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Fenómeno
único em Portugal (e raro no mundo), a Variable Geometry Orchestra
é uma banda de formação mutável que reúne
alguns dos mais criativos músicos da actualidade e lhes dá
uma alargada margem de liberdade para criar música, apenas orientada
pela noção de colectivo, sem regras pré-definidas.
Dirigida pelo activo violinista Ernesto Rodrigues, esta orquestra tem
actuado com muita regularidade nos últimos anos, em Lisboa e noutros
pontos do país, num trabalho de aperfeiçoamento da sua fórmula
particular.
No disco triplo agora editado, a centésima edição
da excelente Creative Sources, estão registadas as mais recentes
actuações da VGO, demonstrando que a evolução
temporal da orquestra se reflecte na música produzida. Se as primeiras
experiências mostravam um caos quase incontrolável, Ernesto
Rodrigues conseguiu ao longo do tempo impor contenção e
organização, através da simples indicação
de pequenos sinais (um processo de condução de orquestra
similar às estratégias de Butch Morris ou John Zorn), sem
que isso tenha posto em causa o carácter libertário da música.
Herdeira contemporânea do mais radical free jazz, a música
gerada pela VGO ultrapassa os limites de catalogação, podendo
apenas ser caracterizada pelo uso do mais amplo sentido da palavra “improvisação”.
Num registo desordenado mas simultaneamente democrático, a personalidade
musical dos inúmeros instrumentistas (portugueses ou estrangeiros)
que colaboram nesta orquestra, de forma regular ou esporádica,
acaba naturalmente por quase sempre transparecer para a música
criada em colectivo, ainda que por vezes algumas vozes fiquem inevitavelmente
na penumbra.
Reunindo figuras de diferentes quadrantes da música contemporânea
portuguesa - como Sei Miguel (pocket trumpet), Alípio C Neto (saxofone),
Rafael Toral (modified amp), Eduardo Lála (trombone), Adriana Sá
(digital synth), Johannes Krieger (trompete) ou mesmo o próprio
líder Ernesto (viola e violino) – este registo é o
documento definitivo da efervescência da música improvisada
em território nacional neste início de século. Épico
também na forma (triplo), este álbum representa alguma da
mais criativa música produzida por alguns dos seus melhores executantes.
Nuno Catarino (Bodyspace)
“A música produzida
pela Variable Geometry Orchestra (VGO) resulta de camadas de som de origem
acústica e electrónica numa procura constante do detalhe
e do significado”, diz Ernesto Rodrigues, director desta orquestra,
no texto que acompanha “Stills”, o ambicioso disco de estreia
(nada mais do que três CD).
Fundada em 2000, a VGO tem tocado em vários locais, sobretudo em
Lisboa, de onde a maioria dos músicos provém - das cinco
peças ao vivo contidas em “Stills” (todas com formações
diferentes) só uma não foi gravada em Lisboa, mas antes
no festival Outfest, no Barreiro, em Junho deste ano. Entre os 46 músicos
presentes nesta megalómana empresa, estão nomes de primeira
linha da música experimental nacional, como o próprio Ernesto
(que também toca violino e viola), Sei Miguel, Fala Mariam, Nuno
Rebelo, Rafael Toral e José Oliveira.
Como refere Ernesto, é de múltiplas camadas que vive esta
música. Atente-se nos 55 minutos da brilhante “The morning
walk after the ‘O’ of the clock”, gravada no Outfest:
sopros jazz em ebulição, fios de electrónica, ora
escondidos, ora mais fortes, percussão livre. Um todo que surpreende
pela disciplina e contenção alcançada por 31 músicos.
Em “Suddenly the dream became a promise of white”, registada
na Galeria Zé dos Bois, em Fevereiro último, alinham-se
didgeridoo, guitarra, acordeão, sopros e outros instrumentos num
paciente crescendo durante os primeiros minutos até explodirem
em muitas e imprevisíveis direcções, com as cordas
e a percussão em luta permanente.
Nesta música improvisada, não há partituras, naturalmente,
só intuição e concentração extrema
na colocação dos sons e gestão do quase silêncio.
A Ernesto cabe o papel de conduzir os músicos, instando-os a tocar
com mais ou menos vigor, sozinhos ou em grupos, ou a permanecerem em silêncio.
Esta liberdade quase total leva inevitavelmente a situações
de algum caos. Mas na VGO a confusão quase nunca é um defeito,
antes sinal de um feliz desbragamento e de uma pluralidade de sons em
celebração de si próprios. Pedro
Rios (Jornal Público)
Reunindo
instrumentistas com actividade nas áreas do jazz, da improvisação
livre e do experimentalismo sónico cujos graus de envolvimento
com a música são bastante diferentes, sendo amadores alguns
dos participantes, a Variable Geometry Orchestra é o sucedâneo
português de projectos de "conduction" como os de Butch
Morris e John Zorn (em particular a série "Cobra"), com
a diferença de que Ernesto Rodrigues, o responsável desta
"big band", não utiliza uma sinalética de direcção
tão codificada quanto as daqueles nomes, e isso – presumimos
nós – para ser mais facilmente entendida por músicos
improvisadores com níveis diversos de treino e tendo em conta,
inclusive, o facto de o formato muito variável do "ensemble"
implicar que alguns dos intervenientes estejam apenas de passagem. Em
consequência, a música da VGO é menos estruturada
do que as de Morris e Zorn, ainda que a presença de um "maestro"
se faça sentir muito claramente.
As coordenadas base da VGO colocam em equação dois domínios
da produção musical que regra geral andam apartados, apesar
do comum interesse pela espontaneidade criativa: de um lado o free jazz
e do outro a electrónica abstracta. Os maciços naipes de
sopros e de computadores e sintetizadores são, de resto, um indício
dos propósitos subjacentes. O resultado é assaz curioso:
uma música magmática, muito fluida e com uma organicidade
mercuriana que não encontramos de todo na electrónica que
hoje se pratica e muito raramente vai surgindo nas fileiras do neo-free
que se toca nos dois lados do Atlântico.
Neste triplo álbum com registos ao vivo situações
há que nos remetem para a música contemporânea, ou
não fosse Rodrigues um admirador do trabalho de Emmanuel Nunes
e de compositores como Xenakis, Lachenmann e Radulescu. Mas quando as
improvisações orientadas da VGO parecem assentar nesse contexto,
delicioso se torna ouvir um súbito solo de trombone ou de saxofone
de teor indubitavelmente jazzístico. Em altíssimo contraste
com o que faz Ernesto Rodrigues com pequenos grupos no âmbito da
corrente reducionista, esta edição é de uma intensidade
e de uma densidade extremas, sendo aconselhável a fruição
a espaços, sob o risco de "overdose". Rui
Eduardo Paes (Jazz.pt)
Próximas
las elecciones generales, ando dando vueltas a la idea de la formación
de un partido. su objetivo sería al adhesión de portugal.
esto nada tiene que ver con ninguna trasnochada idea de expansionismo
españolista. es solo sana envidia. mientras en este trozo grande
de iberia la orquesta iba/iba olestars hace ya tiempo dejó de funcionar
y la foco de música libre solo da señales de vida anecdotica
cada festival hurta cordel, en el rinconcito luso la vgo despliega una
actividad envidiable. la referencia 100 del hiperactivo sello portugués
creative sources propone todo un atracón de vgo. un triple recogiendo
cinco (largas) grabaciones en directo. grabaciones realizadas en el periodo
junio 2006/junio 2007. lo que da una idea de la actividad concertística
que despliegan. a modo de conducciones son temas de improvisación
libre en grupo amplio. grupo que como indica su nombre no es estable del
todo pero que cuenta entre otros con los rodrigues en las cuerdas, la
corneta de bolsillo de sei miguel, el saxo y la batería de peter
bastiaan (hace unas décadas miembro de los madrileños orgón),
la manipulación de nuno rebelo, el tenor y la guitarra de abdul
moimeme (imprescindible visitar su blog http://freemusic.podomatic.com/
con información y descargas tanto de la vgo como de grupos pequeños
de sus integrantes), la manipulación de rafael toral... o el trombón
del entusiasta eduardo chagas (http://jazzearredores.blogspot.com/). tan
cerca y tan lejos. ¡que envidia!.
Jesús Moreno (O Zurret d'Artal)
O
nome do álbum da Variable Geometry Orchestra agora editado na Creative
Sources (com honras de entrar no catálogo com o redondo número
100) é curioso: "Stills" pode traduzir-se por "fotogramas"
num contexto cinematográfico e essa ideia descreve de forma perfeita
o que aqui acontece. Apesar do fôlego generoso (triplo cd) , Ernesto
Rodrigues (que aqui dirige um ensemble "variável" com
notáveis músicos de diversas escolas e gerações)
parece encarar estes documentos como "momentos" de um filme
que ainda agora começou. Free jazz rico em texturas diversas (sopros,
electrónica, cordas, percussão), que parece nascer do silêncio
para esculpir formas de inusitada beleza. Rui
Miguel Abreu (Revista OP)
Das
Doppelnull-Jubiläum feiert CS adäquat mit Stills (cs 100, 3
x CD), prall gefüllt mit sechs Liveperformances des VARIABLE GEOMETRY
ORCHESTRAs conducted by Ernesto Rodrigues. Organisiertes Chaos zwischen
Noch-nicht und Nicht-mehr, Electro & Acoustic, Indeterminacy, Diffusion
und eine nichteuklidische Geometrie bestimmen die Bewegungen von Klangmassen,
kreiert von 17- bis 33-köpfigen Klangkörpern, mit Violine/Viola
& Cello (E. & G. Rodrigues), Akkordeon (A. Pereira), Circuit bending
& Tapes (Travassos) und Kontrabass (H. Faustino) als personell konstante
Quellen für durchwegs mit Strings, Brass & Reeds, Electronics
und Percussion angereicherte Klangflüsse.
Gegen meine Vermutung kommen die nicht als magere Rinnsale daher, sondern
als üppige uferlose Ströme. Mehr Free Jazz als sonst was, aber
ganz beherrscht von Kollektivinstinkt. Selten schert eine einzelne Stimme
aus und wenn, dann weiterhin umschwärmt von Ihresgleichen, als Schleppe,
die Individualität an das übergeordnete oder grundlegend Gemeinsame
rückbindet.
Rodrigues unsichtbar lenkende Hand bei dieser lusitanischen Variante des
London Improvisers Orchestra löst Prozesse aus, denen er selbst als
Partikel unterliegt. ‚Suddenly The Dream Became A Promise Of White’
lenkt den Fluss zeitweise unterirdisch durch Karstgebiet, um dann erneut
aufzuschäumen in Dreamscapes, in denen das Ungesonderte dominiert.
Didgeridoo, Sun- Ra-Drums, Samplingfetzen, Nähmaschinenstrings, Akkordeongepumpe,
herrliche, Herz und Hirn erfrischende Kakophonie, ein Fest für die
Ohren! Rigobert Dittmann (Bad Alchemy)
This
is the Creative Sources release number 100. An historic goal reached by
such a small label, therefore worth of a serious celebration. That’s
why Ernesto Rodrigues prepared this triple CD featuring the VGO, a marauding
multi-timbral collective comprising several among the finest Portuguese
(and not only that) avant-garde artists, all able to grace our ears with
their ability of performing impromptu. Among the many, Sei Miguel, Fala
Mariam, Johannes Krieger, Nuno Rebelo, Carlos Santos, Rafael Toral, Alípio
C. Neto. Rodrigues himself describes the conducting procedures as “balancing
the sound masses that travel in the acoustic space, dictating the construction
of the real-time composition, and thus revealing the organized juxtaposition
of specific instruments as mobile sound groups”. The five lengthy
tracks were recorded live (in Lisbon and Barreiro) in different settings
- art galleries to festivals to jazz stores. Rather than swallowing an
impossible “regular” review, take a look at the notes that
this writer jotted down in reaction to the sounds heard, just to have
vague indications of what’s contained in this boiler.
First disc: a single cut of about 54 minutes, no muteness at all, many
moments of gradually growing tension without looking back, lots of instrumental
muscularity, dynamics tending to the “fortissimo” in the final
fraction of the piece, where the majority of the players literally screams.
Distant similarities: “Strings with Evan Parker”, Centipede’s
“Septober Energy”. Tendency to a magmatic chaos, sometimes
morphing into semi-structured libertarianism, but the musical flux remains
concentrated in well determined batches of timbres and interrelations.
Appreciable balance between electric and acoustic instrumental tinctures.
Second disc: additional prominence is often given to the “brass
section”, the improvisational ebb and flow making the whole sound
even less organized; calm appears every once in a while, the musicians
apparently taking a little break in the battlefield before deploying the
next attack strategies. A little bit more “experimental” in
terms of general sonority, with no promise of good behaviour from anyone.
Pluck and hit techniques are applied sparsely amidst the different families
of instruments. Lots of electronic interferences coming and going. Delirious
accordion dissonance. Not always ear-pleasing, yet perennially stimulating
materials.
Third disc: starting with a throbbing pulse, the group reaches for the
highest level of liberation, often bordering on sheer confusion. This
time, strings, brass and electronics search for a common denominator that
in other places had been difficult to imagine, finding it in a mixture
of raging exhalation and pulverizing power. No one suffers in silence,
everybody sticks to the amalgamation of happiness and excitement that
the occasion generated. This is probably the most “freewheeling”
segment of the set, and Rodrigues’ hasty “obrigado”
at the end of the record looks like an excuse to cut short something that
could have gone on for a whole night.
If all of the above wasn’t clear enough, we’re talking about
a great album. Besides the CS cognoscenti, also fans of Emanem’s
aesthetics should lend an ear or two. Conducted improvisation at a high
level of maturity, still vibrating enough to keep listeners wide awake.
Massimo Ricci (Touching Extremes)
How
many free improvisers does it take to change a light bulb? Six is about
the limit – more than that have a tendency to knock the ladder over.
How you go about organising large groups remains a pressing problem in
improvised music. After all, the cut and thrust of a musical argument
working itself out between powerful individual voices is the whole point
of the exercise: massed sonorities have a tendency to blunt that rationale,
swallowing up even the most potent voice into a faceless scrum.
The music of Portugal’s Variable Geometry Orchestra is a laudable
attempt to look these issues in the face and contains performances of
real quality. The VGO’s organiser, violinist and violist Ernesto
Rodrigues describes their music as resulting from “layers of acoustic
and electronic sound matter that constantly searches for detail and meaning”.
He goes on to say that the music embraces chaos and silence, and all points
in between: “Thus chaos is formally organised with the use of new
concepts of indeterminism, instantaneous composition, as well as through
the symmetrical eruption of alternated moments of sound and silence.”
This process is immediately audible in the opening track, “The Morning
Walk After The ‘O’ Of The Clock”, which builds isolated
notes into a continuum of sound that continually refreshes itself. Linear
clarity at the beginning is perhaps born of a determination not to wind
up with meaningless clutter – single notes pass between the instruments
like a Schoenbergian Klangfarbenmelodie until a tipping point prods the
music into murkier terrain. But even the busiest moments move together
with a collective sense of direction: the end of the first piece rises
along a monolithic ensemble glissandi, while elsewhere the ensemble splits
into subgroupings to trade its punches. Philip
Clark (The Wire)
(...)
. Jedna z nich jest trzydyskowy - pierwszy i jak dotad jedyny w katalogu
CSR - album "Stills" (CS 100) chimerycznego ansamblu Variable
Geometry Orchestra. Istniejaca od dziewieciu lat formacja wystepuje w
rozmaitych miejscach - "Stills" zbiera nagrania zarejestrowane
na zywo w latach 2006-2007 m.in. na festiwalowej scenie, w galerii i sklepie
muzycznym - nieregularnie i w zmiennym skladzie. Zmianie nie ulega stylistyka,
w obrebie której VGO sie porusza: muzyka improwizowana tworzona
pod dyktando Rodriguesa, czyli cos w stylu conductions Morrisa, czy game
Zorna. Znalezc mozna tu wszystko, za co zwykle ceni sie improwizujace
orkiestry: wielkie sklady, niecodziennie zestawione instrumenty - oczywiscie
sa tu dete, perkusyjne, smyczkowe, sporo mniej lub bardziej konwencjonalnej
elektroniki, ale równiez np. didgeridoo i akordeon, jest swobodne
operowanie klebiacymi sie chmurami nieokielznanych dzwieków, igranie
z tekstura i forma, unikanie prostych, oczywistych struktur, uzyskiwanie
szerokiego spektrum dynamiki. Muzyka to mocno konfudujaca, wiec zapewne
nie nadaje sie do zbyt czestego sluchania, ale zmierzyc sie z nia warto,
gdyz w pewien niezwykly sposób pobudza i oczyszcza. (...) Tadeusz
Kosiek (Diapazon)
Triple CD from Variable Geometry Orchestra, who create music by juxtaposing acoustic and electronic sound matter with subliminal and psycho-acoustic side effects. (Squidco) |