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Saigón cs371
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Apesar de os seus desenvolvimentos se terem realizado em paralelo, o jazz-funk-rock e o free jazz pouco partilharam de comum, a não ser talvez no período “Live-Evil” de Miles Davis, devido ao carácter de “jam” aberta que a música do trompetista tomou na altura – mesmo quando Teo Macero fez com ela o “corta-e-cola” que o celebrizou. Pois é a um cruzamento das características dessas duas correntes que se dedica o português Equinox Quartet neste “Saigón”. Os instrumentos eléctricos, designadamente o Fender Rhodes de Tiago Varela e a guitarra barítono de Guilherme Carmelo, transportam-nos para o universo milesiano, com o saxofone tenor de Paulo Alexandre Jorge e os “objectos” de Monsieur Trinité (trata-se, na verdade, de convencionais instrumentos de percussão, mas é com tal designação que o antigo parceiro de Carlos “Zíngaro” nos Plexus e colaborador de Sei Miguel e Ernesto Rodrigues marca a sua condição de “não-músico”) a desempenharem o que se espera da herança da new thing. Em consequência, o que o quarteto faz a partir da mesclagem de elementos dessas duas linhas idiomáticas bem definidas soa como algo de novo e de diferente tanto da música que continua as premissas da fusão como da que se auto-identifica como pós-free ou neo-free. E fá-lo assumindo todos os riscos da combinação, parecendo inclusive sublinhar os factores de desestabilização implicados. Aliás, o maior interesse do disco está nisso mesmo. E está ainda no modo como ironicamente se caricaturam determinados elementos de estilo, chegando ao extremo da auto-sabotagem, como certas erupções de sons do piano eléctrico, deflagrando em várias direcções à maneira de um Morton Feldman, e os fraseados aos solavancos do sax, parecendo ondas que se espraiam na areia e logo voltam para trás, assim contrariando a típica linearidade discursiva do jazz. Em suma, um disco muitíssimo curioso. Rui Eduardoo Paes (Jazz.pt) |