Ölbaumgewächse cs626

 

 

 

 

 

 

 

 

Rozbudowany w?tek iberyjski rozpoczynamy w … Pary?u (La Petite Maison, grudzie? 2016r.). Na scenie trio o nazwie w?asnej Gelber Flieder w sk?adzie: João Camões (altówka), Luise Volkmann (saksofon) i pe?ni?cy tu zapewne rol? gospodarza - Yves Arques (obiekty i elektronika). Swobodna improwizacja w jednym traku – niepe?ne 31 minut.

Koncert rozpoczyna si? … niemieck? ko?ysank? o krokodylach! Chór cierpliwych rodziców ?piewa, a w tle zaczyna rodzi? si? b?yskotliwa improwizacja. Co? bystrze rezonuje, szele?ci, skwierczy na gryfie altówki, z tuby saksofonu p?yn? preparacje, pó?drony i g??bokie oddechy, wreszcie definitywnie kompatybilna elektronika oplata niezidentyfikowane obiekty lataj?ce i brz?cz?ce p?aszczem inspiracji. Clever chamber in the crazy world of post-music! Ka?dy z artystów od pocz?tku dorzuca do strumienia d?wi?kowego same atrakcje – ?piewaj?ce zgrzyty altówki, saksofon, który potrafi brzmie? niczym preparowana tr?bka, obiekty, która dr?? subtelno?ci? z?ocistych perkusjonalii. Kolektywna, soczysta, g?sta, ale i po cz??ci ulotna narracja.

W tym do?? krótkim secie muzycy maj? dla nas sporo niespodzianek i zwrotów dramaturgicznych. Co rusz co? ciekawego - nowe brzmienia, czy tajemnicze d?wi?ki, prawdziwy kalejdoskop wy??cznie pozytywnych zaskocze?. Ju? w 10 minucie proponuj? zwinne duo, stworzone z samych akustycznych fonii, pod które pod??cza si? oniryczna elektronika, frazuj?ca niczym zatopiony gamelan. W okolicach 17 minuty nieustannie intryguj?ca praca obiektów przypomina ugniatanie werbla, a zaraz potem polerowanie powierzchni p?askich. Po 22 minucie koncertowa marszruta pnie si? na emocjonalny szczyt – altówka ta?czy jak op?tana, saksofon wyje do ksi??yca, no i ponownie moc wspania?o?ci p?ynie ze strony nieoczywistej elektroniki i obiektów, które bez trudu s? w stanie wej?? w faz? wy??cznie akustyczn?, a nawet d?t? (zimny wicher wieje z ka?dej strony!). W 26 minucie ów tajemniczy wicher zostaje na moment sam. S?yszymy gwar ulicy, pomruki z klubu, a mo?e to jedynie sample. Fina?owa faza tego wy?mienitego, zbyt krótkiego koncertu – instrumenty ?piewaj? i gwi?d?? nieopodal ciszy, a wszystkie przedmioty zgromadzone na scenie zdaj? si? budowa? strumie? onirycznej post- elektroakustyki. Fake sounds goni? si? po scenie, a potem gasn? po mistrzowsku. Andrzej Nowak (Trybuna Muzyki Spontanicznej)

 

Os desígnios da natureza são insondáveis e por vezes paradoxais. Há uma espécie de lilás cujas flores são amarelas, que em alemão se denomina “gelber flieder”. “Ölbaumgewächse” é o nome da família destas árvores, onde se encontram também as nossas oliveiras, por exemplo. Este jogo de equívocos botânico-cromáticos deu nome ao trio Gelber Flieder – formação multinacional constituída pelo violetista João Camões, o pianista e manipulador de eletrónica francês Yves Arques e a saxofonista alemã Luise Volkmann – e ao seu disco de estreia. Num poema escrito por Arques e incluído no livreto, o desafio é lançado: «Jaune / jaune tournesol / jaune pissenlit / jaune lilas /et pourquoi pas?» O músico conimbricense revela à jazz.pt mais detalhes sobre as origens do grupo: «O trio formou-se em Paris, em 2015. Foi Yves Arques, com quem eu já tocava no trio Pareidolia, que nos juntou. A música e a dinâmica do grupo foram evoluindo e instalando-se no decorrer de ensaios regulares.» Camões tem vindo a desenvolver um trabalho notável que convoca saberes de universos musicais diversos, do jazz exploratório à música erudita contemporânea, das tradições étnicas à eletroacústica. No ano passado acrescentou “Selon le Vent” (JACC Records) à sua discografia, com o já citado trio (por vezes quarteto) Pareidolia, onde também pontifica o saxofonista e clarinetista Gabriel Lemaire. Através de uma abordagem muito própria à música e ao seu instrumento (profundamente inserido na tradição musical europeia), combina técnicas convencionais com abordagens extensivas, furtando-se a inúteis catalogações. Yves Arques – atualmente irradiando a sua atividade a partir da Alemanha – tem-se movimentado nos domínios da música experimental em ambos os países. Com raízes no jazz, estudou composição clássica e direção coral, fazendo do piano preparado e de um arsenal eletroacústico as suas ferramentas de labor. Luise Volkmann é uma jovem saxofonista e compositora alemã com um pé no jazz e outro na música erudita. Já correu mundo – França, Dinamarca, Brasil – aliando a música à organização de outras atividades sociais e culturais. Em 2017, lançou o seu álbum de estreia em nome próprio com o ensemble Été Large. A zona de confluência das sonoridades orgânicas (viola, saxofone alto, objetos diversos) e de “inputs” eletrónicos é bem conhecida dos três, ainda que este seja um contexto musical particularmente abrangente e de difícil mapeamento estético. A abordagem de Arques à eletrónica é, ela própria, muito orgânica também, na decorrência natural do trabalho que vem desenvolvendo no piano em torno da manipulação da matéria sonora (bem audível, por exemplo, em “Selon le Vent”). “Ölbaumgewächse”, com selo da inescapável Creative Sources de Ernesto Rodrigues, foi gravado ao vivo em dezembro de 2016, na La Petite Maison, uma casa “ocupa” do 11.º bairro de Paris, aberta desde 2014, em autogestão, que alberga um conjunto muito eclético de projetos. «O concerto foi uma celebração de fim de ciclo. Tanto eu como o Yves estávamos a abandonar Paris, o que levou à alteração da dinâmica do grupo. Havia, portanto, que terminar um ano de ensaios, concertos e partilha com um concerto gravado», diz-nos João Camões. O registo faz-se de uma peça única com cerca de meia hora de duração, “Auf der blauen Donau”, que se inicia com os três músicos a entoarem uma cantiga infantil alemã sobre um crocodilo a nadar no Danúbio. «Decidimos usar esta canção em alguns dos nossos concertos, como ponto de partida para a música. A canção era entoada repetidamente até ser engolida por outra ideia que se instalasse», explica o violetista. (Posteriormente, esta proposta foi o rastilho para um projeto de concertos de música improvisada para bebés e crianças que o trio desenvolveu em 2018 e que mantém até hoje, paralelamente aos concertos para adultos.) E é também a única parte estipulada previamente: depois entregam-se nos braços da livre improvisação. Quando as vozes se desvanecem, e entre sons de proveniência incerta, emerge a viola de Camões a desempenhar um papel central no processo de construção sonora. Arques vai produzindo sons com objetos vários e a saxofonista ensaia proto melodias (ora de forma mais abstrata usando estalidos e outros sons, ora desenhando linhas que adquirem diferentes configurações) em interação com as cordas da viola, que densificam a atmosfera. A peça vai-se lentamente metamorfoseando, com ações e reações, estímulos e respostas, mas sempre sem pressas para mudar de rumo. Parece haver uma espécie de fio de Ariadne que os músicos seguem no desenvolvimento das suas intervenções em tempo real. Camões recorre pontualmente ao pizzicato, enquanto a saxofonista sussurra e explora diferentes técnicas, ambos aproveitando até ao âmago as possibilidades sónicas dos respetivos instrumentos. A entrada do terço final é mais intensa com viola e saxofone em vívida interação, mas tudo serena nos cinco derradeiros minutos, tendendo para o silêncio. A música dos Gelber Flieder vertida neste ótimo “Ölbaumgewächse” encerra um potencial imagético que se descortina claramente em sucessivas e recompensadoras audições. António Branco (Jazz.pt)