancólicos, na descida aos subterrâneos.
De novo à superfície, intervalados por passagens de alto volume e densidade polifónica, perigosas e ameaçadoras no seu enunciado, serviram os diferentes andamentos de plataforma para a moderada exposição solística por dentro e por cima da massa sonora, explorando as nuances tímbricas dos instrumentos e a imensa paleta de recursos, tonalidades, movimentos rítmicos e texturas que caracterizam o som da VGO. Que cada vez mais se refina e concentra na subtil exploração das imensas possibilidades da improvisação colectiva, exponencialmente alargadas através da (re)combinação harmónica de todos os sons válidos e disponíveis entre as alturas celestes e os infernais abismos. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Dass die reduktionistische Improvisation in Lissabon mit dem Label von Ernesto Rodrigues (*1959, Lisboa) einen Brückenkopf gebildet hat, ist in BA immer wieder einmal kurz aufgeblinkt, mit 23 Exposures (CS 003), Ficta CS 005), Assemblage (CS 007), Tidszon (CS 014) & Kunststoff (CS 017). Neben Arbeiten der Labelmacher selbst, tauchten dabei Namen wie UNSK, Martin Küchen und Birgit Ulher auf. Was bisher aber nur Vermutung war, ist nun Gewissheit, Creative Sources hat sich zu einem kleinen Paralleluniversum der ‚stillen‘ Musik entwickelt, zu einem in Portugal lokalisierten, aber weltumspannenden Sammelbecken für Experimente am Rande des Hörbaren und des Beinahenichts. Dazu mit einem Hausdesign, meist von Carlos Santos, das feine Entsprechungen für die Klangwelten zu finden versucht. (Bad Alchemy)

A versão da Variable Geometry Orchestra que actuou sábado, 23 de Junho de 2006, no Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito do ciclo "Músicas no Átrio do TNDM II, à Meia-Noite", deu bem a medida da reacção química que se produziu durante os perto de 45 minutos que demorou a exposição de música composta, harmonizada e executada em directo, sob a direcção de Ernesto Rodrigues. Ernesto parametrizou a música através de breves indicações dadas aos executantes sobre tempo, dinâmicas e intensidade requeridas em cada um dos andamentos, desde o início marcado pelo sincopado das baixas frequências da electrónica de Adriana Sá, até à grande massa sonora que explode, estilhaçando em todas as direcções. Free jazz e improvisação orquestral ao serviço da reinvenção do conceito de big band. Catarse colectiva apontada em direcção ao espaço, com os mais diversos apontamentos pelo meio, linhas cruzadas e sucessivas de duos, trios, quartetos, a que se foram adicionando outros instrumentos, num trabalho colectivo de grande envergadura.
Nessa medida, é absolutamente fascinante sentir o chão a tremer debaixo dos pés, como se a música irrompesse do centro da Terra e explodisse magnífica diante dos músicos e do público, que enchia por completo a sala. Espaço que chegou a ser exíguo para conter os infindável labirinto de corredores harmónicos, a luxuriante selva de texturas que naturalmente se agrupam em estruturas que são elas próprias momentos de improvisação colectiva de elevado calibre, que abriram espaço para breves intervenções solísticas de Jorge Lampreia (flauta e saxofone soprano), Alípio Carvalho Neto (saxofone tenor) e Sei Miguel (trompete de bolso), a partir das quais o grupo, ouvindo e reagindo às indicações, extrapolou para os mais diversos clusters de associações tímbricas, até tudo se diluir na grande voz – energia assustadora, beleza primitivista e sofisticada na sua complexa simplicidade. Música que transcende os seus próprios limites, montada numa arquitectura sonora que se eleva às alturas, para depois implodir e retomar ao ponto em que se lança a primeira pedra. Vida, liberdade e celebração. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

«Um concerto da VGO é um acontecimento cada vez mais intenso, marcante e exultante! Desta vez, foi a segunda coisa mais importante que me sucedeu desde o último concerto da VGO que vi, na Trem Azul (e que tinha sido o primeiro). Já agora, digo que a coisa mais importante que me sucedeu desde então foi o adiamento sucessivo da partida do meu navio, e poder ter estado ontem a ouver um dos maiores acontecimentos em música que alguém poderá presenciar!!! A todo o pessoal OBRIGADO, pela música, bem-estar e satisfação proporcionada!!! E que estas fotos, singela colaboração e agradecimento meus, vos revejam nesse acontecimento enorme! Já posso ir descansado e contentíssimo para a Polónia – e já nem os buracos do navio e os riscos esforçados me atormentarão! Um abraço a todos e VGO Sempre!!!» – Rui Portugal (Jazz e Arredores)

Com as duas últimas saídas ("Intersecting a Cone with a Plane" (cs069), do trio Ricardo Arias/Günter Müller/Hans Tammen, e “Alud" (cs070), da dupla ibérica Pablo Rega e Alfredo Costa Monteiro, a editora de Ernesto Rodrigues, Creative Sources Recordings, perfaz o número redondo de 70 títulos colocados no mercado. É obra! Sobretudo num segmento – o da chamada nova música improvisada – em que os escolhos, atenta a putativa “dificuldade” do produto, são bem maiores que os vividos no mercado do jazz, pois escassíssimas são as recensões ou referências críticas nos media, a imprensa, a rádio ou a televisão incluidos, que, por junto, nem meia nota de rodapé apresentam. Cá na Paróquia, atrasada, a acefalia da crítica “institucional”, jovem ou bastante usada, foge disto como o diabo da cruz, mais por preconceito, tacanhez ou ignorância, que por quaisquer razões intrínsecas ao produto musical. Nesta matéria, estamos conversados.
Num trabalho de paciência e dedicação, mercê de uma escolha criteriosa do produtor e da tomada de decisões editoriais baseadas numa escuta atenta e ponderada, a Creative Sources Recordings publicou setenta títulos cuja qualidade média é bastante elevada, e assim nos dá a oportunidade de nos familiarizarmos com boa parte do que melhor e mais esteticamente relevante se vai passando no mundo da moderna música improvisada. E isso, por si só, deve constituir motivo de orgulho para qualquer cidadão decente, despreconceituoso e musicalmente interessado. Nota alta para o trabalho de Carlos Santos, autor da quase totalidade das capas, que interpretam e acompanham graficamente o conteúdo do produto que embrulham. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

[...] Likewise, the work of Lisbon-based duo Ernesto Rodrigues (viola) and Manuel Mota (guitar) begins with brief chatter or strings and rings, and swells to a rich musical conversation. [...] Kate Silver (Seattle Weekly)

Hello Pessoal!
Mais um acontecimento inexcedivel, ontem, com a VGO!!!
Não tão cataclítico como na minha primeira vez (Trem Azul), nem tão telúrico
como na segunda (Teatro D. Maria II), mas como numa montanha russa, tão variado,
imprevisto, intenso e até simples, cheio de oportunidades individuais, a
mostrar que a calmaria também existe e que o silêncio, ou quase, também é
possível; que num todo se transformam num arrebatamento planante, a terminar
numa praia, com um largo sorriso de contentamento e felicidade por mais este glorioso acto desta nossa orquestra de variáveis geometrias.
Venham mais!!
SEMPRE!
Um abraço a todos e OBRIGADO! Rui Portugal (Jazz e Arredores)

Quanto maior for a memória do ouvinte, mais vasto é o vasto acervo de memórias do jazz e da música improvisada reconhecíveis no nomadismo da Variable Geometry Orchestra (VGO), todo um amplo espectro de sinais de música moderna, actuais e de outros tempos, que lhe servem de inspiração e motor interno. Sob a direcção de Ernesto Rodrigues, a VGO, actuando um vez mais no palco da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, pôs em prática o seu trabalho de modelagem sobre massa sonora compacta e homogénea, entrecortada por breves solos, pontos de partida para “conversas” no interior de pequenos conjuntos, secções organizadas como naipes circunstancialmente subdirigidos por Patrick Brennan, à direita, e Alípio C. Neto, do lado esquerdo. Jogos interactivos de improvisação, linhas melódicas, permutações, ensaios de contraponto, simultaneidade, provocação e resposta, contraste e aproximação, grito, transe, imprecação, dança caótica de cordas, teclas, sopros e electrónica, batidos por fogachos, labaredas rítmicas, explosões de címbalos, ou simplesmente dispostos sobre as brasas de percussão. Preparações alternando entre a ocasional chuva de meteoritos sobre os telhados da vizinhança e o bombardeamento sonoro em larga escala, acentuado pelo uso de notas longas, exacerbação súbita, paroxismo transformado em drones fantasmagóricos que se fundem em extensões de magma sonoro, a perder de vista. Apostado em aprofundar o trabalho sobre variações dinâmicas – uma das vias de orientação a seguir na incessante busca de diferentes soluções para este puzzle gigantesco –, a orquestra consegue ser tão eficaz na acção devastadora do seu poderio sonoro, como na subtil e delicada enunciação, emergente da estrutura massiva e dos profundos alicerces em que se estrutura o vasto campo de experimentação e de improvisação colectiva. Com a VGO a viagem é sempre longa e sem escala. Em cima do palco, mais de 30 músicos pintaram a manta e detonaram cargas de profundidade em longos crescendos de intensidade, curvas de frequências que estimulam neurónios e insuspeitas secções da alma, sem no entanto revelar o núcleo essencial do segredo que colectivamente transportam e que a ninguém individualmente é dado o poder de conhecer. Qual nave que se projecta no espaço, que visa ir cada vez mais longe na exploração do desconhecido, a Variable Geometry Orchestra, ultrapassando os seus próprios limites musicais e os obstáculos físicos do meio que a suporta, permite ver e sentir o mistério que está para lá de um ponto qualquer. Não se sabe como, nem para onde se vai a seguir; mas o que quer que seja que lá está emite sinais de vida.
Livre, selvagem e surpreendente. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

A apresentação do mais recente título da discografia de Ernesto Rodrigues marcou o regresso às actuações ao vivo, após um breve interregno estival, de alguns dos mais activos músicos da “cena improvisada” de Lisboa.
Agendado para uma terça-feira de Setembro num espaço pouco habituado a acolher eventos deste tipo, a Galeria Armazém (Bairro Alto), o programa proposto consistia, numa primeira parte, na actuação dos três protagonistas do disco Drain (com Ernesto Rodrigues na viola, Mathieu Werchowski no violino e Guilherme Rodrigues no violoncelo), aos quais se juntariam, numa segunda parte, o contrabaixista Hernâni Faustino e o percussionista Monsieur Trinité.
O trio que deu início ao concerto cedo deu mostras do porquê da gravação de um disco em conjunto.
Desde o primeiro minuto que Werchowski e Ernesto demonstraram um entendimento notável, um magnetismo que foi devidamente secundado pelo outro Rodrigues, um violoncelista que, se inicialmente deixou transparecer um certo alheamento, preferiu manter-se afastado das mirabolantes geometrias que se teceram entre violino e viola, antes se concentrando na configuração de microscópicos apontamentos e delicadas estridências, assumindo-se assim como um inesperado instigador de novas situações e ideias musicais.
Na segunda parte, com as entradas de Hernâni Faustino e Monsieur Trinité, o panorama foi radicalmente diferente. Com efeito, o alargamento do espectro tímbrico e, em particular, a participação de um contrabaixista de raiz e inspiração essencialmente jazzísticas, permitiram o esboçar de um ténue edifício harmónico. Esta estrutura de fundações efémeras acabou por conferir uma maior previsibilidade à acção musical, que por ora se desenvolvia à luz de binómios de tensão/distensão e densidade/rarefacção. Uma nota no entanto para o apoteótico final deste set, com Ernesto e Werchowski, num derradeiro assomo de cumplicidade e intuição, a conduzirem o esforço colectivo para um belo e intenso clímax. João Aleluia (Jazz.pt)

There seems to have been a slight breather in the production schedule of the excellent Portuguese label Creative Sources. But, as spring has ceded first to summer and now autumn, Ernesto Rodrigues’ imprint is in full bloom again. Jason Bivins (Bagatellen)

Ces quatre cédés Creative Sources présentent différentes collaborations du responsable du label, le violoniste et altiste Ernesto Rodrigues, avec son fils Guilherme au violoncelle et à la trompette de poche. Comme très souvent chez Creative Sources, pochettes très soignées et environ une quarantaine de minutes. Prise de son excellente et très « rapprochée » donnant un relief étonnant aux manipulations instrumentales « bruitistes ». Oranges (CS 068 -2006), car Bortoukal  signifie l’orange (le fruit) en arabe, de même en grec « portokali ». Portugal, vous y êtes. Cette équipe portuguaise qu’on entend au grand complet avec Oren Marshall dans Kinetics déplace le centre de gravité de l’improvisation radicale vers le sud. Les frère et sœur Christine et Sherif Sehnaoui (sax alto et guitare dans Undecided) sont de Beyrouth, tout comme Bechir Saadé (clarinette basse et ney dans Oranges). Wade Matthews vit à Madrid et son passage à Lisbonne est l’occasion d’une belle rencontre. Les deux clarinettes basses et les flûtes de Matthews et Saadé insufflent une véritable sensualité aux bruissements secs et sophistiqués des Rodrigues. Les interventions électroniques de Matthews ajoutent une dimension dynamique bienvenue à part égale avec les instruments. Cette musique mérite vraiment plusieurs écoutes, malgré sa simplicité apparente.
Undecided (CS 072 -2004) mélange les frottés, grattés, percutés etc… du violon et du violoncelle des Rodrigues avec la guitare de Sehnaoui jusqu’ à l’unisson bruitiste. On distingue les égosillements du sax alto et la vibration de l’air du bocal qui clapotte dans cette mare improbable. J’aime particulièrement la fin de la première plage (Sitting on a Fence). On est là très loin de la ligne claire de Drain (CS 075 -2006). Graduation, la première plage est un remarquable exercice vibratoire des sons les plus ténus qui mène à un lent glissando expressif. Ce trio, où on distingue clairement les sons de chaque instrument sans trop savoir lequel, est dans le prolongement des albums de l’année 2002 d’Ernesto Rodrigues. Sudden Music (CS 002), Ficta (CS 005), Assemblage (CS 007) et le quartet de cordes de Contre Plongée (CS 011- 2003) mettaient en valeur les attaques très particulières des cordes du violon et du violoncelle jusqu’au bord du silence. Un son sec, toute la gamme des col legno, coll’arco (sous tous les angles), sul ponticello, sul tasto, avec la mèche, saltellato,  battuto, des pinçages, piquements, frottages, harmoniques, l’étirement du son vers un aigu inouï, crissant, évocation du travail des boisselleries dans un atelier d’ébénistes sadiques. Le violon est préparé sur la touche, les cordes vibrent peu, l’archet frotte la pique, les clés, le chevalet, les cordes « avant » les doigts sur la touche. Le ventre de l’instrument crie ou murmure. Une approche sonore inspirée de la musique électronique, reproduisant ses nuances spécifiques. Drain, c’est la quintessence de l’art des Rodrigues illuminé par des pointes de lyrisme  (Mathieu Werchowski ?). J’ai toujours le sentiment que les instruments à cordes de la famille des violons se révèlent mieux leur nature profonde qu’en restant entre eux. Drain le conforte une fois de plus.  Le très beau Light transite depuis les vitesses concurrentes de chacun à travers des frottements ralentis à l’unisson. Dans la galaxie des improvisateurs radicaux éclairés par l’ex-réductionnisme de Berlin (Axel Dörner, Burkhard Beins), l’ex-London New Silence (Rhodri Davies, Mark Wastell, Phil Durrant), la personnalité  de Radu Malfatti et la quartertone trumpet de Franz Hautzinger, Ernesto et Guilherme Rodrigues sont des personnalités de choix et cet album en est une excellente illustration.
Ernesto a une longue expérience de la musique contemporaine qui l’a mené à l’improvisation totale. Il en découle une véritable réflexion esthétique. Bien qu’ils aient des idées et une approche très pointues, les deux Rodrigues s’adaptent avec une véritable ouverture à la musique d’autres improvisateurs. C’est manifeste dans Drain où leurs manipulations bruitistes s’ouvrent naturellement à la personnalité de Mathieu Werchowski. On l’entend aussi dans Oranges, Undecided et Kinetics. Kinetics (CS 043 -2004) est le volet suivant de l’échappée soft-noise entamée dans les albums Kreis (CS 020 -2004) et Diafon (CS 041-2004). Le quintet post-industriel, où l’air du tuba de Robin Hayward complète les sons gris de Carlos Santos, électronique et graphiste maison,  évolue avec une belle logique ponctuée de silences et parsemée d’événements sonores concis. On retrouve le percussionniste José Oliveira, présent dès Multiples (CS 001-2000), leur premier album, frottant toujours aussi discrètement la surface de ses peaux et cymbales en symbiose avec ses acolytes. Un art de la retenue et de l’éclatement contrôlé des formes dans lequel les deux cordistes s’intègrent au point qu’on oublie l’instrument. Huit plages – indices enchaînent ou séparent les mouvements d’un flux sonore qui s’apaise et s’agite comme dans un battement de cil. Les instruments se mélangent et se distinguent les uns des autres, ajoutant ou soustrayant des timbres au paysage sonore, unique interlocuteur de leurs gestes ralentis. L’interactivité dialoguiste de l’improvisation libre « traditionnelle » est ici bannie au profit du pendant musical d’un surfacisme pictural privilégiant les gris, les bruns, les noirs. Au diable, les inflexions suggérant la parole et le chant, l’ivresse de la vitesse et les couleurs des fleurs. En considérant l’évolution de la musique d’Ernesto Rodrigues et de sa fratrie à travers les compacts Creative Sources, on peut dire que Drain, leur dernier, est tout à fait bienvenu. Ce serait aussi la meilleure introduction à l’univers de nos deux cordistes portuguais pour ceux qui n’ont pas encore eu l’occasion de les découvrir. Jean Michel Van Schouwburg

Mais um capítulo do trabalho sonoro de grande magnitude que a Variable Geometry Orchestra tem vindo a fazer na exploração das múltiplas conexões entre experimentalismo contemporâneo, electroacústica e free jazz. Os vários andamentos revelam aspectos que vão da delicadeza à grande massa, percursos de progresso de uma realização para outra, espectro emocional sem limites. A caminho de encontrar uma nova linguagem que há-de dominar as tensões que se jogam em cada momento, o jogo de forças centrífugas e centrípetas que se organizam espontaneamente em blocos multiformes, desfazem-se, reagrupam-se de novo e são já outras. Transcendendo formas e estilos, a VGO bebe em todas as fontes e tece uma longa teia de significados, algo que se estrutura no momento a partir do som puro. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

[…] A primeira parte esteve a cargo do violinista Ernesto Rodrigues, que teve a companhia do filho Guilherme Rodrigues (violoncelo) e de Pedro Rebelo (laptop/electrónicas). Apesar do concerto não ter sido longo - cerca de meia hora - os músicos explanaram concretamente as suas ideias, desenvolvendo texturas e micro-sons a partir das abordagens pouco convencionais aos instrumentos. A electrónica de Rebelo foi o principal foco de interesse do trio, particularmente pelo modo como se adaptou ao universo da música reducionista dos Rodrigues – atenção à vaga de discos que acabam agora de ser editados na Creative Sources. […] No final do solo de Rowe o trio luso subiu ao palco para uma sessão em conjunto com o inglês. O laptop ficou desligado e Rebelo atacou as cordas do piano, a dupla Rodrigues explorou as madeiras dos instrumentos respectivos e Keith Rowe deixou-se estar discreto, com um ou outro pormenor. Conclusão: a cena experimental está bem viva e recomenda-se. Nuno Catarino (Bodyspace)

Orquestra de Geometria Variável? Tudo menos quadrados. Mentes abertas. Mais de 30 músicos (de alto gabarito individual) juntam-se para criar fusão, rebelião, superação.Só porque sim. Só porque sai. Só porque soa. Violino, viola, violoncelo, baixo, guitarra portuguesa, voz, trombone, tuba, clarinete, vários trompetes e saxofones, guitarra eléctrica, acordeão, electrónica, didgeridoos, percussão, bateria... Uma salada musical frenética? Um agri-doce nomadismo musical de comunhão e uma ecléctica partilha entre instrumentos que querem ir mais alto, só por ir e sem olhar a destinos concretos. Não sabem de onde vêm nem para onde vão. Nem importa. Eles são liberdade criativa selvagem e explosiva, ali roçar o génio esquizofrénico. Se parecer que foram apanhados a meio de uma viagem inter-galáctica, não estranhem. Entrar na Trem é entrar na nave. Garantido é que vão ver estrelas. Joana (LeCool Magazine)

Uma editora na alvorada do século XXI
Indicam as estatísticas que Portugal não é um país de empreendedores.
Por empreendedorismo entende-se a capacidade para empreender, para tomar iniciativas, e entre os aspectos característicos de uma cultura empreendedora contam-se a auto-confiança, a aptidão para criar, e a propensão para assumir riscos e inovar.
Se de tais asserções são carentes uma diversidade de sectores de actividade em Portugal, o mesmo dificilmente poderá ser defensável no campo do jazz e das músicas criativas neste país produzidas. Com efeito, e sem nos referirmos propriamente à praxis do jazz e da improvisação, que são, por natureza, práticas musicais que incitam ao risco e à inovação, o surgimento de um conjunto de projectos editoriais “made in Portugal” neste início de século tem sido um fenómeno que coloca Portugal – pelo menos neste domínio – a par dos países mais empreendedores da Europa.
Criada em 2001 por iniciativa do violinista e improvisador Ernesto Rodrigues, a Creative Sources Recordings é, no plano contemporâneo, uma das mais importantes editoras portuguesas.
A principal motivação que subjazeu à criação da Creative Sources foi a necessidade premente de um conjunto de músicos estabelecidos em Lisboa, na altura praticamente marginalizados e esquecidos pela indústria discográfica nacional, em divulgar o trabalho que até aí vinham desenvolvendo.
A verdade é que, dois anos volvidos sobre o arranque do projecto, o âmbito de edição da editora se alargou, extravasando pela primeira vez limites territoriais: primeiro com o disco “Ura” do trio de origem catalã I Treni Inerti, e depois com a edição do projecto No Furniture dos alemães Axel Dörner, Kai Fagaschinski e Boris Baltschun.
Tendo a Creative Sources surgido em 2001, portanto no auge da ortodoxia da “nova” forma de música improvisada e semi-improvisada que no final do século XX havia emergido em algumas capitais europeias – e à qual se tem atribuído as designações de “reducionismo”, “lowercase” e “near silence” – não foi de estranhar que tivesse adoptado alguns projectos internacionais conotáveis com esta “nova” vertente estética.
No entanto, o que poderia numa fase inicial parecer a edição episódica de projectos de músicos estrangeiros, veio pelo contrário a revelar-se um eixo fundamental na estratégia editorial da Creative Sources, e um “driver” essencial para a sua afirmação internacional.
A pouco e pouco, as mais destacadas cenas do chamado reducionismo – Londres, Berlim, Tóquio e Viena – foram encontrando representação na editora, mas também se abriram portas a outros centros menos divulgados, como Paris, Barcelona ou Beirute.
Será contudo necessário sublinhar que a Creative Sources é uma editora que não se circunscreve a um balizamento estético rigoroso e inexoravelmente predefinido. Com efeito, para além de uma sequência de projectos mais ou menos alinhados com as tendências reducionistas acima mencionadas, a editora tem também abraçado algum jazz de inclinação free (atente-se nos trabalhos de Stefan Keune, Lars Scherzberg ou Nush Werchowska), algumas realizações na área da improvisação electroacústica (veja-se, por exemplo, os discos de Günter Muller, Jason Kahn ou Grundik Kasyansky), assim como uma série de outros músicos cujas idiossincrasias não os permitem associar a escolas ou a correntes específicas.
Hoje em dia, e seis anos após a edição do seu primeiro opus, a Creative Sources continua a afirmar-se como um projecto editorial sólido, consolidado e auto-suficiente. E, gozando de um estatuto que a permite considerar como o barómetro das novas tendências da música improvisada, a Creative Sources salienta-se ainda das demais editoras da especialidade por ser uma das mais prolíficas da actualidade, contabilizando-se no seu catálogo, em Dezembro de 2006, o impressionante número de 80 títulos publicados.
Depois desta breve panorâmica sobre a editora, passamos de seguida a uma caracterização mais aprofundada das suas propostas, tendo em atenção àquelas que consideramos ser as suas principais linhas de força: trabalhos de músicos portugueses (1), projectos de músicos estrangeiros (2) e solos instrumentais (3).
Devido a restrições de espaço, apenas nos debruçaremos neste número sobre o primeiro eixo de actividade da Creative Sources – trabalhos de músicos portugueses – deixando a análise dos eixos remanescentes para a próxima edição da Jazz.pt.Trabalhos de músicos portugueses – a afirmação de uma cena musical nacional
A vida da Creative Sources é indissociável do trajecto artístico que o seu criador, Ernesto Rodrigues, tem vindo a construir desde o momento em que teve a iniciativa de avançar com este projecto editorial. Efectivamente, ao participar em 15 dos 80 títulos já editados, não será um exagero se dissermos que os seus discos constituem a espinha dorsal da editora.
Abarcando um período de aproximadamente seis anos (de 2000 a 2006) – e pese o facto de se tratar de um espaço de tempo relativamente curto para que a sua evolução estética e criativa possa ser segmentada em etapas claras e inequívocas – podem destacar-se dois momentos fundamentais no percurso de Ernesto Rodrigues.
O primeiro corresponde ao final do ano de 2001, um período de mês e meio de elevada actividade e que conduziu à gravação de 3 CDs. Este “momento” marca a transição de uma abordagem fortemente enraizada na “escola” inglesa de improvisação para uma postura demarcadamente focada no silêncio, austeridade e contenção do discurso musical.
O segundo “momento” corresponde ao ano de 2004, o ano da maturidade e da definitiva emancipação estilística de Ernesto Rodrigues, e que também se consubstanciou na fase de maior fertilidade discográfica do músico – datam deste ano cinco dos quinze trabalhos da sua autoria editados pela Creative Sources.
Tendo presente a importância destes momentos na actividade de Ernesto Rodrigues, arriscamos nas linhas que se seguem uma panorâmica sobre o seu percurso, socorrendo-nos para esse efeito de alguns exemplos musicais.
Gravados com sensivelmente um ano de diferença, em 2000 e 2001 respectivamente, os dois primeiros trabalhos de Ernesto Rodrigues na Creative Sources – Multiples e 23 Exposures – caracterizam-se pela influência da “insect music” desenvolvida pela primeiríssima geração de improvisadores britânicos, muito em particular o Spontaneous Music Ensemble, mas também Evan Parker e Derek Bailey.
Ambos os discos partilham, assim, de um conjunto de linhas orientadoras comuns: a configuração em trio, a preferência pela miniatura e o desenrolar da acção musical pautada por uma abordagem reactiva, convulsa e fragmentária.
É também de ressalvar o facto de a formação de Multiples apresentar dois dos mais assíduos colaboradores de Ernesto Rodrigues: o percussionista José Oliveira e o seu filho Guilherme Rodrigues, destacando-se neste último, que à data da gravação contava apenas 12 anos de idade, a forma notável como se identifica com o espírito da criação musical espontânea.
Um mês decorrido sobre o registo de 23 Exposures, seguir-se-iam as gravações de dois trabalhos muito importantes na discografia de Ernesto Rodrigues – Sudden Music e Ficta. Entramos no “momento” de transição a que nos referíamos acima. O silêncio começa a ser integrado de forma deliberada e consciente na música de Rodrigues e seus pares. Peças de curta duração cedem lugar a extensas e espaçosas composições espontâneas. Sobre-estimulação, verticalidade e abundância discursiva deixam de se manifestar, soçobrando perante a primazia da tranquilidade, horizontalidade e de longos momentos no limiar do audível.
Se Sudden Music corresponde na perfeição a estas especificidades, Ficta vai um pouco mais além: crepitante e intenso, este é um trabalho de natureza mais corpórea, e onde é conseguido um melhor balanço entre som e a (quase) ausência do mesmo.
Em ambos os registos, José Oliveira revela-se um interveniente de seminal preponderância. Libertando-se de um “modus operandi” de inspiração eminentemente britânica (Roger Turner, Tony Oxley e o próprio John Stevens), Oliveira surge aqui mais próximo de percussionistas como Lê Quan Ninh ou Garth Powell, denotando uma aproximação cintilante e cristalina aos objectos percussivos.
É notório nestes dois discos (e nos que se lhes seguiram) um certo alinhamento com as práticas reducionistas que atingiam por esta altura na Europa o ponto de maior estoicismo e abstinência. No entanto, não deve ser descurada a enorme importância da música erudita do século XX no trabalho de Ernesto Rodrigues, sobretudo dos compositores da escola de Nova-Iorque (muito em particular John Cage e Morton Feldman) mas também de criadores europeus como György Ligeti ou Helmut Lachenmann.
Os dois anos seguintes, 2002 e 2003, iriam ser de consolidação das experimentações estéticas empreendidas em Sudden Music e Ficta. Da actividade neste biénio resultaram quatro discos: Assemblage, Cesura, Contre-Plongée e Dorsal. Desta sequência de trabalhos, o destaque vai, sem quaisquer dúvidas, para Cesura, um quarteto constituído por Ernesto e Guilherme Rodrigues, Alfredo Costa Monteiro e Margarida Garcia.
Das inúmeras interpretações que se podem fazer do título desta obra – que pressupõe a existência de um corte, de uma cisão com alguma coisa – a mais evidente é a exclusão do até aí alter-ego de Ernesto Rodrigues, o percussionista José Oliveira. Implicação: se o distanciamento perante as noções convencionais de melodia e harmonia era já um dado adquirido, consubstanciou-se agora a ruptura com qualquer veleidade rítmica que pudesse ainda subsistir. Composições de configuração anamórfica, sons que aparecem e se desvanecem num átimo, trepidações e rumores – são estas algumas das propriedades predominantes neste trabalho. Cesura resulta assim num álbum mais telúrico e sombrio que qualquer dos anteriores, e é também aquele onde o exercício de uma abordagem textural e reducionista atinge o zénite.
2004 viria a ser um ano charneira no percurso de Ernesto Rodrigues. Este ano assinala o momento da definitiva autonomização do músico em relação às determinações estéticas de correntes musicais específicas (sejam estas os “princípios” de acção-reacção da escola britânica ou o near-silence radical da cena “onkyo” japonesa), o que se traduziu, fundamentalmente, na exploração de um campo de possibilidades mais alargado e no desenvolvimento de um corpus de trabalhos de maior diversidade estilística.
O aumento das colaborações de Ernesto Rodrigues com músicos estrangeiros e a reincorporação de dispositivos electrónicos nas suas formações – cuja ausência remontava à gravação de Self Eater and Drinker, com Jorge Valente, em 1999 – muito contribuíram para o enformar deste rumo evolutivo.
É importante sublinhar que nas duas primeiras gravações de 2004, Kreis e Kinetics, a adopção da electrónica não se materializou numa ruptura com os predicados dos trabalhos anteriores.
Carlos Santos, cuja participação na Creative Sources se resumia até aí ao grafismo dos discos da editora, foi quem se encarregou, nestas duas obras, da componente electroacústica. Sobretudo em Kinetics, um quinteto com Ernesto e Guilherme Rodrigues, Oren Marshall, José Oliveira e o próprio Carlos Santos, sai reforçada essa ideia de continuidade com os trabalhos precedentes. Sente-se mesmo um certo construtivismo na abordagem conjunta, um doseamento equilibrado de esforços e sensibilidades. Carlos Santos, pelas linhas subtis e subliminares que tece a partir do seu laptop, é um elemento primordial na ligação entre os vários músicos, também ele contribuindo de forma exímia na elaboração do assemblage tímbrico de aparência cuidadosa que caracteriza este Kinetics.
Ainda a propósito de Carlos Santos, é preciso não esquecer o trabalho ímpar que este tem vindo a desempenhar enquanto responsável pelo design gráfico da Creative Sources, uma correspondência feliz entre som e imagem que marca indelevelmente a editora desde o seu primeiro opus.
Os dois registos que se seguiram, Diafon e Undecided (A Family Affair), diferem substancialmente dos anteriores. A principal novidade aqui consiste na introdução, pelo menos de uma forma mais aberta e acentuada, de princípios de distorção, ruído e volume.
Diafon, um trio com Ernesto Rodrigues, A. Costa Monteiro e Barry Weisblat, é, até à data, o disco mais “anti-académico” de Rodrigues. Para este efeito, e por oposição aos caminhos explorados em Kreis e Kinetics, a manipulação electrónica preconizada por Barry Weisblat soa impura e imperfeita, conferindo ao espaço acústico uma densidade abrupta e dilacerante.
Embora num plano distinto, a mesma postura parece estar presente em Undecided. Neste disco, onde os Rodrigues se juntam a Christine e Sharif Sehnaoui, há efectivamente uma aproximação às concepções de “noise”, sincretismo instrumental e distorção da matéria sonora que encontramos em Diafon. Pleno de intensidade e entrega, sente-se a omnipresença de uma força inquietante e opressora, que pode inclusivamente ser entendida como uma premonição das fatalidades bélicas que viriam a assolar o país de onde são originários os Sehnaouis, o Líbano...
A concluir este périplo pela discografia de Ernesto Rodrigues, passamos em seguida às gravações de data mais recente, Oranges e Drain, ambas registadas no ano de 2006.
Oranges é um quarteto que para além dos habituais Rodrigues conta nas suas fileiras com o libanês Bechir Saade e o americano radicado em Madrid Wade Matthews.
Contrariamente à ideia que o título poderá deixar transparecer, este é o álbum mais ecléctico e colorido do violinista, facto este que não será alheio aos diferentes backgrounds musicais e culturais que aqui se confrontam e entrecruzam. Não obstante esta heterogeneidade de referências, há uma intersubjectividade notável entre os músicos, uma compreensão mútua das oposições e correspondências entre os respectivos instrumentos, em suma, uma identificação estética permanente e fecunda.
Finalizamos então com Drain, um trio em que o violinista francês Mathieu Werchowski se junta a Ernesto e Guilherme Rodrigues. Este trio de cordas é, em certa medida, um dos trabalhos mais surpreendentes de Rodrigues. Abundante em intersecções, deslizamentos e corridas ziguezagueantes, a exuberância discursiva que encontramos neste registo traz à memória a “insect music” dos seus primeiros trabalhos. Contudo, o aspecto que maior admiração poderá causar é o facto de Ernesto Rodrigues, um músico anti-virtuosístico por natureza, fazer aqui a demonstração mais categórica da sua superlativa técnica instrumental (ainda que seja justo reconhecer o mesmo em relação a Werchowski).
Podemos dizer, à guisa de balanço, que três características fundamentais sobressaem dos seis anos de actividade de Ernesto Rodrigues aqui recenseados – adaptabilidade, solidez e capacidade em surpreender e inovar. No entanto, o maior mérito que se lhe deve reconhecer, e que encontra um natural reflexo nos discos acima analisados, é o importantíssimo papel que este tem desempenhado na dinamização da cena improvisada nacional, seja pela estimulação da comunidade de músicos local, seja por via das inúmeras colaborações com músicos estrangeiros. João Aleluia (Jazz.pt)

VGO The hot and unforgiving Sahara wind decided to answer the calls of Nirankar Khalsa and the Sudani gang by paying us a visit! The result was a thermometer rise way above the 90’s. On this occasion the VGO went to play in the black curtain clad room of the BOMBA SUICIDA where the many fans, scattered throughout the floor, did little to alleviate the heat surge. The band was closing the night so it had a scarce 30 min. to show what it was worth. The music sounds just like the thick atmosphere in which it was played: densely textured and hot! Ibson Barreto da Silva

Geometrias regulares e irregulares na forma e no conteúdo, fluidez, densidade, respiração, elementos visuais associados à progressão sónica, reinvenção acústica espácio-temporal. Vocabulário e pensamento musical colectivo feitos de muitas linguagens convergentes que brotam duma multitude de fontes. Os sinais instigam os acontecimentos, a trip de energia. Naipe de cordas, secções de sopros e de percussão, electrónica de gratinados e ondas oscilantes, pulsão jazz – tudo revisto e aumentado no que ao potencial de contraste tímbrico e textural diz respeito. Música que, a um tempo, transporta em si um exercício de memória, repristinação de vários segmentos do passado – do seu próprio passado – e de página em branco, o momento anterior à consciência.Tribalismo e tentação afro, o drone que arrepia, sons que nascem e se desvanecem sem se saber de onde nem por onde, interpenetração de motivos, nuance, tensão rítmica, explosão, policromia, climax, som total. Um mundo de sonoridades inquietantes que instauram a perplexidade. Outro concerto da Variable Geometry Orchestra, sinfonia para improvisadores envolvidos no processo de ouvir e transformar. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

Em seis anos de actividade editorial a Creative Sources Recordings afirmou-se no plano internacional como uma das mais relevantes etiquetas especializadas nas novas tendências de improvisação. Com mais de oitenta discos editados até ao presente momento, a editora fundada e dirigida por Ernesto Rodrigues vem documentando de forma surpreendentemente activa as movimentações nas músicas improvisadas neste início de século XXI, tendo-se focalizado principalmente em redor da estética reducionista (mas não só). Para além de ter registado trabalhos dos mais importantes exploradores nacionais (Margarida Garcia, Rafael Toral, Sei Miguel), fazem parte do catálogo da editora nomes de referência como Tetuzi Akiyama, Günter Müller, Oren Marshall, Rhodri Davies, Axel Dörner, Mazen Kerbaj, Dan Warburton, entre vários outros. No entanto, a maior fatia de contributo criativo para o catálogo da editora vem do seu próprio líder, Ernesto. Participante em quinze álbuns, o violinista explora em cada situação diferentes instrumentações, registos e colaboradores, apresentando em cada disco um trabalho fresco, ímpar, irrepetível. Estudioso do compositor Emmanuel Nunes, Rodrigues advoga que a composição está presente no seu trabalho, mesmo que seja trabalhada em tempo real e não seja evidente. Sobre este facto, afirmou numa entrevista ao Bodyspace: “Mesmo quando se improvisa, há uma gestão/estruturação de materiais contínua em tempo real e a minha formação passa sem dúvida pela absorção de inúmeros conceitos e métodos que intrinsecamente se ligam à sua fortíssima personalidade musical e humana.” A exploração textural e sónica que Ernesto Rodrigues faz da viola (ou, ocasionalmente, violino) é apenas uma extensão do seu trabalho musical, que tem na interacção talvez a parcela mais importante. Estes sete registos aqui referenciados documentam a fase mais recente da produção de Ernesto Rodrigues (2005/2006) e são uma mostra irrefutável de dinâmica e fulgor criativo. [...] Nuno Catarino (Bodyspace)

Com formação clássica e a influência da escrita musical contemporânea, em especial a de Emmanuel Nunes, mas actividade na área da livre-improvisação e do chamado “near silence”, a grande paixão do violinista e violista Ernesto Rodrigues é claramente o free jazz. [...] Rui Eduardo Paes

Creative Sources nous a habitué à l’innovation expérimentale et aux changements d’habitude d’écoute parfois difficilement appréciable par le commun des mortels, même le plus entiché, vu leur production pléthorique. En quelques années, le catalogue de CS a atteint le numéro 091 (Keune/ Schneider/Kramer : The short and the long of it). Plusieurs de leurs parutions toutes récentes font appel à des artistes plus « réussisseurs » ou « substantiels » qu’«essayeurs » ou « radicalement espacés » voire « tentativistes de l’extrême». Ces appréciations dépendent de vos expériences, bien entendu ! [...] En conclusion, Creative Sources, une structure autofinancée par les artistes publiés, maintient le cap de la découverte et de l’innovation. Mais ses récentes productions se focalisent nettement moins sur le formalisme quasi conceptuel (abrupt pour certains) et la nouveauté per se, les enregistrements solo et l’électronique, et plus sur l’exigence organique d’improvisateurs expérimentés et une véritable diversité. Une belle réussite. Jean-Michel Van Schouwburg

A primeira parte serviu para o grupo tomar a temperatura à sala, cheia com um público heterogéneo, entre curiosos, desatentos, palradores compulsivos, e uma larga maioria de público disponível para se deixar desafiar pelo desconhecido. Ajustados os níveis, feito o aquecimento e preparados os processos, o quarteto arrancou então para uma segunda parte a todos os títulos memorável. Desde logo, pela empática associação entre o trio formado por Ernesto Rodrigues (violino), Manuel Mota (guitarra eléctrica) e José Oliveira (percussão), três dos mais destacados improvisadores da cena lusa, com muitos anos de experiência nos mais diversos cruzamentos e intersecções. À partida o desafio era deveras interessante, posto que Rodrigues, Mota e Oliveira são uma fórmula testada, capaz de nos surpreender pela qualidade e diversidade da oferta estética em cada momento. Ao trio base inicialmente previsto e anunciado, juntou-se o saxofonista alto Nuno Torres. Excelente ideia, aditar este reforço de última hora. Porque o som de Torres tem propriedades acústicas que casam na perfeição com as demais. Daí a naturalidade com que entrou no fluxo, acrescentando um som de saxofone moderno e personalizado.
Para o Jazz às 5.ªs do CCB, a proposta do trio passado a quarteto foi pensada e mentalmente estruturada como uma sessão de improvisação livre, desenvolvida em várias direcções, reconhecíveis como pertencentes às estéticas da livre-improvisação europeia, da música contemporânea de base escrita, e do free jazz moderno, neste último caso, com poucos pontos de contacto com o vocabulário do free clássico, mesmo quando, numa passagem ou outra, se sentisse a presença espiritual do Revolutionary Ensemble, de Jerome Cooper, Leroy Jenkins e Sirone.
Iniciado o andamento, ressaltou de imediato a afinada disciplina de grupo, combinada com a mais ampla liberdade de comunicação, sem quebras ou hesitações na gestão das dinâmicas. Momentos meditativos, subidas graduais de intensidade, trajectórias de crescente tensão, controlo e explosão multicolor.
Nas duas peças de fundo, e a nível individual, destaque para a percussão assertiva e multicolor de José Oliveira, a abrir espaços para as entradas do violino de Ernesto Rodrigues, com passagens expressivas por toda a gama de registos, secundado pela guitarra pós-Bailey, electrizante, esfalfada e virada do avesso, de Manuel Mota, e pela sobriedade rica e elegante do som do saxofone alto de Nuno Torres, que, conhecendo embora as invenções de Evan Parker e John Butcher, segue a sua própria via de afirmação por paragens onde também se pode encontrar o saxofonista francês Heddy Boubaker, por exemplo.
Mais importante que pôr em evidência o trabalho individual de cada improvisador, importa referir que o concerto valeu sobretudo pelo trabalho de escultura sonora. Nessa medida, assinale-se a forma empática como os quatro músicos souberam ouvir-se, reagir e interagir. Musicalidade e controle da energia articulados modo a fazer funcionar o processo criativo enquanto actividade de grupo – o fulcro da música improvisada moderna. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)

A abertura do Sources Fest ficou a cargo do agrupamento formado por Ernesto Rodrigues (viola), Guilherme Rodrigues (violoncelo, rádios), Nuno Torres (saxofone alto) e José Oliveira (percussão). Enquadrável no âmbito das incursões pela estética “reducionista” que E. Rodrigues tem encetado ao longo dos últimos anos, deste concerto importa sublinhar duas ideias fundamentais. Em primeiro lugar, a sensação de que a sua música caminha lentamente para a incorporação de elementos estruturais e composicionais, não só por se ter sentido uma sintonia perfeita entre os membros do quarteto, como também pela relativa facilidade com que se puderam identificar distintos períodos de pesquisa textural. Em segundo lugar, ressalva-se o facto de a recente inclusão de Nuno Torres no ensemble de E. Rodrigues se ter revelado uma escolha frutífera e particularmente acertada, ele que se adaptou de forma irrepreensível à linha estética que Rodrigues procura veicular neste projecto. João Aleluia (Jazz.pt)

[...] a VGO de Ernesto Rodrigues encerrou em grande nível o primeiro dia do Out.Fest 07. Enchendo o palco do Auditório Municipal com quase trinta músicos, a Variable Geometry Orchestra mostrou uma notória evolução relativamente às suas primeiras actuações. Mesmo com um número imenso de músicos a trabalhar em simultâneo, Ernesto já se conseguiu impor como maestro e consegue controlar melhor a massa sonora gerada pelo grupo. Já não se trata propriamente de “caos sonoro”, a música aqui produzida – mescla de instrumentação acústica e material electrónico – reproduz algumas características individuais dos diversos músicos intervenientes (Sei Miguel, Rafael Toral, João Pedro Viegas, António Chaparreiro, Nuno Torres, Adriana Sá, Abdul Moimême, o próprio Ernesto Rodrigues, etc.) e consegue ser, em simultâneo, um veículo único de unidade sonora plena de energia. Nuno Catarino (Bodyspace)

Foi um dos concertos que mais gostei de "ouver" e registar. Foi aquele em que mais fotos tirei - de facto, acho que nunca desliguei a máquina (mesmo correndo o risco de ficar sem pilhas) e devo ter visto o concerto mais através da máquina que directamente pelos meus olhos !!! As fotos poderão ser semelhantes, mas reportam sempre diferentes tempos e sons que fazem a grandeza do concerto e da Orquestra. Foi também o concerto mais homogéneo e em que o Ernesto se apresentou mais dirigente, condutor e mentor do melhor colectivo global que a orquestra já formou. Enfim... a VGO surpreende-nos sempre, e é essa sua capacidade que faz com que eu procure não falhar um concerto, mesmo nos dias em que velhas glórias da música e do jazz também se encontrem a tocar em Lisboa, como ontem aconteceu!!! Um abraço a todos e VGO Sempre! Rui Portugal (Jazz e Arredores)

A alegre confusão da Variable Geometry Orchestra
Assistimos aos preparativos e a um concerto de uma orquestra rara no mundo. Nunca ensaia e tem uma formação sempre diferente. Faz “música improvisada contemporânea”, explica o mentor, Ernesto Rodrigues.
Já passam das seis da tarde de sexta-feira, 12 de Outubro, quando os membros da Variable Geometry Orchestra (VGO) começam a preparar o soundcheck na sala 2 da Casa da Música. Chegam em pequenos grupos, com instrumentos às costas e vão-se instalando. A maioria veio de camioneta, meio de transporte adequado para trazer de Lisboa cerca de trinta membros. Um pequeno grupo de músicos é do Porto, que se estreiam nesta orquestra peculiar, sem paralelo em Portugal e rara no mundo. Ao todo, 33 pessoas subiram ao palco da sala 2. Não ensaiaram para o concerto – aliás, a orquestra nunca tem ensaios.
Pensada e comandada por Ernesto Rodrigues, improvisador e compositor experimental com 30 anos de carreira, a VGO faz algo de único: une diferentes expressões das músicas experimentais, do pós-free jazz, à electrónica, à música contemporânea. Não é uma orquestra de free jazz, nem de electrónica (como a MIMEO), mas é tudo isso e mais ao mesmo tempo. Faz “música improvisada contemporânea”, resume Ernesto, em conversa com o Ípsilon na cantina da Casa da Música, uma hora antes de entrar em palco.
“Este é um projecto de uma envergadura quase megalómana e que tem uma certa importância. Reúne a nata da improvisação nacional – nem é a nata: é o leite, é quase tudo”, diz, sem falsas modéstias, o mentor da orquestra, fundada em 2000. Nos anos 70, Ernesto chegou a tocar com José Afonso, Fausto, Sérgio Godinho e Jorge Palma, mas começaria a desenvolver pouco depois a sua paixão por compositores como Ligeti e Stockhausen.
Em cada concerto, a VGO apresenta-se com uma formação e dimensão diferentes (peças de várias actuações estão registadas no triplo “Stills”, disco de estreia da VGO agora editado). Tanto podem ser 15, como 20, como até 40 ou mais. Ernesto é o único membro fixo, mas músicos como o violoncelista Guilherme Rodrigues (filho de Ernesto, com apenas 19 anos) e o baterista José Oliveira têm marcado presença regular nos concertos da orquestra que se tem apresentado sobretudo em salas pequenas como a Galeria Zé dos Bois e a associação Bacalhoeiro, em Lisboa.
Voltemos ao soundcheck. Já passam das oito da noite, a fome começa a apertar. O palco é um rebuliço de sons desordenados, obrigando Ernesto a gritar, de vez em quando, “pouco barulho!”. Nuno Rebelo (ex-Mler Ife Dada, hoje livre improvisador com múltiplos projectos) usa um arco para tocar furtivamente no violoncelo de Guilherme Rodrigues, que retribui o gesto na guitarra eléctrica de Rebelo. Ernesto ri-se: “Podem fazer esse número no concerto”. Nuno e Guilherme cumpriram a sugestão.
“Há uma certa desresponsabilização que é boa se utilizada no sentido de aligeirar”, conta um muito sorridente Nuno Rebelo. Apesar de já estar habituado a tocar na VGO, nunca sabe o nome de toda a gente. “A par disso há uma grande alegria, um prazer muito lúdico de tocar com outros músicos”.
Ao contrário de muita da dita “música contemporânea”, a música da VGO não é sisuda. É lúdica, plena de jogos, é orgia de mil músicas em suspensão, a engolirem-se mais ou menos anarquicamente. Ernesto é o simpático condutor que pede, através de gestos comuns, a determinados músicos que toquem, vigorosa ou calmamente.
Mas os membros são sempre livres de desobedecer. “Se me ignoram, normalmente é mau porque a música fica caótica. Mas já aconteceu. E às vezes sou eu próprio que deixo as coisas fluírem naturalmente, e depois, quando acho que é necessário intervir para dar alguma forma ou para controlar um certo caos, intervenho. Mas tudo isto é muito subjectivo: o que é caótico para mim pode não ser para ti”.
Orquestra elástica
“O que é especial na VGO é o seu carácter não efémero”, diz João Henriques, um dos “infiltrados do Norte” nesta encarnação de uma orquestra “em que há 33 pessoas a criar” e não a seguir uma partitura.
Oriundos de São Francisco, Estados Unidos, John Gruntfest (saxofone alto) e Megan Bierman (saxofone tenor) são outros dos infiltrados da noite. Inicialmente não estavam no cardápio, mas a natureza elástica da orquestra presta-se a estas surpresas. “Viemos fazer um documentário sobre a nossa banda, chamada The Greatest Little Big Band in the History of the Megaverse, em Mértola”, dizem os dois experimentados músicos. Gruntfest (pinta de jazzman veterano, casaco, boné e sapatilhas) dirigiu, entre 1979 e 1982, a Free Music Festival Orchestra de São Francisco, com a qual a VGO partilha semelhanças.
“É bom estarmos em Portugal e ter esta comunidade de músicos a acolher-nos”, confessa Bierman, para quem a integração num grupo tão grande de músicos desconhecidos é simples.
Eduardo Chagas, músico e crítico de jazz, começou a participar na Orquestra de Geometria Variável a convite de Ernesto, depois de ter visto e elogiado concertos da mesma no seu blogue “Jazz e Arredores”. A orquestra “está a funcionar como um viveiro para outros projectos. Recebe e dá”, observa este observador atento da cena experimental portuguesa.
Também Chiara Picotto, italiana fixada em Lisboa, passou de ouvinte da VGO a membro da orquestra. “Foge um bocado à definição de música enquanto coisa melodiosa, com estrutura. O que me fascina é a liberdade. É música elástica, os limites não estão traçados”, dizia antes do soundcheck.
Quatro gerações
Durante o concerto, Chiara cantou o que pareciam ser sons pré-linguagem, enredados no jardim de sons que a orquestra ia produzindo. Outros avistamentos: Ernesto a comandar os naipes (metais, electrónica, percussões, etc.) de um lado para o outro pelo palco e a tocar violino a espaços; um grupo de computadores Apple a gerar electrónica subliminar durante quase todo o concerto, com direito a uma passagem só para eles, sem outros instrumentos; Guilherme Rodrigues a retirar sons da madeira do violoncelo; um saxofonista a transformar-se, por momentos, num cantor; o neozelandês Damian Stewart a fotografar a orquestra onde veio parar por acaso; Abdul Moimême a tocar o seu saxofone tenor fora do palco; crescendos alienígenas em que jazz, electrónica e outras músicas se misturam e digladiam e momentos de quase silêncio ou de destaque de um só instrumento.
Antes, o saxofonista soprano e flautista Jorge Lampreia explicava-nos a “riqueza desta música”: “É música-música”, que vale mais pela “capacidade de audição enquanto se está a tocar” do que pela “técnica dos instrumentistas”. Ernesto Rodrigues: “Isso é uma coisa que está patente nestas novas músicas. É mais importante saber estar do que ser virtuoso. Conheço muita gente que toca muito bem mas se vier tocar aqui só faz asneiras. Há que saber estar, saber gerir o silêncio com o fortíssimo, com os pianos, com os “tuttis”, os solos, as dinâmicas, os andamentos, os timbres – a música é feita disso. A riqueza tímbrica e tudo o resto é o que mais me seduz numa orquestra. É uma panóplia infindável”.
A existência de uma entidade como a VGO assinala a boa saúde das músicas experimentais em Portugal, nomeadamente em Lisboa. A cidade tem vindo a fortalecer um circuito de locais, agentes e público interessado, sendo habitualmente assinalada a força do experimentalismo português por oposição ao da vizinha Espanha. “Stills”, o disco da VGO, é o centésimo da Creative Sources, editora fundada em 1999 por Ernesto Rodrigues que é presença habitual nas páginas de crítica de publicações especializadas como a “The Wire”.
A orquestra é sintoma deste estado de coisas e potencia colaborações entre diferentes gerações de músicos. Já há quatro gerações de experimentalistas em Portugal (Ernesto é da segunda) e todas já participaram na VGO, assinala o mentor do projecto.
Guilherme Rodrigues, filho de Ernesto, é o rosto dessa quarta geração. Não é habitual aos 19 anos um rapaz estar a improvisar com músicos tão reconhecidos, mas Guilherme começou ainda mais novo. Tinha 11 anos quando entrou num disco, improvisando com o pai e José Oliveira. “Desde que nasci, que ‘levo’ com isto em casa”, conta. “Estudo no Conservatório e toco na Orquestra Sinfónica Juvenil, mas gosto muito mais de improvisação livre”. Ernesto conclui: “Esta linguagem é universal. Os arquétipos são os mesmos”. Pedro Rios (Jornal Público)

Creative Sources is probably the first label to conjugate mass-production with quality. Despite having reached the enviable number of 100 releases, and several "interested" criticisms by other label owners notwithstanding, Ernesto Rodrigues' activity and constant quest for self-expression has allowed a large number of otherwise scarcely known worthy improvisers to release intriguing documents of mostly non-idiomatic sonic exploration, music whose excellent level is by now demonstrated and confirmed by a worldwide recognisability that has affirmed the Portuguese imprint as a reference name in the new music world.

Massimo Ricci's choice of ten CS records which constitute a good introduction to the label for the newcomer, while also being among the best of its production :

DORSAL – Ernesto Rodrigues, Manuel Mota, Gabriel Paiuk
CAPACIDAD DE PERDIDA – Ruth Barberan
POLLEN – Ute Wassermann, Richard Barrett
THE DUCHESS OF OYSTERVILLE – Chris Forsyth, Nate Wooley
KREIS – Ernesto Rodrigues, Michael Thieke, Guilherme Rodrigues, Carlos Santos
ALUD – Pablo Rega, Alfredo Costa Monteiro
L'ECORCE CHANTE LA FORET – Frederic Blondy, Jean-Sebastien Mariage, Dan Warburton
AGAPE – Martin Kuchen, David Stackenas
KREISEL – Claus Van Bebber, Michael Vorfeld
INTERSECTING A CONE WITH A PLANE – Hans Tammen, Ricardo Arias, Gunter Muller
Massimo Ricci (Expresso)

[...] Playing with Ernesto Rodrigues, Guillerme Rodrigues and Carlos Santos was about sound - it was “abstract expressionist” to me, which I love. That was like Motherwell, or Franz Kline or Rothko. It requires from me a different relationship with my materials; it’s one of the most important changes in aesthetics that has occurred in the last century, and it still has not been fully assimilated into the culture. [...] Joe Giardullo

Il violinista Ernesto Rodrigues è un tassello chiave nei meccanismi creativi della cità. Fondatore della celebre etichetta Creative Sources, si muove da anni nei territori della sperimentazione, dall’improvvisatione radicale all’elettroacustica. Vanta studi con importanti nomi della musica contemporanea portoghese, collabora regolarmente con una serie di musicisti internazionale (da Alessandro Bosetti a Tetuzi Akiyama, da Keith Rowe a Ingar Zach) e dirige due importanti ensemble (dal 2000 la Variable Geometry Orchestra). Organizza frequentemente eventi e festival ed è una delle personalità più attive della cità. Riccardo Wanke (Blow Up)

(...) As honras de abertura couberam ao duo formado por Ernesto Rodrigues (viola) e Nuno Torres (saxofone alto). À semelhança do que havíamos presenciado em Julho, ainda que num contexto diferente, estes músicos revelaram uma vez mais níveis de intensidade e cumplicidade verdadeiramente notáveis. A actuação iniciou-se com uma rápida troca de ideias musicais, à qual se seguiu uma exploração das possibilidades acústicas da sala com ambos os músicos a circular livremente sobre o palco, para depois terminar em total consonância, num longo e homofónico drone. Soberbo! João Aleluia (Jazz.pt)

À ordem do arco do violino que serve de batuta ao Maestro Ernesto, orquestram-se os sons clássicos com os ruídos da electrónica e as percursões várias. De diálogos calmos entre os sopros, a delírios obsessivos, experiências de música e espaço construidas por um laboratório de sons e sensações. Gosto. É daquelas coisas que primeiro estranha-se e depois se entranha. Rendeiro

Ernesto Rodrigues, responsável pela Editora Creative Sources, tem realizado um trabalho notável na área da improvisação não idiomática. Como músico, é um dos mais sólidos improvisadores portugueses, tendo realizado dezenas de concertos e gravações com músicos nacionais e estrangeiros. Neste concerto conta com a colaboração de dois dos mais destacados praticantes europeus de uma música improvisada nos limites da abstracção. CCB

Ernesto Rodrigues (violino, viola) dá largas ao seu fascínio pela complexidade da microscopia sonora, e por tudo o que está para lá do som convencional. Importa-lhe a redefinição, pela via da improvisação e da experimentação sonora, do papel dos instrumentos acústicos, do seu próprio conceito e daquilo que se conhece como resultante possível da execução instrumental.
Inomináveis possibilidades sonoras são-nos propostas para funcionar em diferentes planos e contextos, texturas granulares, atrito, afagamento de superfícies planas e rugosas, distensão, focagem próxima do objecto, eco, revisão, distância e refocagem – expressionismo, pontilhismo, nuance delicada, invenção da sua própria poética.
O resultado é uma música viva, intensa, pulsante e multipolar, com amplas dicotomias sonoras, nas quais o jogo harmónico explora os diferentes registos da instrumentação e da ressonância do espaço, passando de um som reduzido, quase imperceptível, para dimensões orquestrais de espectro sonoro completo.
A par do uso e extensão de um vocabulário multi-referencial, Ernesto Rodrigues utiliza todo o potencial acústico dos seus cordofones, cobrindo zonas escondidas, insuspeitas e improváveis, questionando-se a si próprio enquanto músico ao pôr em causa os fundamentos do paradigma anteriormente definido. Eduardo Chagas

Com um percurso de décadas feito no cruzamento da música erudita contemporânea e do free jazz, o nome de Ernesto Rodrigues ficaria associado às novas tendências da livre-improvisação que emergiram na Europa (com centros nevrálgicos na Alemanha, na Áustria, em França, na Grã-Bretanha e em Portugal), nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão e na Austrália. Às novas propostas surgidas chamou-se genericamente de reducionismo, pelo facto de cultivarem a proximidade do silêncio, mas também por trocarem a lógica do fraseado pela construção de texturas e por utilizarem os instrumentos fora dos tradicionais conceitos de escala. A música electrónica é uma influência forte no modo como Rodrigues aborda a viola e o violino, cortando radicalmente com os modelos que nos chegam do romantismo. Fez música para dança, cinema e vídeo e lançou em 1999 a muito bem sucedida editora Creative Sources, uma das mais importantes “labels” de música experimental, electro-acústica e improvisada a nível mundial, com mais de 100 títulos editados e uma entusiástica receptividade por parte da crítica internacional. Rui Eduardo Paes

Ernesto Rodrigues Quinteto, programado para a tarde (19h00) de dia 12.07.2008, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no âmbito do festival Música Portuguesa Hoje. Com Ernesto Rodrigues, em viola, o libanês Stéphane Rives, em saxofone soprano, o galês Rhodri Davies, em harpa eléctrica e electrónica, Guilherme Rodrigues, violoncelo, e Carlos Santos, computador. Muito suavemente, do impulso inicial passou-se a uma cadência lenta, cordas eléctricas e acústicas, sopro e electrónica em murmúrio descontínuo, alternado com breves, muito ligeiras, altercações, a pôr em relevo o carácter rendilhado da peça única que compôs o set, sempre mais variado nos timbres que nas dinâmicas. A partir do primeiro quarto, a sessão evoluiu por sobre a camada electrónica de fundo, trama sobre a qual se foram dispondo os outros elementos sonoros de modo esparso, micro-eventos em que preponderaram os cordofones acústicos. A música do grupo, que tocou junto pela primeira vez, salvo três quintos (Rodrigues, Rodrigues e Santos) que há anos se desdobram nas mais variadas formas e contextos, mostrou-se tributária das formas de improvisação moderna que primam por fomentar menor actividade sonora, fazendo uso de elementos acústicos de maneira sóbria e elegante. Com uma ou outra hesitação e indecisão geral, e em particular de Davies e Rives, por opção própria mais ausentes que presentes na panorâmica, tempo houve para deixar cada som nascer e desenvolver-se no espaço, lentamente, procurando o momento e o local certeiro para provocar a imaginação e deixar fluir as emoções, como feixes de luz a tremeluzir no escuro. Música intrinsecamente tensa apesar da enganadora serenidade, cheia de momentos interessantes para quem aprecia a atonalidade, a dissonância e o convencionalismo próprio da improvisação livre, em parte graças ao intercâmbio gerado instantaneamente, noutra parte pelo facto de os músicos terem sabido ouvir-se entre si, sabedores de que neste tipo improvisação de câmara tão importante é a decisão de intervir como a de ficar de fora num determinado momento. Eduardo Chagas

[...] Seguiu-se aquela que era, à partida, uma das propostas que maior expectativa gerava, o quinteto do violista Ernesto Rodrigues, com que contou com as presenças de Rhodri Davies na harpa electrónica e de Stéphane Rives no saxofone soprano, para além de Guilherme Rodrigues (violoncelo) e Carlos Santos (laptop). A música muito abstracta do quinteto criou momentos deveras interessantes, não obstante o facto de ser a primeira vez que os 5 músicos se apresentavam em conjunto. O concerto acabou algo abruptamente, ficando a ideia de que algum elo da cadeia improvisacional se terá quebrado… [...] António Branco

O violinista Ernesto Rodrigues tem um percurso de várias décadas na música improvisada em Portugal com participações em inúmeros concertos e festivais no estrangeiro, dedicados principalmente a uma estética reducionista também apelidada de near silence. Os seus interesses têm-se dividido entre a música contemporânea composta e improvisada. Enquanto autor foca-se principalmente nos elementos sónicos e texturais da música, por vezes mais próximo do free jazz, outras num contexto não idiomático muitas vezes apelidado de novas músicas. A música electrónica é uma influência forte no modo como aborda o violino. Fez música para dança, cinema e vídeo e lançou em 1999 a editora Creative Sources, uma das mais importantes a nível mundial no campo da música experimental e electro-acústica. No concerto desta noite troca o violino pela viola de arco. Pedro Costa

[...] Portugal's ever-interesting and understated label Creative Sources continues its prolific run with three new releases. This set presents players lesser-known internationally, but label owner Ernesto's Rodrigues' ears continue to be selective and unerring in his ability to find players with new sounds to say in unusual ways. My personal favorite of the set is the excellent percussive duo of Wolfgang Schliemann and Michael Vorveld, who find new ways to hit, strike, bow, scratch, plug and throw their instruments in fascinating ways. [...] Phil Zampino

Ernesto Rodrigues, Christine Sehnaoui, e Axel Dörner, ao vivo na Culturgest, em Lisboa. Sexta-feira, 31 de Outubro de 2008. A história de cada músico é conhecida pelo menos de quem segue com atenção o que se passa na Europa nesta área musical. Têm associados percursos individuais de aprendizagem, assimilação e libertação dos padrões e clichés da música improvisada, tal como o género se foi afirmando ao longo das últimas décadas. É esse o resultado do investimento naquilo que constitui factor de diferenciação: o trabalho minucioso e idiossincrático sobre as propriedades do som enquanto matéria-prima essencial, com particular incidência nos aspectos tímbricos e texturais de um género que assume a sua condição marcadamente não-idiomática. Eis o que se pode em termos actuais designar por moderna improvisação livre, que se encontra umas vezes imersa num estilo para-reducionista, em que o que se pretende é que menos por menos dê mais; outras procurando afirmar-se na permanente reelaboração do processo criativo, cujo valor final acabe por exceder o conjunto das contribuições de cada interveniente. Foram estes os vectores dominantes no concerto da Culturgest. Nessa medida, Rodrigues, Dörner e Sehnaoui deram a ouvir uma música essencialmente sinergética, na qual três subsistemas sonoros de elevada complexidade concretizaram uma tarefa que, sendo una, acabou por ser superior ao somatório das partes. Tenha-se bem presente que os três músicos, individual ou colectivamente considerados, transcendem quaisquer barreiras estéticas ou geográficas dentro da música improvisada, tal como se conhece desde há 40 anos. A multiplicidade de contextos em que têm trabalhado, juntos ou em separado – mas nunca neste trio – as tonalidade escolhidas e propostas, as sólidas bases comunicacionais, o conhecimento das técnicas dos respectivos instrumentos, a que somam outras por si inventadas, sobretudo na periferia física dos objectos produtores de som, criaram as bases para a exploração do catálogo sonoro para além dos limites que os próprios conhecem. Rodrigues, Dörner e Sehnaoui comunicaram de modo intuitivo na mesma língua franca, com sensibilidade e inteligência, exibindo um léxico rico e variado nas formas e nos modos de tratamento de cada situação. Admiráveis foram as trocas de sinais através de sinapses criadas no instante, que potenciaram o bom entendimento tripartido, através de afirmações, interjeições, sobreposições, aditamentos e outras maneiras de acrescentar complementaridade, mesmo quando a opção passava por ficar de fora num dado momento, a assistir, como o público, ao nascimento da próxima escultura sonora. E assim se esteve deliciosamente durante perto de uma hora a ouvir um set único, totalmente acústico, tocado numa sala que tem excelentes condições para a prática da modalidade, quer em termos de forma e dimensão, quer quanto às propriedades acústicas, o que permitiu perceber toda a actividade, do som em bloco até à partícula mais delicada e de menor volume. Se ainda não ficou claro, afirmo agora que o trio Rodrigues, Dörner e Sehnaoui, mercê da inspiração e do alto nível comunicacional dos participantes, ofereceu um recital primoroso, lírico e luxuriante no seu minimalismo. Boa notícia: o concerto foi gravado por Carlos Santos e é provável que venha a ter edição na Creative Sources Recordings. Eduardo Chagas

[...] It reminds me considerably of the Portugese Creative Sources label, really understated slow moving but sonically fascinating improvisations. More and more I find this music something like a wooly (and often erratic) blanket that I can wrap myself up in while I'm cataloging CDs late at night.
Looks like MASS has ended for the night, so no doubt it's time to take a break. Phil Zampino

Oportunidade única para experienciar três nomes sonantes da improvisação contemporânea em conjunto, num diálogo em trio sem memória, revelador de uma grande constância de princípios técnicos e estéticos. Ernesto Rodrigues, nome cimeiro da experimentação portuguesa, conectado principalmente com o violino, apresentar-se-á desta vez em viola, ladeado pelo escocês Neil Davidson em guitarra acústica e pelo japonês Nobuyasu Furuya em flauta, clarinete baixo e saxofone tenor. ZDB Muzique

[...] Seguiu-se o trio formado por Ernesto Rodrigues (viola), Manuel Mota (guitarra) e José Oliveira (percussão). Embora não tocassem juntos desde o Verão de 2007, este concerto confirmou que a empatia entre estes três músicos se mantém intacta. Trabalhando sobretudo com arco, Ernesto Rodrigues optou por uma abordagem instrumental relativamente “convencional”, recorrendo apenas ocasionalmente à multiplicidade de técnicas extensivas que domina. Ainda assim, não lhe faltaram ideias para estimular os colegas e cativar a atenção do ouvinte. Manuel Mota foi o mais irrequieto dos três, exibindo ao mais alto nível o seu fraseado sinuoso e acidentado, num excelente contraponto às acções de Rodrigues e Oliveira. Este último também se mostrou em boa forma, salientando-se as métricas irregulares com que fez uso do seu kit percussivo, bem como a robustez e heterogeneidade dos seus recursos tímbricos. Foi um concerto que trouxe à memória as primeiras edições da Creative Sources, nomeadamente os discos “Assemblage” e “Dorsal”, ainda que esta actuação de modo algum tenha sido um regresso ao passado. [...] João Aleluia

Uma característica em particular, e nesse aspecto diferenciadora das demais que vão surgindo nos mesmos territórios da criação musical, define as propostas de Ernesto Rodrigues: a combinatória dos princípios da improvisação, aplicados em toda a radicalidade das suas implicações, com o enquadramento de um conceito bem definido e articulado. À partida, estes dois âmbitos parecem excluir-se mutuamente, pois o conceptualismo artístico está nos antípodas da espontaneidade e da intuição da música improvisada, mas para o violista português reside precisamente nesse paradoxo o desafio que tem definido o seu percurso. Os títulos dos seus discos funcionam, regra geral, como grelhas de pensamento (alguns exemplos são “23 Exposures”, “Assemblage”, “Contre-Plongée” e “Kinetics”, remetendo-nos, inclusive, para o universo das artes visuais), e em algumas das edições as “liner notes” procuram mesmo circunscrever as coordenadas em que a música “acontece”. O jogo entre as duas dimensões adquire particularidades muito específicas, dado que não se trata de justificar teoricamente o que vamos ouvir, mas de lhe dar aquilo que Ernesto designa por “subjectividade referencial”. [...] Rui Eduardo Paes

A primeira surpresa deste concerto foi ver o pequeno auditório da Culturgest praticamente cheio para assistir a um concerto que não é propriamente um registo “easy-listening”. E esta questão torna-se superlativa pelo interesse que esta música nova desperta, cada vez mais, a um número mais alargado de pessoas.
Convém assinalar que não estamos na presença de nomes muito conhecidos do público tradicional do jazz. Ernesto Rodrigues há muito que vem trilhando um caminho que, embora se cruze aqui ou ali com o jazz, estabelece mais pontes de contacto com as novas correntes reducionistas, ou near-silence, como se lhe quiser chamar. Este tipo de música privilegia o espaço entre sons e não valoriza em demasia a melodia. Sons sónicos e texturas convivem em harmonia com os silêncios num registo em que menos, muitas vezes, é mais.
Já Axel Dörner é um nome conhecido do jazz europeu, pois tem tocado com muitas das luminárias do lado de cá do Atlântico, casos De Alexander Von Schlippenbach, Peter Kowald ou Barry Guy, só para citar alguns, mas é igualmente um mestre da música improvisada, de cariz jazzistico e também deste tipo de músicas mais abstractas e complexas.
Christine Sehnaoui é, de todos os músicos em palco, aquela que apresenta um menor “body of work”. Descobriu a música improvisada em finais do século passado e, só a partir daí começou a desenvolver técnicas de improvisação para saxofone alto, num registo de auto-aprendizagem.
Depois de apresentados os músicos, vamos ver como contribuíram para o que foi apresentado em palco; importa referir antes de mais, que conseguiram ajustar em proveito do conjunto as suas personalidades musicais individuais, tendo criado um espectro sonoro claro, evidentemente muito baseado em explorações tímbricas e de som puro, que privilegiaram texturas mais ou menos angulosas e a utilização total das capacidades dos instrumentos que tocam.
Todos os músicos prepararam, aqui e ali, os seus instrumentos, de forma a extrair deles sons que, tocados duma forma escolástica, nunca seria possível ouvir. Mas estas preparações e estes registos não são “vã pirotecnia”, são antes técnicas que permitem fazer uma utilização extensiva dos instrumentos e que em muito enriquecem o espectro sonoro.
Estes três músicos nunca se tinham encontrado enquanto trio, mas revelaram que conhecem bem a linguagem uns dos outros. Foi frequente entender, ao longo do espectáculo, que se estavam a ouvir muito bem. A verdade é que, num palco largo, optaram por tocar juntos no centro e sem qualquer tipo de amplificação, para que houvesse uma percepção total do som de cada um. Ernesto ao centro, não só porque a viola é o menos histriónico dos instrumentos, mas também porque foi ele que, pontualmente, agregou algumas investidas mais “musicais” dos sopradores, voltando à matriz abstracta e sensorial da sua proposta.
Em suma, assistimos a um concerto de absoluta excepção, que juntou três almas musicais distintas mas que se tornaram visceralmente complementares, quer pela capacidade comunicacional impar, quer pela necessária percepção da semiologia que está subjacente ao entendimento de que esta música significa, acima de tudo, afastamento dos gastos ícones da velha música improvisada. João Pedro Viegas (jazz.pt)

Although we have never met in person (but it’s not too late), Ernesto Rodrigues and myself share a silent alliance since the very beginning of our reciprocal enterprises, as he’s always been at the forefront of the thousands who were fooled by copious doses of purple prose hiding a total lack of insightfulness. Creative Sources remains one of the top labels of improvisation around, despite 1) constant criticism by people who don’t actually listen to the music and 2) a sometimes overly egalitarian approach in terms of quality control. Isolated scribblers are perennially submerged by records, thus I am in long delay with the recent releases by Ernie’s imprint. Let’s try and fight back in order not to be counted out by the referee while absorbing fusillades of blows to the ears. Massimo Ricci (Temporary Fault)

Ich fühl mich fast wie Gimli, als er unter ein Warg, eins dieser hyänenartigen Reittiere der Orks, geraden ist. Nur sind auf mich gewöhnlichen Sterblichen 12 - in Worten: zwölf - weitere CS-Releases (eingepackt in Klopapier!) eingestürzt. Argh! Stinking creature. Argh!. Rigobert Dittmann (Bad Alchemy)

Before I post tonight’s mini-reviews of two recent Creative Sources releases I thought I would share a few thoughts on the label that I have had today. CS gets a lot of stick, unlike that received by any other label operating today bar maybe Leo. There seems to be two main threads to the criticism. The first seems to be aimed at CS’s “pay to play” policy of releasing albums. In short, the discs that come out on the label are often (not always) part-funded by the musicians that appear on them, with much larger than normal amounts of the final product going to the musicians for them to sell at gigs, or use as calling cards to try and obtain more paid work. Just this fact alone seems to rile a few people. I have no idea why. As I see it the label remains solvent, the musicians get the benefit of professional advice, support, design etc… and a large number of CDs on a professional label that they can try and eke out a living from. I have no idea what is wrong with that.
More often though the accusation thrown at CS is that the pay-to-play policy results in poor quality control, and that the releases are of low quality, maybe music that could not find a home anywhere else. This attitude of course assumes that there is any quality control applied at all. I am guessing that Ernesto Rodrigues, the label owner does have some input into what gets released and what does not, but maybe he doesn’t. I don’t think anything has ever been said officially on this one way or the other. Either way, poor quality control (If indeed this accusation can be made) does not necessarily mean that all CS releases are below par. Past listening has shown me that in fact this is certainly not the case. There have been some really good ones. As for the releases only really being cast-offs unwanted by other labels well I can only say that of the 150+ Creative Sources releases so far, with around a hundred of them since I began running a label myself, only one of them ever came to me at Cathnor as a demo. What is more I don’t think I ever actually got around to listening to the music in question, so I didn’t even turn it down. So why does CS continue to get unparalleled abuse from people?
Part of the answer lies in the response to another question again - Why did I stop buying and therefore listening to the Creative Sources catalogue in its entirety after the first thirty or so releases? Simply, as a paying customer I could not keep up. Over the past few years the output of the label seems to have risen to some thirty-odd discs a year. Many of the musicians (certainly far from all of them though) are also unknown to me. So why would I spend a lot of money trying to keep pace with that kind of a release schedule when I have no past experience of the musicians involved? In short, there is no reason why I would.
So what I have tended to do over recent years is keep an eye intermittently on the catalogue, and pick up discs every so often that involve musicians I like the work of. It was in fact after putting together a list of half or dozen or so CS discs that had attracted my interest over the last year that I contacted Ernesto to get a price to purchase them. As I had recently spent some time reviewing a couple of CS discs here that had been given to me independently by the musicians he very kindly sent me a large bundle that included the discs I was interested in for free. So now, having not had to pay for them, I can listen to each disc with an unbiased ear and decide for myself if the standard is indeed low or not, and hopefully provide the readers here with some background info with which to make their own decisions.
However, dismissing the label out of hand as a waste of time, without having heard a good portion of the music is misguided, rude and potentially quite arrogant. There seems to be very few commentators out there that have heard the bulk of the catalogue, just a very small handful of reviewers it seems. (this is the first time I have been sent a bundle of discs to review) When I have read extensive writing on large numbers of the releases there seems to be a definite spilt, maybe as high as 50/50 over whether the reviewer in question liked the CDs or not. So why would those that have not heard anything like as many be so damningly critical of the label as a whole? I can fully understand that people do not want to take a 50/50 risk on a purchase, which is why reviews are very important for CS, and I intend to do my bit and write something eventually on every disc I’ve been sent, but just dismissing the label out of hand is misguided in my opinion. Maybe I have been slightly guiltly of this in the past, but as this year has been very much a year of re-evaluation of the musical prejudices I have held it is definitely time to wipe that slate clean and let the music speak for itself. Or not. Time will tell. Richard Pinnell (The Watchful Ear)

What began in 2001 as a recording outlet for a group of Lisbon improvisers has in less than a decade grown to a CD catalogue of more than 170 releases with an emphasis on fresh, innovative sounds. Under the direction of violist Ernesto Rodrigues, every month or so Creative Sources (CS) Recordings releases two or three CDs from committed international musicians. “Creative Sources is musician-run for musicians,” declares Rodrigues. “We’re not here for the money, but for the art”.
“We deal with certain kinds of music, like ‘near silence’, lowercase, electro-acoustic, new improv, and some post-Free-Jazz. The musicians involved are mostly young, with new approaches to improv and composition, silent stuff and texturized sound, usually from the manipulation of the instrument, few notes, and extended techniques.”
CS welcomes demos showcasing what Rodrigues describes as “strong stuff, clear and focused – or even if the process is interesting musically and worth hearing.” Deciding to release the session, he asks musicians to supply audio masters then the violist and Carlos Santos, a graphic designer and computer musician, design the package, perform sound adjustments, have 500 copies pressed and distribute them. In exchange for supplying half the funds, the players receive about 300 CDs they sell themselves, while CS markets the rest.
CS’s international focus developed with its ninth release, No Furniture (Creative Sources CS 009 CD) by Berliners, trumpeter Axel Dörner, clarinetist Kai Fagaschinski and Boris Baltschun on sampler. CS already had a Web presence and had received good reviews for its first releases. “They (the Germans) heard and enjoyed our work and approached us about their session. We liked the music, which was in the same range as ours, so we had the chance to augment the catalogue. We established ourselves as a label that cares about this kind of music and promotes it. From then on we started to receive lots of demos from around the world for release… We refuse a lot of them,” admits Rodrigues.
Although some players on our roster put out discs on other labels, others do not. “Musicians with known credits that have some works in this kind of structure approach CS, in spite of having very different work on other labels,” he adds.
Recently for instance Goldstripe (Creative Sources CS 121 CD), showcased Bay area laptop and electronics-manipulator Mark Trayle’s lively and unsettling static-undulating drone compositions and improvisations using data read from the magnetic stripes of credit and bank cards. On the acoustic side, Swiss pianist Jacques Demierre’s One is Land (Creative Sources CS 131 CD) concentrates on high-frequency, subterranean sound waves wrenched from the instrument’s soundboard by pounding its lowest-pitched keys amplified with pedal-power. Sureau (Creative Sources CS 112 CD) is a rare example of the expressive vocal gymnastics of Brussels-based Jean-Michel Van Scouwburg, backed by percussionist Kris Vanderstraeteen and bassist Jean Demey.
An earlier notable example of New chamber music is On Creative Sources (Hail Satan) (Creative Sources CS 093), from Spanish bass clarinetist Carlos Galvez Taroncher, German pianist Magda Maydas, Dutch bassist Koen Nutters and Norwegian drummer Morton Olsen. This trans-European admixture, exhibits the spacey tonal rotation and sudden introduction of extended timbres that relate to jazz-improv as well as notation.
CS was also one of the first labels to expose some local experimentalists internationally. Abu Tarek (Creative Sources CS 025 CD) for instance, documents the unique choked and splintered brass excavations of Lebanese trumpeter Mazen Kerbaj, in the company of fellow micro-tonalist, Austrian trumpeter Franz Hautzinger. Absence (Creative Sources CS 034 CD) showcased the tremolo tongue rhythms, percussive vibrations and dramatic pauses of Argentineans, trumpeter Leonel Kaplan and percussionist Diego Chamy in a trio with Dörner. Meanwhile Metz (Creative Sources CS 015 CD) is unstructured Free Music from France that used acoustic strings and reeds to expose what sound like synthesizer wave forms. The experimenters in 2003 were clarinetist Xavier Charles, tenor saxophonist Bertrand Denzler, pianist Frédéric Blondy, violinist Mathieu Werchowski and guitarist Jean-Sébastian Mariage.
Closer to its home, Stills by the Variable Geometry Orchestra (Creative Sources 100 CD) is a three-CD set featuring 46 participants in the Lisbon free music scene in large ensembles. With Rodrigues playing and “conduction-ating” the detailed, multi-shaded polyphony balances orchestral integration with solo permutations. Included are players such as cellist Guilherme Rodrigues, drummer José Oliveira and Santos, who with the label manager/violist were the core of Lisbon improvisers CS recorded initially. Stills’ layered performances draw on currents of alternating and asymmetrical jazz, rock, folkloric and New music.
As Rodrigues states: “From its creation, every work of art is fragile and needs to be nourished and shown to others, or time will erase it and it will be lost among information going on everywhere. The major labels think about profits, not music and the musicians, or they think about ‘crystallized’ forms of music that do not challenge the listener in new ways.” August 8, 2009.
Ken Waxma n (MusicWorks Issue #104)

[...] Para o encerramento do Sonic Scope 2009 ficou guardada a Variable Geometry Orchestra, a orquestra “all-star” da improvisação lusa, liderada e “conduzida” pelo violinista Ernesto Rodrigues. Cada vez mais moderada, mais controlada, a orquestra VGO deixou de ser um bicho selvagem para se tornar num animal parcialmente domesticado. Longe vão os tempos em que as actuações consistiam em erupções enérgicas do tipo “vai-acima-vai-abaixo”. Agora a música obedece às regras bem definidas do maestro Rodrigues: Ernesto controla o ritmo, controla a entrada e saída de cada secção, distribui funções por cada músico, esforça-se por manter o equilíbrio possível num grupo que incorpora técnicas e linguagens muito distintas entre si. Se por um lado se perdeu alguma daquela energia inicial, por outro lado passou a ficar em evidência o trabalho de detalhe de cada músico – e a vintena de músicos que actuou no Maria Matos não poupou nos pormenores individuais. Nesta actuação no Sonic Scope a secção das electrónicas (que contou com o convidado internacional Wade Matthews, de passagem por Lisboa) foi vítima de um volume demasiado elevado, mas de resto a música viveu numa saudável contenção. Numa tentativa de encontrar paralelismos poderíamos invocar as formações “Cobra” de Zorn, as conduções de Butch Morris ou o ensemble electro-acústico de Evan Parker, mas esta VGO distingue-se por uma criar uma atmosfera especial. É difícil explicar, talvez só assistindo a uma actuação ao vivo ou ouvindo o triplo-álbum Stills se consiga perceber (ou sentir) a alquimia desta música. Nuno Catarino (Bodyspace)

Ernesto Rodrigues es sin lugar a duda el violinista más interesante de Lisboa, con una creciente presencia en la escena internacional. Nos visitó hace años para tocar en el festival ¡ESCUCHA! y nos complace enormemente su vuelta, esta vez en compañía de Neil Davidson, un sorprendente guitarrista escocés con el que lleva colaborando ya tres años. Juntos, han grabado dos discos, ambos muy bien recibidos por la crítica. No perdamos, pues, esta oportunidad de escuchar un diálogo inteligente, maduro y siempre fresco entre dos músicos que casi nunca tenemos la suerte de ver en vivo en Madrid. Wade Matthews

L'immagine che meglio riassume la produzione dell'etichetta portoghese Creative Sources Records, fondata da Ernesto Rodrigues [di cui puoi leggere l'intervista], è quella di un patchwork di cover in crescendo. Nella home page del sito Creative Sources Rodrigues ha, infatti, riprodotto un vero e proprio tabulato di immagini in continuo aggiornamento, che racchiudono le sue ed altrui storie di incontri e collaborazioni musicali, rimandando a visioni, poetiche ed estestiche diverse tra loro e rivelando al contempo una pregevole ed inedita sezione della musica di ricerca o d'arte europea.
Ogni lavoro pubblicato - e ad oggi sono più centosettanta - da Creative Sources è un pezzo che va collocato in quel tutto [universale] che minuziosamente sta costruendo da anni Ernesto Rodrigues per delineare le "fonti" creative della musica elettro-acustica/d'avanguardia/d'improvvisazione portoghese, ma non solo. Il progetto di Rodrigues, sopraffine violinista, ma anche energico promotore di musiche altrui, è la sostanza dell'arte dell'intreccio dei suoni e non può essere scollegato da Creative Sources.
Nell'articolo che segue ne ripercorriamo alcune tappe, per noi significative, soffermandoci sulle più recenti pubblicazioni. Punto di partenza dell'etichetta Creative Sources sono state due registrazioni effettuate insieme al figlio violoncellista Guilherme (che all'occasione suona una tromba tascabile) e il percussionista, artista visivo (Fluxus), José Oliveira, che rappresentano due opposte, ma continuamente accostate tendenze sia di Rodrigues in primis che della musica da lui prodotta in secondo luogo. Da una parte Multiples (2001), una strabiliante sessione d'improvvisazione free, rappresenta una tensione constante al confronto con altri musicisti, in formazioni variabili, con modalità proprie dell'improvvisazione free, specie quella europea (addizionata di una forte componente elettronica); dall'altra il doppio cdr Musique de Chambre (1999) rappresenta un sempre rinnovato interesse per la musica composta, eseguita con modalità e ricercatezze proprie di quella da camera. Ma quali sono i suoni che caratterizzano l'etichetta portoghese Creative Sources? Che cosa, nonostante la sua posizione geografica sia ai confini dell'Europa, la rende, in fondo, così continentale?
Difficile trovare una sola risposta. Forse è la sua stessa poetica e quell'estetica costruita inizialmente e perseguita con tenacia poi da Rodrigues a rendere il profilo della musica che produce così profondamente pregno di storia continentale. Le molte collaborazioni con l'area mitteleuropea non sono casuali e nel patchwork generale incidono parecchio, più forse di sonorità (che ci aspetteremmo) caratterizzanti l'area portoghese.
Non mi pare un caso nemmeno che per molti anni Creative Sources abbia prodotto registrazioni di "(micro)ensemble," che pur avendo una solida appartenza ai suoni dell'elettro-acustica o dell'impro free, hanno inciso poche studiate, minimali, tracce come se si trattasse di vera e propria musica da camera. In tali registrazioni la componente elettronica risulta sempre e assolutamente equiparabile a quella acustica. Il recente TonArtEnsemble (2010) dell'omonimo ensemble con l'elettronico e sintetizzatore Robert Klammer ad accompagnare una larga formzazione "teutonica" con Rodrigues è davvero un bell'esempio. Più nel dettaglio però mi pare che la componente elettronica riesca a prevalere solo quando il progetto tende di natura al vero free e si spinge fino a forme d'improvvisazione con pezzi e parti poco strutturate. Un esempio di un certo interesse è Speak Easy dei Backhats (2009), un progetto di fattura tedesca che ruota attorno alle voci e ha visto coinvolti i vocalist Ute Wassermann e Phil Minton, affiancati dal "sintetizzatore" Thomas Lehn e dal percussionista Martin Blume. Caso "estremo," infine, di questa tendenza è il recentissimo .next (2010) con ben tre laptop-isti - Jeff Carey, Robert van Heumen e Bas van Koolwijk - in assetto impro/compositivo. Emblema di una certa poetica di Creative Sources è senza dubbio un gusto profondamente insito in Rodrigues che, come si diceva, riserva uguale attenzione ai due "fondamenti," elettronica ed acustica degli strumenti, mostrando a tratti una sorta di andatura unica nel loro uso e bilanciamento. È evidente, infatti, che Rodrigues pensa in una "forma elettro-acustica" (unica e totalizzante) ed è per questo forse che la sua musica ha un impatto tanto forte, anche in termini di gradevolezza sonora (non stride come certa elettonica...). timelines los angeles (2009) - con Olivia Block al piano preparato e Ulrich Krieger al sassofono, accompagnati da quel mostro sacro di Jason Kahn e Mark Trayle - è la registrazione che davvero esemplifica questa idea di composizione/esecuzione live processing dove acustica ed elettronica svolgono uguale funzione. Rodrigues è inarrivabile e straordinario nel suo far uso dell'elettronica (dentro e con lo strumento che suona, quasi fosse un tutt'uno), rinunciandovi subito se accompagnato dal suo fido sperimentatore elettronico (una "costante" in Creative Sources) Carlos Santos. Con Santos infatti la musica cambia e Rodrigues lavora soprattutto di tecnica e di cesello, lasciandosi ad un maggior gusto per le forme sonore. Si veda in tal senso il bellissimo Vinter (2010). Per soffermarsi sulle più recenti produzioni di Rodrigues, May there be... (2008), Eterno Ritorno (2009) e Twrf Neus Ciglau (2009) sono altri tre lavori degni di nota. May there be... è di particolare bellezza: presenta nove improvvisazioni corte, da leggersi come una suite, con melodie ritornanti, forte attenzione ai noir, con intrecci di corde tra violino, violoncello e interno del piano (Padro Rebelo) e di fiati (Franziska Schroeder al sassofono). Nel catalogo rivestono poi una certa importanza anche le incisioni in solo, dove chiaramente è centrale l'aspetto acustico e di ricerca sonora sullo strumento. Anche qui, soffermandoci solo sulle novità, vanno segnalati Materials (2009) del fisarmonicista Jonas Kocher, il bellissimo cellos (2010) dei due violoncellisti Ulrich Mitzlaff e Miguel Mira, Ink on paper (2009) del contrabbassista Mike Majkowski e halbzeit (2009) del clarinettista Markus Eichenberger. In questa registrazioni, tutte di grande impatto e di matrice continentale, è centrale la ricerca e la sperimentazione del musicista dedito, va detto, ad un progetto che risulta profondamente personale e intimo. In questa dimensione, anche di una certa raffinatezza e ricercatezza, si riaffacciano quindi i due "fondamenti" della sperimentazione e della ricerca acustica, in una chiave pienamente "da camera". A margine vanno infine segnalati i progetti degli italiani presenti nel catalogo Creative Sources. fadensonnen (2008) del violinista Giampaolo Verga è un lavoro davvero particolare, di musica elettronica "spaziale". I concretismi e le destrutturazioni musicali di Graziano Lella, in animali (2008), irrorano di inquitudine lo spazio sonoro. Between Love and Hate dell'attuale chitarrista degli I/o Luca Mauri è il suo dirompente album di debutto, un crash di suoni per chitarra, piatti e editing digitale. Francesca Bellino

 

Le fonti creative di Ernesto Rodrigues

Ernesto Rodrigues (1959) è senza dubbio uno dei più interessanti violinisti della scena sperimentale ed elettronica portoghese. Insieme al figlio violoncellista Guilherme Rodrigues (1988) dà vita ad una delle collaborazioni famigliari più creative della musica europea [per credere, basta dare un'occhiata veloce al New Thing Nonet video (Youtube)].
Rodrigues "senior" è attivo oramai da molti decenni nell'avanguardia portoghese. Ha studiato musica micro-tonale ed elaborato interessanti tecniche per alterare la struttura fisica degli strumenti ad arco che suona. Come violinista/violista, ha sempre rivolto grande attenzione alla musica improvvisata e alla nuova musica, riservando una certa attenzione anche per le "graphic scores" di Gerhard Stäbler, Nikolaus Gerszewski e Phil Niblock, tanto da elaborare egli stesso partiture di una certa originalità grafica. Ha studiato musica contemporanea con importanti compositori portoghesi quali Eurico Carrapatoso, Emmanuel Nunes e Pedro M. Rocha e ha suonato in numerose formazioni ed ensemble d'avanguardia di Lisbona prima di affacciarsi alla scena contemporanea europea in cui è attivo ormai da oltre un decennio.
Attento conoscitore (e consumatore) di musica contemporanea, attratto da sempre da quella elettronica - che ha profondamente influenzato il suo stile - Ernesto Rodrigues ha lavorato a lungo sul proprio strumento, focalizzandosi su alcuni elementi sonori e micro-testuali che caratterizzano il suo modo di utilizzare il violino e/o la viola. Rumori e silenzio costituiscono parte integrante delle sue composizioni. Nel 2000 ha fondato la Variable Geometry Orchestra, un grande ensemble dove la conduzione viene operata dal bilanciamento di masse sonore che viaggiano nello spazio acustico, gestendo la costruzione delle stesse in "realtime" e lavorando così sia su specifici strumenti, che sul gruppo nella sua interezza. Rodrigues fa parte di diverse formazioni attive nell'improvvisazione free, come spalla e leader di vari gruppi, ha scritto anche musiche per la danza, cinema, video e performance. Il suo interesse principale è ora la musica contemporanea, composta e improvvisata. Nel 1999 ha fondato la Creative Sources Recordings [clicca qui per leggere un profilo della label], interessante etichetta dedita alla musica sperimentale ed elettro-acustica di ormai fondamentale importanza nel panorama contemporaneo europeo. Avendolo conosciuto come direttore di Creative Sources da questa siamo partiti per la presente intervista.

All About Jazz: Hai suonato il violino per trent'anni, durante i quali hai eseguito ogni tipo di musica. In seguito hai spostato la tua attenzione sulla musica contemporanea [improvvisata e composta]. Con un background così ricco, perché e in che momento della tua vita hai scelto di dare vita ad una etichetta e hai intrapreso la carriera di direttore artistico?

Ernesto Rodriguez: Prima di tutto era un mio vecchio sogno quello di avere un'etichetta per realizzare una musica che mi piacesse, che fosse mia o di altre persone i cui lavori mi piacevano. Volevo farla sentire e mostrare cosa davvero mi piace del fare musica. Decisi di crearne quando per ragioni artistiche volevo realizzare la mia musica, ma non riuscivo a trovare un'etichetta che avesse l'estetica che avevo. Sono diventato direttore artistico per ragioni contingenti, non mi vedo infatti come uno di quei classici "capi". Dei lavori che la gente mi manda, scelgo cosa sento vicino. Nella Creative Sources ci sono oramai direttrici musicali solide e congruenti.

AAJ: Quando hai cominciato a suonare, cosa ti ha inizialmente indirizzato all'improvvisazione, all'elettronica e alla musica creativa? Le stesse motivazioni continuano a spingerti ancor oggi?

E.R.: Le ragioni sono praticamente le stesse di quelle che avevo all'inizio, anche se oggi le cose che stanno dietro la nuova improvvisazione/elettronica sono molto diverse, perchè arrivano dalla realtà e questo cambia abbastanza la questione. Tutta l'arte è oggigiorno influenzata dal contesto in cui si trova. L'improvvisazione, perlomeno quella acustica, si muove in territori che sono sempre più vicini alla contemporanea/elettro-acustica e alla materia elettronica in termini di processi e pensiero, anche se si scosta dalle loro iniziali condizioni ed è maggiormente in relazione alla musica free.

AAJ: Senti di aver ricevuto qualcosa dal tuo lavoro con altri musicisti e da quello di produttore?

E.R.: Certamente le influenze sul mio lavoro vanno in entrambe le direzioni. Nella musica (come in altre arti) penso che la cosa più importante sia partecipare alla creazione di un oggetto musicale, sia esso fatto in studio o live. Puoi dare e ricevere, si è parte di una catena di eventi e tutto nasce da questa. È un processo che non puoi controllare; è un modo naturale di creazione condividere idee per lavorare con altri per un obiettivo comune.

AAJ: Il tuo lavoro è essenzialmente elettro-acustico. Che cosa significa questo termine oggi e, in particolare, che significato ha per te?

E.R.: Il mio lavoro è solo in parte elettro-acustico, nonostante questo tipo di musica mi interessi davvero molto. Il suo significato è cambiato oggi, poiché i processi e le sue applicazioni sono molto diverse da quelle del passato. Oggi c'è maggior controllo e precisione, la sonic palette expanded e portability sono fattori che ne consentono un uso sempre più diffuso e generalizzato. L'espressività si raggiunge con facilità. Puoi avere musicisti elettronici che suonano in un set acustico allontanandosi dallo scopo della musica nei termini di ricchezza sonora...

AAJ: So che hai una grande ammirazione per Emmanuel Nunes. Puoi presentare il suo lavoro e la sua personalità, chiarendo perchè è così importante per te?

E.R.: E' stata una cosa particolarmente rilevante per la mia vita: Emmanuel Nunes è un compositore ed io sono un improvvisatore, anche se considero l'improvvisazione come una composizione in tempo reale e devo davvero ringraziare lui per questo. Il lavoro di Emmanuel è intimamente connesso al pensiero matematico e lui ha avuto la genialità di articolare la matematica con l'espressione musicale dando vita ad una musica che è fresca. Questa musica riflette la sua meravigliosa condizione umana, umile ma con una visione straordinaria, che è la sintesi di un essere umano straordinario.

Come puoi capire dalle mie parole, Nunes mi ha influenzato profondamente, il modo in cui mi ha portato a pensare la musica mi ha dato una struttura solida per affrontare l'imponderabile con maggiore sicurezza!

AAJ: Quali software usi nel tuo lavoro?

E.R.: Dipende dal progetto o dalla situazione in cui mi trovo. Per mixare e masterizzare un cd, normalmente opto per Logic Pro (da tempo sono un "mac guy"); per progetti multi-traccia, registro in uno studio professionale live con altri musicisti, come fossi in concerto, e porto il materiale registrato nell'HD portatile nel mio studio a casa, dove, per la masterizzazione finale uso Bias Peak. Per progetti artistici uso Cycling74 MaxMsp, anche se alcuni "patches" sono miei, altri in studio o live per ulteriori manipolazioni sonore. Per comporre e la notazione uso NoteAbility Pro.

AAJ: Credi che una label come la tua sia anche "politica"? Se sì, in che senso?

E.R.: Certamente che lo è. I tipi di musica che realizziamo hanno sempre un fondamento politico, prima di tutto, perchè sono fuori dalle note categorie di musica commerciale e dal marketing; inoltre non sono soggette alle logiche dei media, sopravvivono spesso in situazioni di "ghetto," con un pubblico in crescita, ma non abbastanza da ottenre l'attenzione generale che meriterebbero. E' musica poi fatta da musicisti che prestano attenzione al dettaglio, non si tratta di prodotti da consumare in fretta e da gettare via. Persistono nel tempo, mettono in evidenza delle questioni sulla nostra società, siano esse sociali o politiche, spesso in forma più schietta, altre con significati astratti e con punti di vista sottili.
In passato questi tipi di musica (jazz, new thing) sono sempre stati usati per riflettere sulla società, come vere e proprie forme d'arte...

AAJ: Sono convinta che una label ha molto a che fare con la memoria - anche se non in una forma diretta. Grazie ad alcune label abbiamo memoria di sorprendenti esperienze musicali che (fortunatamente!) non sono scomparse senza lasciar tracce! In qualche modo una label ha la funzione di memoria collettiva (una sorta di biblioteca sonora). Cosa ne pensi della questione?

E.R.: Hai perfettamente ragione! In qualche modo raccogliamo pezzi e stimoli di un più grande mosaico sulla nostra storia ed espressione, li categorizziamo e ordiniamo per le generazioni future per imparare (ascoltare) con essi. La storia del jazz è diventata cpsì per questo, molta gente oggigiorno conosce come i musicisti si esprimono loro stessi attraverso le registrazioni, più che la sua eredità scritta...

AAJ: Come sei entrato in contatto con gli artisti italiani Bosetti, Rocchetti, Fhievel, Sigurtà, è recentemente con Luca Mauri? Conosci la scena sperimentale italiana?

E.R.: Conoscevo già il lavoro di Bosetti (che mi piaceva molto), e penso che gli altri ragazzi abbiano seguito le tracce di Bosetti. Creative Sources è diventata "forte" in Italia (almeno da quel che dice la gente) e che la scena italiana sia peculiare e interessante. Recentemente abbiamo realizzato dei lavori di Roberto Fega, Dario Sanfilippo, Giampaolo Verga e ARG (Graziano Lella) che sono tutti nomi promettenti.
Gli Italiani hanno buoni musicisti e compositori di musica nuova molto importanti, per fare solo alcuni nomi cito Luigi Nono, Luciano Berio, Giacinto Scelsi, Salvatore Sciarrino. Costoro sono stati lungimiranti nel pensiero musicali già nei primi anni del XX secolo. Pertanto è naturale con una tale tradizione che sarebbero emersi nuovi valori...

AAJ: La musica elettronica è stata la prima influenza nel tuo modo di suonare il violino. Sono curiosa di sapere se hai modificato nel corso del tempo il tuo modo di suonare e in che modo?

E.R.: Mi avvicino sempre più al lato testuale e timbrico del violino, al suo corpo e a come è stato costruito, alla sua acustica, mettendo sempre meno note suonando...

AAJ: Ho letto che sei un fervido collezionista musicale. È ancora una passione, o, con il crescere dell'etichetta, è diventato in qualche modo anche un lavoro?

E.R.: Entrambe le cose sono vere: continuo a collezionare musica accanto al lavoro nell'etichetta. Non è un lavoro, ma sempre un piacere. A me piace davvero la musica...

AAJ: Che cosa ascolti e leggi abitualmente? Puoi segnalarci alcuni libri, film e cd che consideri importanti per capire la situazione presente?

E.R.: Per quanto concerne il cinema, apprezzo molto Sokurov, Syberberg, Straub e Tarkovski. Questi sono forse i miei "poeti dell'immagine" preferiti. Quanto ai libri, devo aggiungere Brodsky, un autore che mi aiuta ad andare ancor più nel profondo dell'esistenza. Quanto alla musica, è molto difficile per me nominare un solo autore rtra le centinaia, anche se Lachenmann è quello che vorrei scegliere. Francesca Bellino

Since the 1960s, when British musicians like Derek Bailey, Evan Parker and John Stevens forged a radical strain of non-idiomatic improvisation, abstract on-the-fly music making has gone through loads of permuta- tions. But over the last decade or so, per- haps the biggest factor in the music’s growth has been non-musical. The Internet has allowed an international community of musicians to flourish and interact, and now it’s hardly surprising that strong players thrive in far-flung locales.
“It’s played an essential role in what con- cerns the edification of an international com- munity, and we’re all part of it,” Portuguese violinist Ernesto Rodrigues said. In Lisbon, a city whose best-known musical export remains the emotionally fraught fado, he’s emerged as a distinctive voice of experimen- tation. Thanks to his Creative Sources label, the world is becoming an even smaller place.
Although Rodrigues grew up around the arts — his father was a playwright and his godfather was a classical musician — a childhood pal got him enrolled in a conser- vatory. While he studied the classics, he was pursuing a strong interest in experimental music and soon became influenced by the English school of free improvisation. “The relationship with my instrument is focused on textural elements,” he said. “Electronic music was an early influence on my approach to violin playing, which challenges
traditional romantic concepts of the instru- ment through the use of preparations and micro-tuning.”
Rodrigues launched the label in 2001, pri- marily to document his own work. He quickly managed to survey a broader range of activi- ty in Lisbon with recordings that featured
guitarists Manuel Mota and José Oliveira, pianist Gabriel Paiuk, bassist Margarida Garcia and his son, cellist Guilherme Rodrigues, among others. Much of the work subscribes to a minimal, gestural style of free improvisation, although Rodrigues recog- nizes a distinctly Mediterranean quality, “that one doesn’t find outside the country. There’s generally some feeling of contemplation and lyricism,” he said.
Before long the strength of the work began attracting others, and now, with a cat- alog that boasts more than 50 titles, Creative Sources not only represents the state of the art of improvisation in Europe — with work
from people like Axel Dörner (Germany), Stéphane Rives (France), Ingar Zach (Norway) and Alessandro Bosetti (Italy) — but in other locales as well, including the United States, Japan and Lebanon. Now Lisbon has become an important stop on any international itinerary, and early this year Rodrigues will be touring the United States with Mota. Pater Margasak (Down Beat)

Leading-edge musicians have been releasing recordings of their own work for decades to overcome commercial labels’ resistance. Some have documented an individual artist’s work, while others, like Evan Parker’s psi and Gino Robair’s Rastascan, expanded to take in other artists. Few have grown at the rate of Creative Sources, the Lisbon label launched in 2001 by violinist/violist Ernesto Rodrigues, a producer as intrepid as Portuguese seafarers in the age of exploration. The label that began modestly enough documenting Rodrigues’ own work now includes artists from around the world and has just released the 178th title in its catalogue.
Rodrigues’ story of his musical coming of age is not an unusual one. First influenced by his father’s taste in music, Rodrigues had his first music lessons with the composer Wenceslau Pinto, godfather of his father. By his teens, in the ‘70s, he was playing with singers - José Afonso, Fausto and Jorge Palma - leading figures in Portugal’s increasingly political music.
Drawn to experimental forms, he moved rapidly through groups and styles with a small but devoted coterie of Lisbon musicians: “My first improvisation group was an acoustic trio with Carlos Bechegas on reeds and Jorge Valente on piano. It was close to AACM aesthetics and I was very influenced by Leroy Jenkins; then came a trio with Bechegas and the singer Ines Martins and later a trio called Fromage Digital with José Oliveira on percussion and Valente on synth.” The fourth formation, a trio with Bechegas and Oliveira called IK*Zs, was the first to record, in 1995, appearing on Bechegas’ Projects (LeoLab). Rodrigues’ next appearance on CD was a duo with Valente released in 1999 as Self Eater and Drinker. Like many before him, Rodrigues bridled at the few opportunities to record. 2000 was the turning point, “Before 2000, there were a few people working but production costs were too high for CD release.”
It was then that Creative Sources began to take shape. In 1999 he recorded a series of improvisations called Multiples with his 11-year old son Guilherme playing cello and Oliveira playing percussion and acoustic guitar. Dedicated to the late John Stevens, Multiples documents Rodrigues’ interest in English- style free improvisation just before a significant shift in his work. When he couldn’t find a label to release it, it became the motivating factor in the birth of Creative Sources and its first CD.
A glance at the early releases suggests a modest intent: the first three discs all feature Rodrigues and Oliveira with a third player. While the CDs trace a sharp creative arc, it’s a modest effort to document closely the work of Rodrigues and his immediate associates: “I was concerned with documentation and possible self-promotion, but it was an ancient and powerful dream of mine to have a music label...”
From the start, the label had a distinctive visual identity, with the electronic musician Carlos Santos providing striking covers that often transform quotidian reality, words and shapes bending as if plastic. According to Rodrigues, “My relationship with Carlos has been going on for a long time and he works as a graphic designer. There’s a close proximity in aesthetics whether it’s label imagery or as a musical partner. I think he’s the perfect partner.”
The label soon expanded, welcoming musicians from around Europe, before moving on to Asia, America and the Middle East (there’s a special Lebanon connection). The first steps were small ones. The sixth release, Ura, recorded Alfredo Costa Monteiro, a Portuguese accordionist living in Barcelona, “but it really took off on the ninth production [No Furniture] with the Berlin trio with Axel Dörner and from there...it’s a small world. Musicians start to identify themselves with the label and then somehow it exploded. People from everywhere shared the same aesthetics.”
The aesthetic is clearly free improvisation, but it ranges from free jazz to the micro-explorations of English free improvisation, minimalism and EAI (electro-acoustic improvisation) that consistently blurs the identity of its sound sources. As the label rapidly expanded, its catalogue became a travelogue of international improvisation as well as an intimate family history of a small group of improvisers. It’s those two facets that give Creative Sources its special identity.

Rodrigues and Guilherme have traveled both literally and figuratively encountering different styles of improvisers at home and abroad. Among the highlights of their own recordings are Poetics, where they join the 18 members of the Glasgow Improvisers Orchestra; On Twrf Neus Ciglau, they’re at home in Lisbon to play with Carlos Santos and two very special guests, Welsh harpist Rhodri Davies and French soprano saxophonist Stéphane Rives. Another Lisbon recording, The Construction of Fear, has Rodrigues and Guilherme in free jazz terrain with the Brazilian tenor saxophonist Alipio C. Neto, Texas trumpeter Dennis Gonzalez and London drummer Mark Sanders. Perhaps Rodrigues’ greatest achievement is Stills, an ambitious recording that marked the label’s 100th release. It’s a three-CD set by the Variable Geometry Orchestra, a large ensemble of Lisbon improvisers: “It all started in 2000, bit by bit. I had a dream from my youth of having something similar to JCOA and Globe Unity Orchestra. It’s the first and only orchestra of this kind in Portugal and the triple CD is the necessary document.”

Trumpeter Nate Wooley is one of the American musicians who has appeared in the Creative Sources fold, releasing his first solo CD, Wrong Shape To Be a Story Teller in 2005 and a duo with guitarist Chris Forsyth, The Duchess of Oysterville, in 2007. For Wooley the label has been both an outlet and a source for otherwise unavailable music: Wooley is quick to point out Creative Sources’ track record with trumpeters, citing figures from the veteran Portuguese Sei Miguel to Argentinian Leonel Kaplan and the young Chicagoan Jacob Wick: “These are three players that are finally starting to get some recognition, but I still think some of their most interesting works were these early experiments that Ernesto took a chance on.” You can add Peter Evans and three intrepid Europeans: Axel Dörner, Franz Hautzinger and Birgit Ulher.
Gino Robair remarks, “I like the fact that Creative Sources lets the artist have total say over the details of a release, which isn’t always the case.” That’s likely why the Creative Sources catalogue includes some of the world’s most accomplished improvisers, like Backchats by Speakeasy, a group that pairs the singers Phil Minton and Ute Wasserman. There’s also the first session by Tom Djll’s Oakland project Grosse Abfahrt, called Erstes Luftschiff Zu Kalifornien. The catalogue includes other first-rank improvisers like reed players Xavier Charles, Bertrand Denzler, Jean-Luc Guionnet, Stefan Keune and Martin Kuchen and the guitarists David Stackenäs and Hans Tammen.
Rodrigues shows no signs of letting up. In the works are a recording by Swiss saxophonist Urs Leimgruber’s trio and Rodrigues’ own Suspensão, “an EAI octet dealing with silence, space and textures.” As with previous Creative Sources projects, they promise to be deeply personal adventures in fresh terrain. Stuart Broomer (AllAboutJazz-NewYork)

[…] O permanente cruzamento, trânsito e diluição de fronteiras entre o jazz e outros domínios e estilos musicais foi ao longo da década particularmente evidente entre os domínios do jazz e da *música improvisada (MI). Neste período proliferaram inúmeras formações (de constituição variável e frequentemente de duração efémera) que juntavam músicos com formação musical diversificada, desde o percurso de aprendizagem em escolas de jazz ou de *música erudita, até à formação autodidacta. A Variable Geometry Orchestra (VGO, fundada em 2000 pelo violinista e violetista Ernesto Rodrigues) constitui provavelmente o melhor paradigma desta tendência […]
De facto, uma parte substancial das actividades em torno da MI centrou-se precisamente em torno das actividades das editoras, com especial destaque para a CS, cujo catálogo de fonogramas de músicos portugueses, estrangeiros, e de colaborações entre músicos de várias nacionalidades atingia quase as duas centenas em 2010, o que proporcionou alguma visibilidade internacional. Revelando uma tendência do
mercado comum ao sector do jazz, o sucesso e a longevidade desta editora deveu-se não apenas a uma estratégia editorial claramente definida por parte do seu fundador, como também à contribuição monetária dos músicos para a edição dos seus próprios fonogramas. Também no domínio da MI o crescimento exponencial de músicos e da oferta musical não foi necessariamente acompanhado pelo crescimento de consumidores e de editores dispostos a investirem, fazendo com que o mercado se reorientasse grosso modo para o fenómeno daquilo que na prática funciona como autoedição, apesar de mediada pelo editor. Além da publicação de fonogramas, a CS e
Ernesto Rodrigues dinamizaram o circuito da música improvisada através da criação de inúmeras formações musicais com constituições bastante diversificadas, organização de concertos avulsos, e a criação de um festival anual (Creative Sources Fest, desde 2007). […]
Pedro Roxo (Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX)

A fully improvised set with two clever explorers of their very own instruments, Portuguese violinist Ernesto Rodrigues and French sax player Heddy Boubaker were both very competent on their dialogue.
This could actually have been their major sin. Players got truly involved in the ‘conversation’ and there were no place for big risk. Music was there, with adventurous sonic explorations and innovative aural stimulus for curious ears. But in a duo context, free music gets in a upper level when players can ask hard questions or take action into provocative ideas.
At the end, we can say that last night was a good beginning for MUSICAM, an audacious new event in a beautiful city like Abrantes, not really used to free improvisation, jazz or new music.
We strongly believe that the first two cagean minutes of Ernesto and Heddy worked as an initiation ritual for many more great nights in Abrantes. António Matos Silva (Fixwhatusee)

Fundada em 2001, a label lusa Creative Sources já editou até ao momento quase duzentos discos. Movimentando-se no panorama pouco mediático das músicas improvisadas, a editora liderada por Ernesto Rodrigues tem realizado um notável trabalho que, apesar de escondido do mainstream, se revela importantíssimo. Se poderemos dizer que a Clean Feed é uma das melhores editoras de jazz do mundo, neste momento a Creative Sources será sem sombra de dúvida um dos epicentros globais da música improvisada. Especialmente associada à estética reducionista, também conhecida por “near silence” ou “lowercase”, a editora afirmou-se líder nessa corrente, mas não se limita a uma estética única, explorando outros universos sonoros, sempre privilegiando o detalhe e o pormenor sonoro. O patrão da editora, Ernesto, continua a alimentar na qualidade de violista uma intensa actividade musical, contribuindo para o crescimento do catálogo de forma permanente, participando em boa parte dos discos do catálogo. Funcionando como complemento actualizado a umprimeiro artigo-síntese, os discos agora analisados são apenas uma amostra do fervor criativo de uma editora que não pára de surpreender pela originalidade, qualidade e consistência. Nuno Catarino (Bodyspace)

O violetista Emesto Rodrigues tem três novos registos da sua intensa actividade, como habitualmente em conjunção com musicos de outras paragens (os suecos Martin Kuchen e David Stackenas em "Vinter" e "Wounds of Light", respectivamente, e o alemão TonArt Ensemble em "Murmurios") e com três dos seus mais habituais parceiros portugueses (o seu fiIho Guilherme, Carlos Santos e Nuno Torres). Todos as seus conteudos foram integralmente improvisados e todos explicitam o estadio actual da chamada corrente reducionista, aquela que no dominio da musica improvisada vem seguindo o mesmo objectivo de retirada de materiais sonoros e de redução do volume que testemunhamos em outras areas musicais, incluindo o jazz "mainstream". Curiosamente, quando tocam dentro dos parametros convencionais desse mesmo jazz. já Kuchen (Iider do grupo Angles, editado pela alfacinha Clean Feed) e Stackenas (que toca habitualmente com Mats Gustafsson, saxofonista que ja tivemos entre nós varias vezes) não seguem esses parametros...
Sobretudo, o que Emesto Rodrigues e demais improvisadores reducionistas vêm fazendo é operar um corte com a tradicao romântica vinda do seculo XIX em termos da expressao, e que tanlo influenciou o jazz como ate a "old school" da improvisação livre. O expressionismo e os "sheets of sound" que caracterizaram Charlie Parker, John Coltrane, Sonny Rollins e Albert Ayler, e também Evan Parker, John Zorn, Daunik Lazro e Frank Gratkowski, sao uma decorrencia directa dessa matriz romântica, permitindo tal distanciamento a criação de uma musica que troca o fraseado pelas texturas e a escala pelo som, mesmo o considerado como nao-musical. Emesto justifica do seguinte modo este outro caminho que esta a percorrer: «Há formas mais subtis, eficazes e condizentes com o panorama actual do mundo. Vivemos numa epoca de turbulência, em crise de valores e até de identidade. Cabe a arte contrapor-se à pobre realidade a que estamos sujeitos. Na musica,
o uso de microtonalismos, elementos psico-acusticos, "drones" e rugosidades sao fenomenologicamete mais apropriados para o conseguir. Estes atributos podem conferir um lado mais telurico ou mais escatologico. e eu gosto disso." O também responsável pela etiqueta Creative Sources é claramente o produto da matriz cruzada - com elementos do jazz e da musica erudita - de onde emergiram as praticas europeias da improvisação. No seu caso particular, parte dos postulados do serialismo e do pós-serialismo avançados par Webern e do free jazz segundo a especial perspectiva do violinista Leroy Jenkins com o Revolutionary Ensemble. "As miniaturas webernianas foram-me determinantes para a aproximação do silencio, a economia dos elementos e a extrema concentração da musica que pratico", diz_ Emesto Rodrigues já esteve mais proximo da "new thing" do que na actualidade: "0 presente revivalismo do free jazz era previsível. Na altura em que surgiu, esta tendencia era, sem duvida, arrojada, mas hoje nao tem a mesma carga politica e social. Foi "domada" e "civilizada", sendo mais facil de tolerar pela sociedade de consumo, Natural sera que haja uma aproximação entre a musica improvisada e a musica erudita contemporanea. As fronteiras entre ambas estão a diluir-se e ha cada vez mais permutas entre os dois universos, pelo que se explica o afastamento do jazz por parte de abordagens da improvisação como a minha. Depois do free jazz temos a free music, que engloba algumas das expressões libertarias reclamadas por aquela corrente do jazz e algumas das concepções subjacentes a musica dita "seria" e ainda a acusmatica, ao espectralismo, ao concretismo, a "laptop music"…». A primeira das verificações derivadas da audição destes tres discos e a diferente gestao do factor "near silence" que vem definindo esta corrente da musica improvisada. O TonArt Ensemble pode estar nos antipodas da estetica do grito de um Peter Brotzmann, mas os "murmurios" anunciados pelo titulo do CD sao profusos, agitados e inquietos. Quando, em "Vinter", Martin Kuchen introduz repetições rítmicas na trama, esta a distanciar-se umas boas milhas dos ultra-minimalistas conceitos de Radu Malfatti e Taku Sugimoto. Por sua vez, "Wounds of light" tem em David Stackenas o "joker" com a missao de manter instaveis os equillbrios que se vao construindo, abrindo feridas na superfície do silencio e lançando sombras sobre o que se ilumina. Em todas estas edições, o proprio Ernesto - considerado um dos principais "chefes de fila" do reducionismo internacional -multiplica-se em gestualismos, num frenesim que, incrivelmente, nunca deixa de ser subtil. Na sua batalha contra os resquicios do Romantismo, sO se alterou a esse nível o fascinio do musico de Lisboa pelo dito silencio: «Dizem-me muito os compositores que sabem privilegiar esse factor tão precioso, o silencio anunciado por John Cage tem hoje. finalmente. a importancia que nunca antes Ihe foi conlerida, São eles Helmut Lachenmann, Salvatore Sciarrino, Gerhard Stabler, Gerard Grisey, Toshio Hosokawa, Vadim Karassikov, lancu Dumiirescu e Wolfgang Rihm, para so citar alguns. E Emmanuel Nunes. Tem sido um enorme privilegio poder disfrutar, nos "workshops" que realiza, de todas as suas sagacidade, argucia e mestria. A sua obra e um testemunho vivo da busca permanente de novas soluções e respostas em materias como o contraponto e a especialização. Com uma destreza notavel no dominio de abstracções tão exactas como as matematicas, e frequentemente rotulado como demasiado frio, mental ou rigido - epitetos com os quais estou totalmente em desacordo. No fim de um concerto meu nos Instants Chavires, alguem do publico perguntou-me se a peça que tinhamos acabado de tocar era da minha autoria ou se teriamos interpretado uma obra de Nunes… Respondi-Ihe que tudo tinha sido improvisado. Ao longo dos anos, talvez tenha assimilado e interiorizado inconscientemente algumas das caracteristicas que melhor definem o estilo do compositor".
O que resta, então, da influencia de Leroy Jenkins nas três mais recentes propostas discograficas de Ernesto Rodrigues? Aquilo que o falecido violinista norte-americano legou de mais essencial aos que ficaram: a constante busca de novas soluções e possibilidades, mas também, o que nao e menos importante, a atitude de abertura que permite nunca tornar a que se descobre ou obtem num dogma. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

Violetista e violinista com actividade nas areas do free jazz e da livre-improvisação desde a decada de 1980, tocou ou toca com musicos como Carlos Bechegas, Jose Oliveira, Manuel Mota, Marco Franco, Alfredo Costa Monteiro, Margarida Garcia, Carlos Santos, Nuno Torres, Pedro Rebelo, Michael Thieke, Christine Sehnaoui, Oren Marshall, Tetuzi Akiyama, Wade Matthews, Alessandro Bosetti, Birgit Ulher, Mark Sanders, Jean-Luc Guionnet, Seijiro Murayama, Raymond MacDonald, Rhodri Davies, Martin Kuchen, Gino Robair e David Stackenas, entre outros. Em paralelo, dirige a etiqueta Creative Sources, actualmente com mais de uma centena de CDs editados, e organiza eventos musicais, entre os quais o Creative Sources Fest. Estes sao as seus discos preferidos de sempre…

Eric Dolphy “Out To Lunch” Blue Note, 1964; Albert Ayler “Bells” ESP Disk, 1965; Ornette Coleman “Chappaqua Suite” CBS, 1966; AMM “AMM Music” Elektra, 1967; John Coltrane “Om” Impulse!, 1967; The Jazz Composer's Orchestra “The Jazz Composer's Orchestra” JCOA Records, 1968; Peter Brötzmann Octet “Machine Gun” BRÖ, 1968; Maurice McIntyre “Humility In The Light Of Creator” Delmark, 1969; Alan Silva “Skillfullness” ESP Disk, 1969; New Phonic Art “Begegnung In Baden-­-Baden” Wergo, 1971; Sun Ra And His Intergalactic Research Arkestra “It's After The End Of The World -Live At The Donaueschingen And Berlin Festivals” MPS Records, 1972; Don Cherry & The Jazz Composer's Orchestra “Relativity Suite” JCOA Records, 1973; David Holland Quartet “Conference Of The Birds” ECM Records, 1973; Creative Construction Company “Creative Construction Company” Muse Records, 1975; Derek Bailey “Improvisation” Cramps Records, 1975; Gruppo Di Improvvisazione Nuova Consonanza “Musica Su Schemi” Cramps Records, 1976; Revolutionary Ensemble “Revolutionary Ensemble” Enja, 1977; Anthony Braxton “The Montreux / Berlin Concert” Arista, 1977; Cecil Taylor “Cecil Taylor Unit” New World Records, 1978; Evan Parker “Monoceros” Incus Records, 1978; MEV “United Patchwork” Horo Records, 1978; The Art Ensemble Of Chicago “Nice Guys” ECM Records, 1979; Globe Unity “Compositions” Japo Records, 1980; Wolfgang Fuchs / Georg Katzer “FinkFarker” FMP, 1990; The Sealed Knot “Untitled” Confront, 2000; Axel Dörner “Trumpet” A Bruit Secret, 2001; Jean -Luc Guionnet “Pentes” A Bruit Secret, 2002; Yoshimitsu Ichiraku / Kazushige Kinoshita / Taku Unami “Cymbal Violin Lapsteel” Hibari Music, 2002; Stéphane Rives “Fibres” Potlatch, 2003; Radu Malfatti "Wechseljahre Einer Hyäne” B-Boim, 2007 Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

O mais recente número da mais famosa revista de jazz do mundo traz um artigo sobre o improvisador português Ernesto Rodrigues. O interessante artigo é da autoria de Peter Margasak e foca as actividades do músico e da sua editora, Creative Sources. Neste momento Ernesto Rodrigues encontra-se nos Estados Unidos, país que vai percorrer em concertos durante o próximo mês, na companhia do guitarrista Manuel Mota. Parabéns, Ernesto! Nuno Catarino (aformadojazz)

Oito improvisadores em torno do silêncio. Ou por dentro e fora dele, se preferirem. "Suspensão", nome do espectáculo a apresentar esta noite na Galeria Zé dos Bois, reúne um octeto que desenvolve uma exploração minuciosa dos timbres de cada instrumento, contrapondo-a à total ausência de som. Um exuberante universo de micro-texturas sonoras relaciona-se intensamente com o espaço envolvente e cria uma dinâmica na qual o silêncio tem um papel determinante. Próxima de uma estética a que se convencionou chamar de reducionista ou near-silence, esta é uma música de câmara exigente que poderá tirar partido do enorme talento dos improvisadores convocados para este encontro: Ernesto Rodrigues na viola e harpa, Guilherme Rodrigues no violoncelo, Abdul Moimeme na guitarra eléctrica, Gil Gonçalves na tuba, Nuno Torres no saxofone alto, Armando Pereira no acordeão e piano de brincar, Carlos Santos na electrónica e José Oliveira na percussão. Fundador da editora Creative Sources e um dos mais activos improvisadores nacionais, Ernesto Rodrigues prossegue um trabalho notável e crucial no desvendar de novos universos musicais. Rodrigo Amado (Público)

O violino já faz parte da vida de Ernesto Rodrigues há mais de trinta anos. Compositor, violetista e violinista, Ernesto Rodrigues já trabalhou com nomes reconhecidos nacional e internacionalmente, tais como Carlos Zíngaro, Evan Parker,Phil Niblock, Iannis Xenakis.

Desta feita, veio apresentar ao público o seu último trabalho, desenvolvido em conjunto com mais sete artistas: Abdul Moimemme (guitarra), Armando Pereira(acordeão e piano de brincar), Carlos Santos (electrónica), Gil Gonçalves (tuba),Guilherme Rodrigues (violoncelo), José Oliveira (percussão), Nuno Torres(saxofone). Suspensão é o nome da obra destes oito artistas, estreada na sexta-feira (dia 11) na Galeria Zé dos Bois.

Não foram muitos os que se dirigiram para o Bairro Alto numa sexta-feira de chuva. Porém, a plateia que assistiu à estreia do Octeto de Ernesto Rodrigues estava razoavelmente composta. Não é difícil compreender o seu porquê. Ernesto Rodriguesé um dos nomes de relevo no seio do jazz nacional. Adepto de improvisos, divagações libertinas e de particularidades sonoras que evocam logo o “free”, este trabalho não fugiu à regra que caracteriza a carreira do músico. Todavia, este projecto de oito músicos tem uma marca que se distingue. De carácter reducionista, uma aproximação do silêncio, uma procura ininterrupta do silêncio como forma de expressão.

Foi com base no silêncio – tanto como caminho, como objectivo – que cerca de uma hora de música se desenrodilhou. Não é fácil evocar o silêncio com mais de dez instrumentos em palco, uma plateia um tanto agitada e uma sexta-feira à noite no Bairro Alto. Se Ernesto Rodrigues fazia ouvir uma harpa tácita e Nuno Torres nos brindava com um saxofone que caminhava pela mudez, logo de seguida Gil Gonçalves soltava um som destemido de tuba que destruía de imediato a camada silenciosa que se propagava pela sala. A brincadeira esquemática – silêncio, não silêncio – foi o fruto da noite.

Sem paragens, os músicos desenvolviam momentos de maior tensão, em que a tuba, electrónica, percussão, violino e piano de brincar se faziam ouvir com maior energia, para logo de seguida se deixarem levar por uma onda sonora amena, apenas interrompida pelas vozes que se adivinhavam vindas das ruas bairristas.

Entre os músicos que davam o seu contributo individual (e simultaneamente colectivo) para que a música se fizesse ouvir, Guilherme Rodrigues seguia os passos do pai, Ernesto Rodrigues, que, em certa medida, o encaminhou no seu contributo. Alguma prematuridade esteve muito presente na interpretação de violoncelo deGuilherme Rodrigues. Contudo, é importante frisar a jovem carreira do violoncelista, principalmente em comparação com a carreira dos músicos que se encontravam em palco.

Se algo faltou, então foi a ligação entre os intérpretes. Claramente, é difícil que exista uma relação intensa entre oito músicos em palco. Se Ernesto Rodriguestrocava expressões com o seu filho e Gil Gonçalves compartilhava devaneios tubísticos com o percussionista José Oliveira, poucos momentos mais de partilha se viram e escutaram na actuação. Permanece a dúvida sobre se o desfasamento entre os músicos seria por ser uma estreia e, portanto, o projecto estar pouco desenvolvido nos parâmetros do desempenho ao vivo ou se a individualidade é pressuposta.

Em suma, a noite ficou marcada por uma experiência “near silence”. Afinal, o silêncio pode ser entendido nas mais diferenciadas dosagens e formas, pode ser vítima de diversas interpretações e relações. Foi a experiência do silêncio que deu azo a um exercício de criatividade feito por esta Suspensão de oito intérpretes distintos. Regina Morais

O regresso ao prazer das novas músicas...em tempos também Orquestra Vermelha, "Self Eater and Drinker" apresenta-nos Ernesto Rodrigues & Jorge Valente, em 1999 e em nome próprio. Tudo isto é muito estranho. Belíssimamente estranho. Confesso que é um universo pouco habitual nos meus roteiros sonoros mas que pouco a pouco, vou descobrindo, sentindo, tentando perceber. É um universo tão escondido, ignorado, mesmo desconhecido e que no entanto, tem tantos lusos alvo de reconhecimento por esses quatro cantos fora. Refiro-me ao mundo do experimentalismo contemporâneo, ao mundo do improviso e refiro-me aos casos de Carlos Zíngaro, Rafael Toral, Carlos Bechegas, Nuno Rebelo ou mesmo Sei Miguel, Jorge Lima Barreto ou Vitor Rua, entre os que aqui hoje refiro, obviamente. Este é o incrível mundo do improviso...da paixão pelo som e por aquilo que este nos pode devolver. Use-se o que se usar, como se usar. E esta é uma suite em oito partes dedicada a Martin Kippenberger, na qual Ernesto Rodrigues (violino, violino preparado e processador de sinal) e Jorge Valente (sintetizador e computador) improvisam, criando um diálogo muito pessoal entre um violinista e um teclista, entre duas formas de vibrar um instrumento...mas claro que é muito muito mais do que isto [...] Rui Dinis ( A Trompa)

Five releases that feature Ernesto Rodrigues, recorded between 1999 and 2010 in various settings. Rodrigues has been heard on many, many discs, enough that I wouldn't presume to use these examples of anything definitive regarding a partial career arc, but in very general terms, they might be seen as limning some parts of a pathway. He's always, from what I've heard anyway, trod a line between (for lack of better shorthand) efi and eai, gradually casting aside some of the busier aspects of the former, but never entirely jettisoning that particular approach to group interplay. Brian Olewnick (Just Outside)

Since first encountering the music of the Iberian improvisers, I guess more than ten years ago now, I've been impressed by the territory they (speaking generally) carved out for themselves, distinct in a number of ways from the improv being practiced elsewhere. As they, inevitably, began to mingle more and more with other European, Asian and American musicians, the music widened in many respects, perhaps lost some idiosyncrasy in others. But here, as elsewhere, it's heartening not to hear complacency, to continue to hear the searching, often along that difficult, slippery and occasionally very rewarding path between efi and eai. Brian Olewnick (Just Outside)

[...] De perna cruzada, como se estivesse a beber uma cerveja na esplanada, Ernesto Rodrigues procurou reações em todos os lugares possíveis e impossíveis do seu instrumento. Quem disse que questionar os limites é uma luta contra o suor? [...] Rui Eduardo Paes (Bitaites)

Ernesto Rodrigues e Carlos Santos exploram conceitos da improvisação electro-acústica, de cariz marcadamente reducionista.
Um duo formado por violino/harpa e um dispositivo electro-acústico conhecido por criar atmosferas intimistas, atento aos detalhes das texturas e sons, onde o silêncio e a arquitectura sonora são dois importantes factores para o jogos entre os materiais acústicos e electrónicos. ZDB

[...] No caso do Ernesto Rodrigues, que vai tocar também com um quinteto, entram dois improvisadores estrangeiros, o Rhodri Davies, que toca harpa eléctrica e é um dos grandes improvisadores europeus, e também o Stéphane Rives, que é um saxofonista especialista na corrente musical chamada de near silence, que trabalha todo o tipo de sons não convencionais que se podem tirar do instrumento, um trabalho muito microtonal. CCB

O Lumpen Trio é uma formação que se dedica à improvisação livre entendida como gestão de acasos e criação de acidentes onde o esquecimento, a emoção, a intensidade, aliados a um espírito lúdico e despreocupado, têm uma função estruturante e dinamizadora.
Criado em 2001 por António Chaparreiro, Jorge Serigado e Ernesto Rodrigues, tem mantido uma actividade vocacionada essencialmente para actuações ao vivo e cujos registos têm sido particularmente bem recebidos pela crítica.

[...] Da estética "near-silence" partiram igualmente os Rodrigues pai e filho, respectivamente em viola e violoncelo, e a contrabaixista italiana, mas radicada em Ponta Delgada, Gianna de Toni, se bem que evoluindo para situações conotáveis com a música contemporânea, aqui ou ali evocando um Salvatore Sciarrino e um Helmut Lachenmann. Abordagens extravagantes das cordas e das madeiras dos instrumentos, com os arcos, os dedos ou objectos vários, expandiram as possibilidades de execução, e nada foi excluído das lógicas aplicadas – em meio ao abstraccionismo geral, uma micromelodia em repetição ganhou especial efeito, denotando um sentido de oportunidade e uma inteligência construtiva admiráveis. [...] Rui Eduardo Paes

Creative Sources a acquis la réputation de livrer à nos oreilles une avalanche d'enregistrements "radicaux" d'improvisation rédutionniste- expérimentale. On a découvert Bertrand Gauguet, Mazen Kerbaj, Birgit Uhler, Ruth Barberan, Jean-Luc Guionnet. Jason Kahn, Leonel Kaplan, Sharif Sehnaoui, Wade Matthews et Ernesto Rodrigues, bien sûr, ... etc etc ... et aussi des artistes tout à fait méonnus. Dans la masse, on avait l'impression que les perles étaient un peu noyées. Plus récemment, un quartet de Phil Minlon, Thomas Lehn, Ute Wassermann ct Martin Blume nous donnait à entendre de l'impro libre "traditionnelle" (si je peux m'exprimer ainsi).
Il semblerail que cette tradition revient en force dans le catalogue CS. On se croirait chez Emancm ou FMP. Jean-Michel van Schouwbourg

Soyons francs : le label Creative Sources est un label ouvert et novateur et il présente des co-productions d'artistes d'horizons très variés après avoir été le réceptacle de démarches innovantes dans l'improvisation radicale. C'est à la fois une mine de trésors, une collection intéressante de projets mûrement réfléchis, un portefeuille de cartes de visites, les témoignages d'associations momentanées et d'instants fugitifs. J'ai essayé de retracer des albums qui me semblent mériter le détour parmi les dizaines de productions récentes ou plus anciennes (230 numéros au catalogue). Plus anciennes car il y a sûrement des choses qui nous échappent. Note : cette page - ci sera complétée. Jean-Michel van Schouwbourg

O gesto tem cada vez maior importância na música do violetista português, e é por essa via que a sua improvisação reducionista está mais próxima dos conceitos aplicados na chamada noise music. Pois oiçamos os seus nove discos mais recentes…

A ideia de gesto nas artes tem um duplo atributo – respeita tanto ao resultado (uma pincelada, um som) como ao movimento que o produziu. Regra geral, porém, o que o apreciador da obra artística percepciona é a realização sem o movimento, sendo este apenas imaginado. E é neste ponto que se introduz um elemento desorientador, pelo menos no que à música diz respeito: há sequências sonoras que entendemos como gestuais, pelo modo como nos surgem na audição de um disco (regra geral, num concerto vemos o que ouvimos), mas dificilmente visionamos como foram realizadas – acontece tal, sobretudo, nas criações electroacústicas que aplicam os princípios do concretismo, com a anulação da “causa sonoris” para uma totalmente autónoma vivencialidade do som.

Se poderíamos dizer, assim sendo, que o desconhecimento da fisicalidade do gesto anula o seu efeito perceptível, o certo é que tal não acontece. Na música, a própria fisicalidade do som basta para concluirmos dessa abordagem gestual. Há um movimento intrínseco e uma imaginação do movimento, ainda que esta seja imprecisa. Os conceitos instalados quanto ao gestualismo sonoro têm como quadro a música escrita de tradição académica, vulgo “clássica” – o gesto está predefinido, restando apenas ser realizado em cada performance. Esse gesto pode ter uma curta duração, mas não é efémero. A notação estipula que se repita.

Quando se trata de música improvisada, prática iminentemente performativa, não há previsão e muito provavelmente também não haverá repetição. Nem por isso a importância do gesto se relativiza face à consequencialidade do som: este aconteceu e foi determinante para a trama que se desenvolve, mesmo que o seu momento passe depressa, para não mais voltar. Se essa improvisação é gravada, reencontramo-lo. O gesto musical improvisado pode ser fugaz, mas é tão efectivo quanto algo que cuidadosamente se coreografe.

Ernesto Rodrigues é um músico gestual e um improvisador, e a diferença que o seu gestualismo improvisado tem com o gestualismo clássico não está somente na inexistência de uma partitura que lhe conduza os movimentos. É a forma como utiliza o instrumento que define esse corte com a previsibilidade. Os sons que produz nem sequer são possíveis de notar, pelo menos convencionalmente – na maior parte dos casos não se trata de notas, ou seja, sons musicais, e sim de ruídos (por definição: sons “sem significado”) provocados pela manipulação de todo o corpo da sua viola (também da harpa, que toca em dois dos títulos aqui referidos, e da armação interior do piano).
Ora, o ruído consegue ser bem mais gestual do que um som temperado, um tom. Quando ouvimos um raspanço, imaginamos algo a raspar. O som é o gesto, o gesto é o som. Mas atenção: não é necessariamente uma unha sobre a madeira da viola que nos vem à mente. As possibilidades imagéticas são imensas, dando a este tipo de improvisação um carácter cinemático sem igual. Daí decorre que tanto a estética reducionista, tendência em que Rodrigues se insere, como a chamada “noise music” – também ela muito frequentemente improvisada – sejam ambas músicas gestuais, e exactamente pelos mesmos motivos. Nesse aspecto, pouca diferença faz que no reducionismo se proceda ao “close miking” do sussurro e que no noise se explore esse excesso de sinal sonoro a que se chama “feedback”.

O interessante nesta similitude de posicionamentos é o facto de a corrente reducionista estar gradualmente a assumir-se como uma música noise, uma música de ruído. O volume será, sem dúvida, consideravelmente mais baixo do que qualquer coisa que Merzbow e Pita façam, mas longe estão os lançamentos de que aqui damos conta da ortodoxia “near-silence” de há uns anos.
[…] Ernesto Rodrigues vem colocando importantes deixas para análise no que respeita à estética reducionista, à utilização do ruído e à gestualidade da música. Basta ouvir com atenção e tirar as ilações…
Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

A ZDB recebeu mais uma vez o evento anual da improvisação reducionista nacional. Com algumas situações a saírem para fora desse enquadramento, ouviu-se música silenciosa e, a meter-se dentro dela – John Cage teria ficado deliciado –, o ruído das sempre festivas noites do Bairro Alto. Aqui ficam as imagens…
Durante dois dias, com um total de seis concertos, a editora discográfica portuguesa Creative Sources – rival da Clean Feed na quantidade de edições (cerca de 250) e na variedade internacional do seu catálogo – teve mais uma edição do seu festival. Decorreu a 4 e 5 de Outubro no Aquário da ZDB, em Lisboa, com uma programação que, uma vez mais, incidiu sobre a corrente “near silence”, com a música reducionista no interior a debater-se com o ruído que vinha da noite do Bairro Alto.
Excepção foi o Wind Trio de Paulo Chagas, Paulo Curado e João Pedro Viegas, ainda no rescaldo da edição de “Old School, New School, No School”, que enveredou por uma improvisação mais próxima do jazz…
O evento fez-se com a nata da casa organizada em várias formações, uma delas um ensemble mais alargado, com 11 elementos, e dois convidados especiais, o saxofonista soprano Christophe Berthet e o trompetista Louis Laurain.
Abdul Moimême e Eduardo Chagas tocaram em duo, Carlos Santos fez um solo e Ernesto Rodrigues, o responsável da Creative Sources, surgiu em dois contextos, à frente da orquestra e em quarteto com Guilherme Rodrigues, Ricardo Guerreiro e o referido Laurain. Por lá passaram também Maria Radich, Nuno Morão, José Oliveira, Bruno Parrinha, António Chaparreiro, Miguel Mira e Yaw Tembe, músico suazi radicado em Lisboa. Nuno Marins (Jazz.pt)

Creative Sources Records, based in Portugal, was conceived in 1999 by violist/composer Ernesto Rodrigues as an outlet not only for his own work but for the kind of challenging, non-commercial music that appealed to him. The label originally released work by new music improvisers from Portugal and Spain, many but by no means all of them featuring Rodrigues. The label now issues work by musicians from both hemispheres and has put out fine performances not only by Rodrigues and his cellist son Guilherme, but also by Radu Malfatti, Mike Bullock, Axel Dörner, Ricardo Guerreiro, Gino Robair, Udo Schindler, Raed Yassin and many others.

Rodrigues came to adventurous improvisational music in the 1970s, a time when he listened to free jazz, the post-war avant-garde art music of Ligeti and Stockhausen, and the experimental work of Morton Feldman and John Cage. And one can hear in his music the influence of these latter two composers, particularly in the generally quiet dynamics and the ascendency of timbre over pitch that characterize much of his playing.

Although Creative Sources releases a diverse range of approaches to electro-acoustic improvisation, it does have an identifiable aesthetic. There are exceptions, of course, but an archetypal Creative Sources release will more likely than not contain sound art of refinement and restraint—qualities that summarize Rodrigues’ own playing quite well. In general the music texturally focused, developing gradually through nuanced shifts in shading, density and dynamics.

Several of Creative Sources’ recent releases serve as a good sampling of the label’s approaches to defining and exploring its particular aesthetic of improvisational sound art. Daniel Barbiero (Percorsi Musicali)

A editora lusa Creative Sources, que celebrou o seu 100º lançamento com a edição do disco "Stills" da Variable Geometry Orchestra, apresenta o seu festival. No sábado, dia 10, a partir das 21h00, a Bomba Suicida (na Rua Luz Soriano, ao Bairro Alto) acolhe o festival Creative 01. Nesta noite será apresentada uma sequência de espectáculos de 13 duos, que actuarão cerca de dez minutos cada um. Participarão neste evento nomes ligados à improvisação como Adriana Sá, Davia Maranha, Rodrigo Amado, Sei Miguel, Hernâni Faustino, Peter Bastiaan, António Chaparreiro, Luís Lopes, Eduardo Chagas e até mesmo o responsável da editora (e da iniciativa), Ernesto Rodrigues. Nuno Catarino (Bodyspace)

Ernesto Rodrigues é un dos grandes nomes da improvisación electroacústica (http://rateyourmusic.com/genre/EAI/). A súa práctica privilexia o imprevisible a partir do encontro creativo con outros músicos nos máis diversos contextos. O seu extenso traballo está sobre todo documentado en Creative Sources, editora que inicou en 2001 e que é hoxe unha das máis relevantes do panorama internacional. Ricardo Guerreiro (ordenador) colaborou regularmente con ER ao longo dos últimos anos sexa en grupos como IKB ou en formacións máis reducidas ao lado de nomes como Axel Dörner ou Radu Malfatti. O saxofonista Bertrand Gauguet, un dos músicos máis interesantes e activos da actualidade, visita a península ibérica para unha pequena serie de concertos con este trío, que ten inicio en Galicia e pasa polo Porto antes do concerto final no Panteón Nacional en Lisboa. (Alg-a Lab)

Alto nível

Com nove concertos divididos em três dias, na Galeria Zé dos Bois e na Igreja de St. George, o festival da editora Creative Sources juntou uma boa parte dos músicos activos na cena da improvisação em Portugal. O nível esteve sempre por cima.

Nos dias 7, 8 e 9 de Novembro aconteceu a oitava edição do Creative Fest, o festival da editora Creative Sources. Esta já se aproxima dos 300 títulos editados, numa linguagem de modo geral próxima do near silence, e alinhou para o efeito uma mescla de formações trabalhadas regularmente e outras em estreia absoluta, com concertos entre a ZDB e a Igreja de St. George, em Lisboa.

Desordeiramente

A abrir o primeiro dia tivemos um trio constituído por Paulo Curado na flauta, Miguel Mira no violoncelo e João Madeira no contrabaixo. Mira e Madeira têm vindo a desenvolver uma proveitosa parceria, nomeadamente no projecto Sopa da Pedra, com a trompetista Hilaria Kramer. A dupla de graves em festa apresentou-se desta vez com Curado, evidenciando uma sólida união entre estes músicos. Numa actuação algo curta, o trio apresentou-se coeso sobre um pulsar comandado por Mira e seguido desordeiramente pelos restantes elementos.

De seguida tocaram Albert Cicera nos saxofones, Hernâni Faustino no contrabaixo e Rodrigo Pinheiro na electrónica. Todos os concertos do festival, com mais ou menos decibéis, se enquadraram numa linguagem abrangente associada ao experimentalismo e à improvisação. Sem fugir a esse género alargado, esta actuação evocou o seu quê de “chill out”, banhando a Galeria Zé dos Bois com um “feeling” de praia no Inverno, talvez muito por culpa de Pinheiro.

O também pianista criou uma envolvência electrónica a lembrar o som de ondas no mar. Se Rodrigo Pinheiro foi a maré, as cordas granosas do contrabaixo de Faustino foram a areia. O sopro de Cicera foi o vento carregado de maresia salgada, ora mais contido, ora num final mais melódico e expansivo, como se John Lurie estivesse em São Pedro de Moel num dia mau de Dezembro.

O terceiro de quatro concertos do primeiro dia contou com José Bruno Parrinha no clarinete, Yaw Tembe no trompete e Guilherme Rodrigues no violoncelo. Foi o concerto mais reducionista do dia, com momentos de evidente tensão silenciosa. Rodrigues é peixe dentro de água neste registo, ao contrário de Parrinha e Tembe, que por vezes resvalavam para zonas mais cinzentas. O som geral ganhava sempre que havia cedências no braço de ferro idiomático e ou se assumia a contenção ou se libertavam os sopros para cenários em que pudessem cantar à vontade.

O último concerto da noite era também o mais esperado. A sala encheu-se para ouvir os Bande à Part a comemorar o lançamento do seu primeiro disco, “Caixa Prego”. A banda é constituída por Joana Guerra no violoncelo, Ricardo Ribeiro nos clarinetes e Carlos Godinho na percussão. Tocando num registo a respirar sangue e ideias novas e contendo em si todos os ensinamentos retirados da velha guarda da improvisação portuguesa, este trio reúne o melhor de dois mundos.

Excluindo o prolífero e eterno duo de Sei Miguel e Fala Mariam, os Bande à Part foram o grupo mais continuado de todo o festival, e isso ouviu-se, distanciando-os das formações ad-hoc. O conhecimento mútuo e os papéis complexos e mutáveis bem definidos entre os três fazem deste um dos projectos mais sólidos e interessantes da cena actual de música improvisada em Portugal. Mereciam um lançamento de disco com mais destaque, embora se tenham inserido muito bem na programação deste Creative Fest.

Do caos ao xadrez

O segundo dia de concertos na ZDB começou com um duo do percussionista José Oliveira e da cantora Maria Radich. Para além de uma panóplia de pequenos objectos sobre um timbalão de chão, o primeiro usou uma concertina, “field recordings” e um balde com água. Mesmo com as luzes reduzidas, esta não deixou de ser uma apresentação muito visual, com Oliveira a multiplicar-se entre instrumentos com grande presença cenográfica e Radich, também bailarina, a usar o corpo como complemento natural da voz. Qualquer um dos três duos da noite se poderia dividir entre yins e yangs: neste caso, José Oliveira estaria remetido a um papel de natureza na sua busca por um caos inato e Maria Radich emprestava a sua voz a civilizações inteiras.

Sei Miguel (trompete) e Fala Mariam (trombone) reinterpretaram de seguida o tema “Asterion”, peça escrita e estreada em 1999 e parte do disco “Ra Clock”, cuja interpretação conta com os músicos Monsieur Trinité e Paulinho Russolo, para além de Miguel e Mariam. Sei Miguel introduziu a peça com uma explicação: o minotauro (Asterion – meio homem, meio animal, meio divino) condenado a passar a sua vida a percorrer um labirinto é mais representativo da condição humana do que o herói que o mata.

O trompete, enquanto instrumento associado à tourada, tem nesta peça um papel ambíguo. O ataque das notas de Sei Miguel representa tanto a melodia de um Teseu toureiro celeste, como a complexidade associada à existência da criatura mitológica. Já o trombone é um yin assumido da escuridão monstruosa do minotauro, o bom diabo. O não-jazz de câmara mediterrânico ali ouvido deixou-nos a chorar por mais.

Seguiu-se um duo de electrónicas, por João Silva e Carlos Santos. Sentados frente a frente, utilizando uma mesma mesa de mistura e objectos amplificados, remeteram-nos para um cenário bergmaniano no qual ambos jogavam xadrez contra a morte. Se Santos pode ter uma propensão para os sons inorgânicos, Silva trouxe consigo uma bagagem cheia da filosofia e da sonoridade asiáticas. O jogo de xadrez acabou empatado entre a musique concrète e o “drone”.

Sugerem os estudiosos desta matéria que a música surgiu com a repetição dos ritmos dos passos, das enxadas a cavar e do grito transformado em canto. Ritmo e melodia organizados de acordo com padrões reconhecíveis. Ora, aquilo que se pôde ouvir neste festival em geral e no último concerto do segundo dia em particular foi uma organização sonora de acordo com pormenores do mundo audível que poderão facilmente passar despercebidos. O trio composto pela principal figura da Creative Sources, Ernesto Rodrigues, na viola, Nuno Torres no saxofone alto e Nuno Morão na tarola explorou, sobretudo, esse mundo de subtilezas.

Aquilo que poderá passar por estranheza para a maioria talvez o seja devido à falta de atenção àquilo que nos rodeia. Por essa ordem de ideias, Torres parecia saído de outro planeta, emanando sons para os quais não há onomatopeias satisfatórias. Mestre na arte da tensão, Rodrigues geriu pacientemente as suas intervenções. Não haverá muitos percussionistas à altura da ingrata e difícil tarefa de acrescentar alguma coisa num registo reducionista, mas Morão foi responsável por muita da cor ouvida no último concerto a ocorrer na ZDB.

Rhinocerus

Ficou guardado para a Igreja de St. George o último concerto do Creative Fest, com o IKB Ensemble, também a comemorar o lançamento de um CD, “Rhinocerus”, gravado ao vivo no Panteão Nacional. O colectivo reuniu 18 músicos, a saber Ernesto Rodrigues, Marian Yanchyk, Guilherme Rodrigues, Miguel Mira, José Oliveira, Maria Radich, Bruno Parrinha, Paulo Curado, Nuno Torres, Yaw Tembe, Eduardo Chagas, Gil Gonçalves, Abdul Moimême, Armando Pereira, Rodrigo Pinheiro, Carlos Santos, João Silva e Nuno Morão. A maioria dos membros do IKB participou nas formações que tocaram nos dias anteriores do festival.

Mais do que um grande número de pessoas a tentar tocar pouco e baixinho, este “ensemble” quase-near-silence primou pelas dinâmicas estereofónicas que causam um imenso impacto. Embora com poucos devotos na igreja, o naipe de instrumentistas muito rico em timbres cumpriu com PROFISSIONALISMO e sentido de compromisso um bom concerto, que esperemos que resulte em mais uma edição Creative Sources. Bernardo Álvares (Jazz.pt)

Ao leme da editora Creative Sources o violista Ernesto Rodrigues tem sido responsável pela construção de um arquivo sonoro que já se aproxima dos trezentos volumes. Fundada no ano de 2001, e actualmente já com 285 discos editados, a editora tem hoje em dia um catálogo fenomenal, verdadeiramente representativo daquilo que é a improvisação no século XXI. Especialmente associada ao reducionismo, a editora não se tem limitado a uma estética única, com algumas aproximações ao FREE jazz e à improvisação mais abrangente, promovendo sobretudo músicas que privilegiam o detalhe e o pormenor sonoro. Pelas edições da Creative Sources têm passado músicos portugueses essenciais (como Manuel Mota, Margarida Garcia, Hernâni Faustino, Rafael Toral ou Sei Miguel), além de figuras internacionais (como Peter Evans, Radu Malfatti, Oren Marshall, Rhodri Davies, Axel Dörner, Mazen Kerbaj, Dan Warburton, Urs Leimgruber, Tetuzi Akyiama, Christian Lillinger, Jean-Luc Guionnet, entre muitos outros). Na continuação ao TRABALHO de revisão da obra da editora (depois de termos passado pelos períodos de 2005-2006 e 2007-2010), fazemos agora uma recapitulação ao trabalho mais recente da editora, com uma selecção de álbuns editados nos últimos três anos, todos contando com a participação do violista e mentor da editora, Ernesto Rodrigues. A improvisação continua. Nuno Catarino (Bodyspace)

Concerto de música de câmara electroacústica para seis músicos, baseada em improvisação estruturada próxima da corrente estética "near silence" ou reducionista. A abordagem de cada músico aos diferentes instrumentos, neste caso, cordas acústicas e eléctrica, percussão, saxofone, trompete e electrónica, põe em evidência a exploração textural e sonora dos timbres em situações de micro-grupos ou em densidades e dinâmicas de conjunto, acentuando a sua relação com o espaço envolvente. Esta reunião de intérpretes/ compositores é protagonizada por Ernesto Rodrigues que desde há cerca de 20 anos se apresenta como um dos violinistas mais importantes do panorama musical português, abarcando diversos estilos, desde a música contemporânea, ao free-jazz, à música improvisada ao vivo e em estúdio. (Miso Music)

Ernesto Rodrigues (n. 1959), violinista, constitui-se como outro exemplo de músicos improvisadores que iniciaram a sua atividade no final dos anos 70, início dos anos 80, com Carlos Bechegas e Jorge Valente, tendo sido influenciado pelo grupo Plexus, de Carlos Zíngaro. A sua linha estético-musical desenvolveu-se, no entanto, a partir de fundamentos distintos dos do free jazz, centrando-se na exploração de texturas sonoras acústicas e eletrónicas mais próximas da corrente denominada near silence180, tendo vindo a fundar a editora Creative Sources, em 1999, vocacionada para a música improvisada, e o grupo de improvisação Variable Geometry Orchestra, em 2000. Manuel Guimarães (Tese de Mestrado)

Pelo terceiro ano consecutivo acolhemos o Festival Creative Sources, mostra superlativa do catálogo da influente e multifacetada etiqueta de música experimental improvisada, fundada por Ernesto Rodrigues..

Fundada pelo músico Ernesto Rodrigues em 1999, a Creative Sources é uma das mais importantes editoras a nível mundial no campo da música experimental e electro-acústica. Aproveitando a edição de ‘Caixa-Prego’ do Trio Bande à Part, acolhemos um festival exclusivamente dedicado a este catálogo.
Duas noites dedicadas ao fervor criativo da improvisação com uma sequência de espectáculos de diversas formações. Participarão neste evento nomes ligados à improvisação como Sei Miguel, Rodrigo Pinheiro, Bande à Part, Yaw Tembe e até mesmo o responsável da editora, Ernesto Rodrigues. (ZDB)

Ernesto Rodrigues + Nuno Torres
A Lisbon duo, viola and alto saxophone. The musical focus on exploration of sounds and textures. A non conventional instrumental language, playing with notions of timbre, plasticity and color. An aesthetic free form of improvisation within minimal approach. Nearing silence and privileging a close relationship with the acoustic space. An overall music experience of intimacy and detail. (Stark Bewölkt)

[…] Ernesto Rodrigues, tem vindo, especialmente nas últimas duas décadas, a realizar uma obra ímpar no campo da edição de música improvisada (criou a sua própria editora), bem como a realização de concertos e gravações de música improvisada, em especial, na estética do Near Silence, com quem tocou e gravou com o fundador desta nova tipologia musical: Radu Malaffati.
[…] Se para uma determinada geração de improvisadores, os nomes de Carlos Zíngaro e de Jorge Lima Barreto, foram referências importantes para a sua actividade como improvisadores, recentemente esse papel de “Guru”, é preenchido por dois músicos na cena musical improvisada: Ernesto Rodrigues (que tem uma série de discípulos, a maior parte deles, não-musicos) e Sei Miguel (seguido por fiéis servos, também grande parte deles constituídos por não-músicos).
[…] Se Ernesto Rodrigues tem uma técnica instrumental que vai da clássica às mais avançadas técnicas instrumentais, já Sei Miguel, tem uma técnica própria de um auto-didacta e que como tal, se pôde dar ao “luxo” de aperfeiçoar o timbre em favor da técnica virtuosa. [...] Vítor Rua (Algarve Hoje)

O segundo dia do Sonic Scope arrancou com um quarteto do patrão da editora Creative Sources, Ernesto Rodrigues (foto no topo), com Nuno Torres, Guilherme Rodrigues e Carlos Santos. Em modo reducionista, como estes músicos nos têm habituado, segundo o mote dado pelas várias culturas em que é sinal de sabedoria falar pouco ou em baixo volume. Qualquer guinchar de cadeiras ou chão, qualquer passo de alguém que estava no concerto errado a sair da sala se tornava música a acrescentar a este ensemble que vive tanto da sua precisão cirúrgica como das forças do acaso, criando melodias esquisitas nas entrelinhas (micro-pressão dos arcos, micro-oscilações do sopro, um ligeiro tremer de mão…). A electricidade de Santos foi o sistema sanguíneo a bombear a orquestra de quase mudos, enquanto as cordas evidenciaram bem a madeira de que são compostas e Nuno Torres voltou a demonstrar que o segredo para o melhor som do mundo se encontra na saliva. Bernardo Álvares (Jazz.pt)

Although I described Sediment as "capping" 2014, and indeed it's the latest release I've added to my favorites for last year, there's still at least one more 2014 album to discuss in this space: Primary Envelopment by Wade Matthews & label curator Ernesto Rodrigues on Creative Sources, with Javier Pedreira & Nuno Torres. I didn't hear Primary Envelopment until recently, because I was waiting for the Creative Sources releases to come to USA, but that hasn't happened since the first half of last year — I don't know why. In any case, while having USA distribution is more convenient, between the vagaries of international shipping, and places like Squidco including things like recording dates & sound samples online, the recordings are & have been available straight from the label in Portugal, which is where I turned. I'm dwelling on this aspect a bit, because I'm concerned about people being able to hear the many interesting releases that Ernesto Rodrigues produces. Creative Sources has over 300 titles now (and I'll have to make another order for some of the latest), including many unique offerings. Indeed, I keep learning that a musician whom I "discover" only recently via other channels had a release on Creative Sources years ago. So that's impressive, and Rodrigues obviously has a great ear: The label has a reputation for a lot of similar releases, and Rodrigues's own blog does mention "refinement & restraint" and a focus on texture, but these qualities can make for vastly different results. The label also has quality design & packaging, even if their online information seems a little sparse (like the music?) at times. Todd McComb (medieval.org)

Ouvir os últimos registos do improvisador português que mais discos tem editados é observar a presente evolução da tendência de que é o principal representante neste país: o reducionismo. Em análise 14 títulos que revelam as novas características desta corrente e o papel que nelas está a ter o violetista de Lisboa.
Ernesto Rodrigues é o músico improvisador português que tem mais discos editados. A circunstância de ser o responsável de uma etiqueta, a Creative Sources, não é estranha a esse facto, como se torna evidente, mas a verdade é que a sua capacidade de produção parece inesgotável. E sendo ele o protagonista de uma das frentes da corrente reducionista, colocando Lisboa a par de Londres, Paris, Berlim, Tóquio e Beirute, as mais importantes, a quantidade e as características dos títulos que vai publicando permitem que fiquemos com uma perspectiva da própria evolução da tendência estética que, na improvisação, trocou o fraseado pelas texturas e as progressões harmónicas ou os modalismos por um foco no timbre sem tom definido.
Os registos aqui analisados são os seus mais recentes e demonstram bem que o igualmente chamado “near silence” está a sofrer transformações que não há muito julgaríamos improváveis. Uma, e talvez a que tem mais impacto, é a colocação de uma perspectiva de espaço em primeiro plano. Espaço preenchível em termos sonoros e projecção desses sons, espacialização, no local das performances, com a arquitectura, o meio, a definir o que se toca. Outra mudança detectável na música de Rodrigues em diversas formações é a repetição de elementos sónicos e, inclusive, sua articulação até formar uma sentença, algo que se considerava um tabu.
Reposto está igualmente o factor de dramatização com que se tinha cortado para contrariar os excessos expressionistas da “old school”: estão aí novamente as lógicas ascensionais, de clímax e de criação de atmosferas e estados de espírito. O que implica que voltou, também, o sentido de narrativa, por menos linear que esta seja. O reducionismo de Ernesto Rodrigues e dos seus parceiros aumentou de tamanho: é mais activo, mais atarefado. Mesmo que o volume se mantenha baixo, há muitas coisas a acontecer. Mas os próprios decibéis subiram – por vezes, estes desenvolvimentos da escola reducionista parecem encontrar-se com a noise music.
É hoje maior a distância destes álbuns relativamente aos fundamentos originais da “nova música improvisada”, aqueles provenientes do indeterminismo de John Cage e, sobretudo, Christian Wolff, do colectivo de compositores Wandelweiser, do onkyo japonês e da tendência lowercase da música por computador. Neles há um mais solto trabalho de dinâmicas e até é possível encontrar, entre as gerais abstracções, assumidos e convencionais tonalismos.

Não é Ernesto Rodrigues e o reducionismo que se estão a moderar ou a ceder aos usos instalados. Esta continua a ser uma das poucas áreas que mais inovações técnicas e de vocabulário têm trazido à música. Simplesmente, a prática reducionista libertou-se – sinal de maturidade – do peso que alguma inclinação dogmática nela estava a ter. Havia demasiadas proibições para que este tipo de improvisação fosse realmente espontâneo. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

O outro lado da Creative Sources

A editora de Ernesto Rodrigues não publica apenas as novidades do reducionismo e da improvisação electroacústica. O seu catálogo inclui também alguns títulos com instrumentações mais convencionais e um mais claro alinhamento com o jazz. Analisamos aqui sete exemplos recente.

A Creative Sources é habitualmente identificada com a corrente reducionista da improvisação, e quando assim não acontece o que se sublinha é o seu alinhamento com as actuais tendências da música electroacústica tocada em tempo real. E no entanto… o selo lisboeta dirigido pelo violetista Ernesto Rodrigues lança, igualmente, alguns registos do autodesignado jazz criativo ou próximos da tradição do free jazz. Aqui em análise estão sete exemplos (mais do que se poderia esperar, na verdade) desse investimento lateral, publicados no último ano.
Se não fossem alguns dos nomes mais conhecidos (John Edwards, Mark Sanders, Jacques Di Donato, Floros Floridis, Alexander Frangenheim, Roger Turner…), a consulta dos instrumentários nas fichas técnicas bastaria para perceber que estes discos não condizem com a orientação habitual da editora. As combinações de timbres são bem mais convencionais, com a clássica secção rítmica com bateria, contrabaixo e, às vezes, piano atrás de um ou mais sopros e de outros instrumentos melódicos e solistas. Ainda que as músicas tocadas fujam aos padrões e pouco fique das jazzísticas hierarquizações de naipes.

Como não podia deixar de ser, esta outra, e menos comentada, vertente da Creative Sources surge com vários matizes. Pode ir desde a mais explícita incursão na estética do grito inaugurada por Albert Ayler, aquilo a que os improvisadores mais experimentais chamam – mal ou bem – ”old school”, até uma música exploratória com vagas ligações reminiscentes com a gramática e o património do jazz. Entre um “estado” e o outro passando por diversos níveis de relacionação com essa matriz, entre distanciamentos e aproximações. Vejamos como, caso a caso… Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

Violinist/violist, composer, and improviser Ernesto Rodrigues lives in Lisbon but also has a house on Pico and runs the Creative Sources label, which appears to be a great entry point into current Portuguese improvised music. I first encountered him in a video by artist Emanuel Albergaria, improvising with Gianna de Toni, an Italian guitarist and bassist living in Ponta Delgada, São Miguel, where she teaches guitar in the conservatory. She's involved in various musical activities, playing classical guitar, in symphonies and jazz groups, and in a contemporary folk group with Rafael Carvalho (she's also featured in the version of Roxanne mentioned above). Rodrigues and de Toni can be heard together on the CD Trees, an album of beautiful free improvisations with cellist Guilherme Rodrigues, soprano saxophonist Christophe Berthet, and electric bassist Raphael Ortis. Here is a live recording of Rodrigues in a quartet with Guilherme Rodrigues, Jassem Hindi, and Tisha Mukarji. Steve Peters (Deep Songs)

Dura toda uma semana, de 24 a 29 de Novembro. É a mais longa edição do festival da Creative Sources, o outro caso de sucesso, a par da Clean Feed, da edição discográfica portuguesa na área da improvisação, com alguma electroacústica e algum jazz à mistura entre mais de 300 títulos publicados. Serão quatro os locais ocupados pelo Creative Fest, a Ler Devagar (Lx Factory), o Desterro, o O’Culto da Ajuda, a ZDB (o único espaço em que o evento se realizará em dois dias consecutivos) e a St. George’s Church, sempre em Lisboa.
Serão três os concertos da Ler Devagar, a 24. Primeiro um quarteto reunindo dois clarinetistas Paulo Galão e Paulo Gaspar, e dois contrabaixistas, João Madeira e Alvaro Rosso, depois o trio de José Bruno Parrinha (clarinetes e saxofones), Ricardo Jacinto (violoncelo) e Luís Lopes (guitarra eléctrica) e finalmente o ensemble Suspensão, com Ernesto Rodrigues (viola), Guilherme Rodrigues (violoncelo), Nuno Torres (saxofone alto), Eduardo Chagas (trombone), António Chaparreiro (guitarra eléctrica), Carlos Santos (electrónica), Miguel Mira (contrabaixo, em vez do seu habitual violoncelo) e Nuno Morão (percussão).
A 25, no O'Culto da Ajuda, será a vez do IKB, colectivo inspirado no tipo de azul ultramarino sintético inventado pelo artista plástico Yves Klein e que conta com uma formação variável reunida a partir da nata da música improvisada, do jazz, da electrónica e das novas tendências praticadas na Grande Lisboa. No dia 26 passa-se para o Desterro, onde haverá uma dupla de duetos, com Paulo Alexandre Jorge (saxofones) e Manuel Guimarães (baixo eléctrico, a sua nova descoberta) e, após intervalo, Luís Vicente (trompete) e Joaquim de Brito (berimbau).
Na ZDB, a 27, serão cinco as prestações. A dois solos de Simon Vincent (electrónica) e Maria da Rocha (violino) seguem-se o projecto Sirius de Yaw Tembe (trompete, electrónica) e Monsieur Trinité (percussão, objectos), o trio de António Chaparreiro, Bernardo Álvares (contrabaixo) e Nuno Morão e os Lost Socks de Marco von Orelly (trompete) e Sheldon Sutter (bateria), ou seja, a metade suíça dos Big Bold Back Bone.
O dia seguinte, ainda na ZDB, abre com o triângulo de Maria do Mar, Luís Rocha (clarinetes) e Adriano Orrú (contrabaixo), este ano estreado no MIA, e o ADDAC Quarters de André Gonçalves, Filipe Felizardo, Nuno Moita e Ricardo Guerreiro, sendo de prever que este estará centrado na utilização dos sintetizadores modulares ADDAC, de Gonçalves. Seguem-se o saxofonista Albert Cirera com Abdul Moimême (guitarra eléctrica preparada) e Alvaro Rosso, o Angel Trio de Stephan Sieben (guitarra eléctrica), Adam Pultz (contrabaixo) e Hakon Berre (bateria) com Paulo Chagas (oboé, flauta, clarinetes, saxofones) como convidado e um quinteto com Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Nuno Torres, Eduardo Chagas e Carlos Santos.
O fecho faz-se no fim da tarde de 29 de Novembro, na St. George’s Church, com a Variable Geometry Orchestra, juntando a maior parte dos anteriores participantes do festival no prosseguimento do trabalho apresentado no recentíssimo “Lulu Auf Dem Berg”. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

A 9ª edição do Creative Fest, o festival que reúne a família da editora Creative Sources, realiza-se este ano entre os dias 24 e 29 de Novembro. Durante seis dias serão apresentados concertos de música improvisada em cinco espaços lisboetas diferentes. O festival arranca no dia 24 na Ler Devagar, na Lx Factory, que acolhe três concertos: quarteto de Paulo Galão, Paulo Gaspar, João Madeira e Alvaro Rosso; trio de José Bruno Parrinha, Ricardo Jacinto e Luís Lopes; e o ensemble "Suspensão", com Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Nuno Torres, Eduardo Chagas, António Chaparreiro, Carlos Santos, Miguel Mira e Nuno Morão. No dia 25 o O'Culto da Ajuda recebe a actuação do colectivo IKB, grupo de grande dimensão e formação variável. No dia 26 o Desterro vai acolher duas actuações: duo de Paulo Alexandre Jorge e Manuel Guimarães; e duo de Luís Vicente e Joaquim de Brito.

A Galeria ZDB vai acolher concertos em dois dias, nos dias 27 e 28. No dia 27, sexta-feira, há cinco concertos: solo de Simon Vincent; solo de Maria da Rocha; duo "Sirius" de Yaw Tembe e Monsieur Trinité; trio de António Chaparreiro, Bernardo Álvares e Nuno Morão; e "Lost Socks" de Marco Von Orelli e Sheldon Sutter. No sábado, 28, a ZDB recebe mais cinco concertos: trio de Maria do Mar, Luís Rocha e Adriano Orrú; e ADDAC Quarters, de André Gonçalves, Filipe Felizardo, Nuno Moita e Ricardo Guerreiro; trio de Albert Cirera, Abdul Moimême e Alvaro Rosso; "Angel Trio" de Stephan Sieben, Adam Pultz e Hakon Berre com o convidado Paulo Chagas; e quinteto de Ernesto Rodrigues, Guilherme Rodrigues, Nuno Torres, Eduardo Chagas e Carlos Santos.

O festival encerra no domingo, dia 29, às 17h00 na Igreja de St. George, com a actuação da Variable Geometry Orchestra, ensemble de grande dimensão que vai reunir no mesmo palco a maior parte dos anteriores participantes no festival. Nuno Catarino (Bodyspace)

Contando este ano com 14 anos de actividade ininterrupta, num catálogo imponente com mais de 300 edições, a editora de Ernesto Rodrigues tem vindo a sedimentar uma visão profundamente idiossincrática por entre os meandros da música improvisada, com um vigor e propriedade únicos. Embora habitualmente conotada com as estratégias da improvisação lower case e do reducionismo, que têm no seu mentor um dos nomes mais fulcrais, não se esgota nesses pressupostos, abrindo espaço para edições tangentes a alguma electrónica mais abstracta, ao jazz, à música contemporânea e electro-acústica e demais formas incatalogáveis com um sentido de direcção inatacável que se celebra em vários pontos da cidade e que tem na ZDB ponto de paragem natural e obrigatório nos dias 27 e 28. (ZDB)

Creative Sources est devenu un label qui compte au fil des ans avec un catalogue énorme (plus de 330 références). S’il fonctionne sur le mode de l’auto-production des artistes impliqués, Ernesto Rodrigues veille à ce que la musique produite révèle de nouveaux talents, des produits soignés, une recherche expérimentale assumée et intéressante ou de l’improvisation libre pointue de haute qualité, exigeante. De plus en plus souvent, on y découvre de vraies perles dans le domaine de l’improvisation libre, au-delà du parti pris de la démarche réductionniste radicale, new silence, soft noise, EAI (etc) sans concession qui fut la marque de fabrique de CS à leurs débuts et dont Ernesto est un remarquable praticien. Un vrai plaisir de l’écoute partagé. En outre, le graphisme des pochettes cartonnées (depuis peu!) est superbe grâce au travail du fidèle Carlos Santos. Le noyau de Rodrigues père et fils (Guilherme) ont produit des dizaines d’albums intéressants dans une belle démarche radicale en compagnie d’improvisateurs issus d’horizons divers. Certains albums sont réellement de vraies réussites comme l’orchestre IKB. Et donc, comme plusieurs labels historiques passent tout doucement la main (Incus, Emanem, Psi, FMP, NurNichtNur), d'autres cessent leur activité ou s’alignent sur un jazz libre de bon aloi (Intakt), notre label portugais est devenu une référence incontournable. Jean-Michel van Schouwburg (Orynx)

Parmi les musiciens nouveaux venus dans la scène improvisée radicale internationale au début des années 2000 et qui apportèrent une nouvelle dimension au développement de la musique improvisée, il est impensable d’omettre l’altiste portugais Ernesto Rodrigues. J’imagine que le critique lambda pensera « Ah oui, il a un label et il joue aussi ». Mais il se fait que son catalogue a atteint 340 références en offrant des produits soignés avec des prises de son impeccables tout en publiant exclusivement les musiques les plus pointues. Point de ralliement d’une nouvelle génération « réductionniste » (Denzler, Guionnet, Mariage, Sehnaoui frère et sœur, Mazen Kerbaj, Birgit Ulher, Heddy Boubeker, Rhodri Davies, Masafumi Ezaki, Rodrigues père et fils, Jason Kahn, Axel Dörner, Wade Matthews, Stéphane Rives, Bertrand Gauguet, David Chiesa, Boris Baltschun, Kai Fagaschinski, Carlos Santos et nombre d’artistes sonores expérimentaux), le catalogue CS s’est étoffé petit à petit avec des artistes tels que Richard Barrett, Stefan Keune, Jacques Demierre, Ute Wassermann, Alexander Frangenheim, Jacques Foschia, Isabelle Duthoit, Ariel Shibolet.. Sans pour autant rechercher les pointures, c’est un peu par hasard qu’on y trouve Jon Rose, Roger Turner, Gunther Christmann ou Urs Leimgruber et quelques chefs d’œuvre comme ceux que je viens de chroniquer cette semaine. Non content de travailler comme un fou pour son label, Ernesto Rodrigues a rencontré une multitude d’improvisateurs de quasiment tous les pays d’Europe, suscitant de superbes rencontres. Très austère au départ, sa pratique de l’instrument me l’avait fait qualifier (en souriant) de travail d’ébéniste, tant son chantournage maniaque faisait crisser et grincer l’archet comme si c’était un couteau à bois dans mobilier squelette, univers où la pulsation même la plus décalée et la moindre trace de mélodie était inexorablement évacuée. On aurait cru que les bois de son violon alto et du violoncelle de Guilherme gémissait et criait sous une torture sadique. Cet univers à la fois cartésien et intériorisé a culminé dans London, un enregistrement de concert assez court avec son fils Guilherme au violoncelle, Alessandro Bosetti au sax soprano, Angarhad Davies au violon, et Masafumi Ezaki à la trompette, ou Drain, un intrigant trio de cordes avec Guilherme Rodrigues, à nouveau, et le violoniste Mathieu Werchowski. Jean-Michel van Schouwburg (Orynx)

Antes de mais, saúde-se o magnífico trabalho da editora que acaba de publicar este disco. Registado na lombada como “CS299”, este lançamento representa a 299ª edição da label Creative Sources, fundada e sedimentada por Ernesto Rodrigues ao longo da última década e meia. Três centenas de gravações de música improvisada, juntando muitos músicos portugueses e alguns grandes nomes da cena internacional, merecem justamente a celebração. E merece um aplauso especial por se tratar de uma música muito específica, sem apelo comercial. Ao longo de todos estes anos a Creative Sources tem apresentado um trabalho sério de edição regular, com qualidade e coerência estética. Trata-se de improvisação pura, com ênfase na vertente reducionista, mas não só: o catálogo vai da improvisação mais abstracta até às fronteiras do jazz. Nuno Catarino (BodySpace)

Ernesto Rodrigues’ haunting freeform orchestra returns with a massive, reverberating slab of sound. A great example of how a deft conductor can overcome the problems of large-scale improvisation. Dan Sorrels (The Free Jazz Collective)

A décima edição do festival da editora Creative Sources serviu, mais uma vez, para perceber por onde vão os caminhos da música improvisada e de como nesta área não existem cartilhas. Aqui ficam algumas palavras sobre o que a jazz.pt ouviu…
Com solos, duos, trios e um “ensemble” reunindo uma boa quantidade dos músicos improvisadores em actividade na região da Grande Lisboa, o Creative Fest realizou entre 17 e 19 de Novembro passado a sua décima edição. Nesta concentrou todos os concertos num único espaço, o que a Miso Music recentemente abriu em Belém (O’Culto da Ajuda) e que, além de uma programação especializada na área da electroacústica “erudita”, vem igualmente abarcando alguma música composta no próprio instante da execução. Esta cumplicidade foi, de resto, assinalada por Miguel Azguime, responsável do O’Culto e nome maior da música contemporânea em Portugal. Referiu este numa breve introdução as suas já antigas ligações com Ernesto Rodrigues, o patrão da editora Creative Sources, e o comum esforço por lutar contra a asfixia das práticas musicais que não são abarcadas pelas leis do mercado e nem por isso encontram lugar nas políticas culturais dos sucessivos governos.
Em todos os momentos foi clara a conexão de mais este Creative Fest com a actividade da Creative Sources. Exemplos claros foram os concertos da dupla Luís Lopes / Fred Lonberg-Holm, que nesta etiqueta tem disco acabado de sair, “The Pineapple Circumstance”, de Manuel Guimarães para apresentação de um muito aguardado solo de piano, “Flow Me”, ou de Guilhermo Torres, Tomás Gris e David Area, membros do grupo que toca no recente “Aleph”. No alinhamento do Creative Fest deste ano estava também uma actuação da Variable Geometry Orchestra, para gravação de mais um CD a editar pela Creative, e se as restantes performances não correspondiam a discos em circulação ou planeados, eram protagonizadas por gente “da casa”, casos de Carlos Santos, em dueto com Emídio Buchinho, ou de José Oliveira, num regresso aos palcos com parâmetros inesperados – um solo vocal –, ele que habitualmente surgia como percussionista.
Mas o Creative Fest não serve apenas para fazer o ponto da situação anual da Creative Sources. Nele mais uma vez foi possível ouvir projectos não-alinhados que há pouco tempo tiveram o seu arranque, como a parceria entre Maria Radich e Maria do Mar e o trio de Yedo Gibson, Jorge Nuno e Monsieur Trinité, além de encontros inéditos de músicos nacionais com estrangeiros, como a associação de Ernesto Rodrigues e Miguel Mira a Fred Lonberg-Holm, e de estreias absolutas de novas formações, como aquela – fora de série, pelo que se ouviu – que junta Rodrigo Pinheiro e Nuno Torres.

A plateia do O’Culto da Ajuda estava numerosamente preenchida por músicos de várias tendências (por exemplo, Marco Barroso, Gil Dionísio e Nuno Moita, figuras que não identificamos com o universo Creative Sources), o que é um sinal curioso do apreço da comunidade pelo trabalho desenvolvido por este grupo de pessoas. A Creative Sources pode não ter a relevância mediática da Clean Feed, apesar do nascimento de ambas mais ou menos pela mesma altura e de, como aquela, ter um catálogo que ronda os 400 títulos (sim, 400!), mas a importância que vai tendo para a cena internacional da improvisação livre é muito semelhante à que relativamente ao jazz tem a editora liderada por Pedro Costa. Algo a que não se está a dar a devida importância, num país tradicionalmente indiferente à criatividade dos seus artistas e aos feitos dos seus promotores culturais. A jazz.pt assistiu às prestações das duas Marias, do duo de Pinheiro e Torres e do de Lopes com Lonberg-Holm… [...] De resto, a esse nível, a mensagem que passou foi a de que improvisar, por estes dias, não tem uma cartilha. O Creative Fest é um medidor de tendências a que devíamos dar toda a atenção, e esta edição esclareceu mais alguns pontos evolutivos. Venha a próxima. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

New from Creative Sources Records, {the} nature {of things} likes to hide [CS393]. A layered composition by Ernesto Rodrigues (viola) and Guilherme Rodrigues (cello), responding to two foundation tracks by me on prepared bass and granular synthesizer, respectively. As always, Ernesto and Guilherme play sensitively and appositely. (What is it that hides its nature? The double bass, first through preparations and extended technique, and then through granulation.) Daniel Barbiero (danielbarbiero.wordpress)

Ernesto Rodrigues has a formidable discography. After launching Creative Sources in 2001 to begin documenting his own music, the label has grown to become an icon of free music—especially music preoccupied with silence and space, texture and timbre. As the label has expanded to encompass more artists, Rodrigues has continued to release his own projects and collaborations with musicians from across the globe. Now, more than 15 years later and with over 100 releases to his name, it can be intimidating to approach Rodrigues’ oeuvre. But it would be a shame to avoid it for fear of not knowing where to start.

Though all born of the same musical sensibility, Rodrigues’ discography could be grouped according to the varied approaches he takes to free improvisation. There are his large group experiments like Variable Geometry Orchestra, IKB, or Suspensão; his lowercase pursuits with musicians like Martin Küchen, Heddy Boubaker and Radu Malfatti; and livelier, more ‘traditional’ interplay on early discs like Multiples or recent releases with musicians like Roland Ramanan, Biliana Voutchkova, and Phillip Greenlief. There are also long-form engagements: with electroacoustic music and the use of computers and electronics in improvisation; with other strings, pushing ceaselessly against conservatory conceptions of string instruments and their place in music; and ongoing dialogues with close musical comrades like Carlos Santos, José Oliveira, Nuno Torres, and his son, Guilherme Rodrigues, who has appeared on many of his albums, dating back to the first Creative Sources release.

Regardless of the specific approach, there’s an aesthetic that underlies all of Rodrigues’ music, one that values the space that surrounds him as much as the music he then puts into it. It also values the spaces between sounds and gestures, constantly weighing the balance between what exists in the moment before a musical act and what that act might add. David Toop writes in Into the Maelstrom that “music is a respiratory motion – created in the moment of action then fading away – and through that common bond of presence and absence all sounds are connected.” Thinking of music in terms of breathing—especially improvised music like Rodrigues’—has a certain appeal: something about sound as an exhalation; about silence as the corresponding inhalation, a necessary rest between sounds pushed out into being (and from which all is drawn in that gives those sounds meaning); about organic and corporeal rhythm, tied not to strict tempo but to the thrumming energy that marks the very state of being alive. Dan Sorrells (The Free Jazz Collective)

[…] A “triple bill” arrancou no Armazém 22 com o Lisbon String Trio de Ernesto Rodrigues, Miguel Mira e Alvaro Rosso, contrabaixista do Uruguai residente na capital portuguesa. Com estes intervenientes, gerou-se a expectativa de que o grupo de cordas trabalhasse na área de fronteira ente as duas grandes correntes da música de câmara improvisada, aquela que segue as premissas texturais e tímbricas do reducionismo, de que Rodrigues é entre nós o principal cultor, e a que é fiel às lógicas narrativas e de fraseado da livre-improvisação original (Mira é também membro do Staub Quartet, com Carlos “Zíngaro”, Hernâni Faustino e Marcelo dos Reis). Assim sucedeu, e com um espírito colectivista que foi fundamental para os desenlaces: um dos executantes atirava com um som, outro acrescentava-lhe um mais e com o terceiro completava-se um acorde. Foi quase sempre este o procedimento construtivo utilizado, em plena interacção e sem solos convencionais, indo do muito simples, cru e despido até complexas filigranas, estabelecendo um («raro», como dizia Paulo Alexandre Jorge na apresentação) mundo pós-clássico e pós-jazz. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)