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O brasileiro Marco Scarassatti e a austríaca Gloria Damijan estiveram em Portugal há um par de anos para participarem no MIA – Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia, e aí conheceram, e tocaram com, os portugueses Eduardo Chagas e Abdul Moimême.. Os factores de identificação que encontraram entre si no palco levaram-nos a marcar uma posterior sessão de estúdio e o que vem registado em “Rumor” documenta esse encontro. Nada foi combinado ou falado antes de carregar no REC: apenas estava implícito que se trataria de uma improvisação colectiva, determinada unicamente pelas bagagens individuais de cada um dos intervenientes e pelos recursos envolvidos: as esculturas e os instrumentos inventados de Scarassatti, as entranhas do “toy piano” de Damijan, o trombone extensivo de Chagas e a guitarra eléctrica preparada de Moimême, todos eles manipulando ainda uma série de objectos não musicais amplificados.

A música resultante está algures entre o universo sonoro de Hugh Davies e Walter Smetak, dois dos grandes construtores de novos instrumentos do século XX, e as coordenadas das tendências texturais da livre-improvisação, com algum John Cage e AMM pelo meio. As peças incluídas têm uma assumida atmosfera paisagística (crepuscular, tal como sugerido pela bela capa), não estranha a um certo ambientalismo pós-Brian Eno, mas que é ao mesmo tempo inesperadamente imersiva. Ou seja, não servem de fundo para conversar ou ler um livro, puxando-nos continuamente para o seu caudal. Tudo o que vai acontecendo depende de duas linhas de força: por um lado a gestão de “drones” mais ou menos densos consoante as circunstâncias, e por outro uma disseminação aparentemente desordenada, à maneira do não-linearismo de um Morton Feldman, de pequeníssimos e detalhísticos elementos. O que quer dizer que a surpresa nos aguarda em cada minuto. Rui Eduardo Paes (Jazz.pt)

Rumor is a studio session by four musicians who had recently performed together for the first time during the 2014 MIA improvisation festival in Lisbon. It joins two international visitors – Brazilian Marco Scarassatti on sound sculptures and self-made instruments and Austrian Gloria Damijan on piano and the insides of a toy piano including metal tone bars – with Lisboan Eduardo Chagas, playing trombone and objects and Abdul Moimême playing prepared electric guitar, with them all using various unidentified objects.

It’s a particularly fortuitous meeting because of how closely attuned the musicians are to one another. Each is as much a sound artist as a conventional musician, often working with complex events (sounds, noises) that are not reducible to pitches, regular rhythms or linear development. As heard here, each is a gestural player, sometimes given to singular events that resonate through the ensemble. The focus on creation is so intense, that this hardly seems like a performance, more like a kind of collective brain breathing. Just as the musicians are free to assemble multiple kinds of sounds and relationships, so too is the listener free to assemble the experience, whether it’s heard as a mysterious Ur-narrative or a laminal space in which various layers interact, in ways both intentional and otherwise.

The identities of the instruments are sometimes unclear, testament to both the players’ invention and the degree to which individual personalities are surrendered to the work. There’s a great deal of percussion here, and the sounds of piano, toy piano and table-top guitar readily converge. An incidental sound can suggest insects or a power tool. Even Chagas’ trombone, perhaps the most identifiable instrumental sound here, can blur into quiet cradle utterances or an electronic drone, while his occasional reduction to the sound of breathing emphasizes the human core of work that’s gestural and expansive, with sounds seeming to expand both outwardly into an industrial garden and inwardly to an expanding sense of resonance. By the conclusion of the second improvisation, the sounds seem to quietly swarm, only to reach a peak and fade rapidly away into a few percussive incidents. Stuart Broomer (PointofDeparture)

Tomemos, por exemplo, Rumor (Creative Sources, 2015), trabalho no qual improvisa ao lado de Eduardo Chagas, Gloria Damijan e Abdul Moimême em uma sessão gravada em Lisboa, 2014. O disco é composto por duas sessões de improvisação construídas com rangidos, fricções, percussões, estalidos, articulados num cosmos sonoro que, ao mesmo tempo, permite entrever o objeto (o traço pictórico da escultura, do instrumento inventado) e aquilo que não lhe pertence mais (o som desses objetos inserido no contexto "musical"). No texto que acompanha esta edição, Miguel Copón observa que os instrumentos e esculturas criadas por Marco Scarassatti são "concebidas como antenas, onde a inexatidão é substituída pelo poder revolucionário do capricho, uma forma nua de experimentação..." Compreendo que esta "nudez" a que se refere Copón diz respeito à ambiguidade com que podemos tomar esses instrumentos e esculturas, seres que se apresentam ao mesmo tempo como voz subjetiva e objeto imanente. Bernardo Oliveira (O Cafezinho)

J’ai conservé ce compact intriguant, puissant et original par les sonorités pour une chronique ultérieure  parmi tous ceux que Creative Sources m’avait gratifié « en masse » il y approximativement un an. Cette musique , on l’aura compris immédiatement par le label (CS) et les noms de deux de ses créateurs, le tromboniste Eduardo Chagas et le guitariste Abdul Moimême, relève de cette école portugaise « Creative Sources » (ou Potlatch en France et Another timbre en GB) sonore et relativement minimaliste post AMM qui se détache sensiblement du courant principal de la musique improvisée libre par plusieurs aspects. La contribution spécifique de Marco Scarassati avec ses sculptures sonores confère à cette Rumor bien nommée une singularité toute spéciale par la densité métallique et les vibrations remarquables de son dispositif. Par bonheur, il a su trouver chez ses compagnons des chercheurs de son le complément adéquat à sa propre proposition esthétique. Le piano travaillé principalement comme une sorte de boîte - carcasse vibratoire et résonnante des chocs, frottements et usages percussifs sur les cordes et des mécanismes par Gloria Damian et la guitare traitée et entourée / préparée d’objets (et d’effets) d’Abdul Moimême partagent une dynamique commune dans laquelle le trombone bruissant d’Eduardo Chagas s’insère à souhait avec une telle pertinence qu’il passe inaperçu en tant que trombone alors que les vibrations discrètes ou les bruissements établissent des correspondances subtiles et créent ce qu’on appelle la cerise sur le gâteau. Une performance aussi satisfaisante que celle de Radu Malfatti si celui-ci avait continué à jouer comme il jouait avant sa quête du silence « raducal ». Je pense aussi à cet effet d’harpe détraquée qui émane du piano en un instant de folie. Une belle variété de propositions sonores contribue à relancer adroitement l’intérêt de l’écoute tout au long des deux longues improvisations. Certains déplorent un (relatif ou certain) ennui à l’écoute d’enregistrements de ce type d’improvisation ou, du moins, de la catégorie dans laquelle tout un chacun les voudraient rangés. Ici les musiciens prouvent qu’ils n’ont pas d’idée toute faite, ou n’en donnent pas l’impression, mais explorent le potentiel que recèlent leurs instruments et objets avec conviction, énergie, subtilité… Rumor, en ce qui me concerne, fait partie de ces témoignages qu’on gardera dans un coin de l’étagère pour y revenir et s’y plonger avec délectation, en en découvrant encore une autre dimension qui nous avait échappé. Jean-Michel van Schouwburg (Orynx)