Opus Macaronicorum |cs299

 

 

 

 

 

 

 

 

O novíssimo “Opus Macaronicorum” marca a estreia discográfica do duo formado por dois notáveis músicos que ainda aguardam por um mais amplo e justo reconhecimento, António Chaparreiro e Pedro Alçada. O primeiro vem desenvolvendo a sua actividade nas áreas da música improvisada e do experimentalismo, tendo colaborado repetidamente com figuras como Ernesto Rodrigues e Emídio Buchinho. Alçada divide a sua atenção entre o pop-rock independente, em projectos como Coty Cream, e as mesmas linguagens do seu parceiro neste CD, ao lado de músicos como Paulo Alexandre Jorge e Carlos Ferrão, entre outros.

O que aqui vem é uma colecção de peças regra geral de curta ou mesmo curtíssima duração (13 ao todo, desafiando a superstição), associando a guitarra eléctrica de Chaparreiro e a bateria de Alçada, que também aqui acrescenta apontamentos de flauta barroca e harmónica. Ao longo do disco vão variando as preparações e os processamentos de sinal da guitarra, bem como as referências de estilo – há por aqui ecos de Robert Fripp, Fred Frith, Derek Bailey e Keith Rowe, mas não passando disso mesmo, dado o carácter muito pessoal das abordagens de António Chaparreiro. Este tem um som claramente alicerçado no rock, mas a sua propensão exploratória liberta-o de qualquer fidelidade a esse idioma. O mesmo se pode dizer de Pedro Alçada: se este não tem o mesmo tipo de jogo jazzístico de muitos bateristas da improvisação, também vai mais além do primado rítmico introduzido neste circuito por quem transitou do rock, entregando-se a um trabalho textural. Daí resulta uma música inquieta e questionante que nos mantém alerta do início ao fim, com ideias e desenlaces que muito frequentemente nos surpreendem. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

Improvisação descarnada.
Antes de mais, saúde-se o magnífico trabalho da editora que acaba de publicar este disco. Registado na lombada como “CS299”, este lançamento representa a 299ª edição da label Creative Sources, fundada e sedimentada por Ernesto Rodrigues ao longo da última década e meia. Três centenas de gravações de música improvisada, juntando muitos músicos portugueses e alguns grandes nomes da cena internacional, merecem justamente a celebração. E merece um aplauso especial por se tratar de uma música muito específica, sem apelo comercial. Ao longo de todos estes anos a Creative Sources tem apresentado um trabalho sério de edição regular, com qualidade e coerência estética. Trata-se de improvisação pura, com ênfase na vertente reducionista, mas não só: o catálogo vai da improvisação mais abstracta até às fronteiras do jazz.

Neste disco CS299 encontramos a estreia de um duo inédito: António Chaparreiro e alçada, um duo de guitarra e percussão (e outros instrumentos e objectos). Esta dupla apresentou-se ao vivo no festival denominado “Quando os lobos uivam”, que teve lugar em Junho de 2013 na Livraria Sá da Costa, assinalando o 100º aniversário do espaço. Gravado pouco tempo depois dessa actuação, este disco capta a energia registada nessa actuação ao vivo.

Chaparreiro é um guitarrista original, envolvido na cena improvisada lisboeta há mais de dez anos. Tem participado em diversas formações e gravações, com basto material documentado na editora Creative Sources. Multi-instrumentista, da guitarra à percussão, alçada (designação artística de Pedro Alçada) foi um dos programadores do ciclo “Sábaduos”, que teve lugar no bar A Vizinha, na Bica, em Lisboa - que teve um papel fundamental na dinamização da cena improv nacional, apresentando duos improváveis.

O título do disco que marca a apresentação ao mundo desta dupla cita directamente a obra do poeta italiano Teofilo Folengo (1491-1544), que trabalhou poesia “macarrónica”, uma original poesia cómica que cruzava línguas (latim, italiano e dialectos locais). Tal como na obra histórica do italiano, também esta música interlaça diferentes linguagens: o discurso expansivo da guitarra de Chaparreiro cruza-se com a percussão variada e imprevisível de alçada, num diálogo que se deseja comunicante.

Neste disco encontra-se um conjunto de peças breves, treze temas distribuídos em pouco mais de meia hora. A guitarra de Caparreiro vai do rock, ao noise (logo na segunda faixa) até se aproximar Derek Bailey (e estaremos a exagerar se dissermos que ouvirmos um eco de Frampton naquele lamaçal de efeitos?). A bateria ora tem um papel pesado, acentuando um papel rítmico, ora sussurra texturas, mais subtil. Atravessando diversos registos, esta é uma música descarnada e, sobretudo, inesperada. Nuno Catarino (BobySpace)