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Waterscapes cs405
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O nome de Blaise Siwula já será familiar aos fãs da música improvisada que se faz em Portugal, devido às suas parcerias com figuras como Sei Miguel, Ernesto Rodrigues, Manuel Mota e outros tantos. Isso se não for reconhecido de imediato pelo trabalho que desenvolveu com um elevado número de protagonistas do jazz criativo das últimas três décadas, de Cecil Taylor, Peter Kowald e Joe McPhee a Adam Lane, Theo Jorgensmann e Raoul Bjorkenheim. Volta agora a ter um parceiro português, desta feita o guitarrista Jorge Nuno, um músico da área do psicadelismo rock que vem entrando cada vez mais resolutamente nos territórios da improvisação. Se anteriores incursões deste membro do grupo Signs of the Sillhouette pela estética do momento, com parceiros como os irmãos Márcio e Yedo Gibson, Hernâni Faustino e Monsieur Trinité, resultaram em alguma da melhor música que se tem ouvido por estes dias no nosso país, já o mesmo não se poderá dizer deste “Waterscapes”. Siwula fecha-se nas suas próprias lógicas discursivas, construindo monólogo atrás de monólogo, e face a esse inexplicável e surpreendente catatonismo Nuno pouco faz (ou pouco pode fazer) para ir ao seu encontro. É como se ouvíssemos dois discos a solo em simultâneo. Cada um dos intervenientes oferece-nos algumas autênticas delícias (muito interessante, por exemplo, o modo como o norte-americano sustenta o seu som de sax soprano em Sidney Bechet), mas não há interacção, diálogo, cooperação, algo que nos deixe vislumbrar um factor comunicativo que seja nesta música. Gilles Deleuze sustentava que a arte «não é comunicativa, apenas criativa», mas não é disso que se trata. Qual será o motivo, então? Desconforto do “free jazzer” Siwula relativamente à linguagem rock de Nuno? Seja por isso ou não, este é um encontro discográfico falhado. Vejamos na próxima semana como funcionarão os concertos que Jorge Nuno tem agendados com Blaise Siwula. Haja esperança, pois este nosso visitante, quando quer, até sabe ouvir os outros. Rui Eduardo paes (Jazz.pt) |